Reabertura da China aumenta apetite de estrangeiros por mercados emergentes
Investidores internacionais quase R$ 30 bilhões na bolsa brasileira desde que governo chinês suspendeu política de Covid Zero
Guilherme Guilherme
Publicado em 2 de fevereiro de 2023 às 06h30.
Expectativas de reaceleração da China pelo abandono da política de Covid Zero tem levado investidores a dobrarem a aposta no mercado chinês. Mesmo com o início de ano marcado pela forte alta nas bolsas internacionais, o desempenho de seus principais índices é destaque mundial. O Hang Seng, de Hong Kong, subiu 11,58% neste início de ano, enquanto o MSCI China já saltou 12,26%.
A forte recuperação do mercado asiático teve início em novembro, quando o governo chinês abandonou sua política de Covid Zero em meio à onda de protestos em grandes cidades do país. Desde então, a bolsa de Hong Kong já disparou 50% e o MSCI China, 52%.
"O relaxamento das restrições chegou a um ponto sem volta", disse David Wang, economista-chefe do Credit Suisse para a China em evento recente realizado pelo banco. A projeção do Credit Suisse é de, com o menor controle de covid no país, a China cresça 5,1% neste ano ante a expansão de 3% resgistrada em 2022.
Bilhões em mercados emergentes
O maior otimismo para a China também tem aumentado o apetite de investidores por ativos relacionados aos mercado emergentes. Desde novembro, quando iniciaram as flexibilizações na China, o fluxo de investimentos para o ETF iShares MSCI Emerging Markets foi de US$ 2,36 bilhões, enquanto para o Vanguard FTSE Emerging Markets foi de US$ 1,74 bilhão.
Parte desse fluxo também direcionado ao Brasil, tendo em vista que a Vale está entre as maiores posições de ambos os ETFs, que também têm Petrobras e Itaú em seus top 50. Em investimentos diretos na bolsa brasileira, a entrada de estrangeiros no ano era R$ 11,195 bilhões até segunda-feira, 30. No acumulado dos últimos três, o o fluxo de capital externo na B3 está em R$ 29,336 bilhões, mesmo com a Ibovespa em leve queda desde o início de novembro.
No período, a bolsa brasileira só não explodiu de subir devido à venda de ações por fundos nacionais. Além da maior cautela com a com a dinâmica fiscal do país em relação ao investidor estrangeiro, a contínua migração para a renda fixa segue pressionando os gestores locais a venderem bolsa.
"Enquanto ficamos muito preocupados com política, com eleição, com esse tipo de coisa, o estrangeiro está vendo muito mais esse fluxo migrando de mercados desenvolvimento para emergentes. O fluxo de reabertura chinesa e o fortalecimento das commodities faz esse capital migrar de um mercado para o outro. Então países como Brasil e México também se beneficiam. É um fluxo generalizado", disse Victor Alcalay, analista da RPS Capital.
Efeitos econômicos da reabertura
Apesar do otimismo contagiante, analistas do Goldman Sachs avaliam que os efeitos da reabertura chinesa devem ter efeitos apenas "moderados" sobre as economias da América Latina. Isso porque a expectativa é de que a retomada da China seja puxada pelo consumo das famílias e pelo setor de serviços.
"A América Latina é mais beneficiada pelos investimentos em infraestrutura da China do que pelo consumo das famílias e de serviços", afirmou o relatório assinado por Alberto Ramos, diretor de Research para a América Latina do Goldman Sachs.
O principal impacto da retomada chinesa sobre a economia da região, disse o banco, será por meio de preços de commodities, principal produto de exportação da América Latina para a China. No caso do Brasil, minério e petróleo compõem cerca de 50% do que é exportado para a China. Entre as duas commodities, o petróleo que mais deve sentir os efeitos do aquecimento da China, segundo a RPS.
"Houve acúmulo de popupança durante a pandemia e acreditamos que a reabertura será mais puxada pelo setor de serviços e consumo do que pela infraestrutura. Então, o [mercado de] petróleo é o que mais deve se beneficiar", disse Alexandre Miguel, gestor da RPS.
No entanto, David Wang, do Credit Suisse, espera que os efeitos da retomada da economia chinesa sejam mais passageiros do que estruturais. "Essa recuperação da China, indo para um crescimento de 5% ou até mais, não é sustentável. É uma narrativa de um ano, de curto prazo. Então qualquer impulso inflacionário do lado das commodities devido à reabertura da China não será ago persistente, que irá durar até 2024 e em diante", alertou.