Queda do cupom cambial com leilão de swap limita ganho de bancos
Contratos conhecidos como cupom cambial caíram 53 pontos-base com a decisão do Banco Central de se posicionar contra o real no mercado futuro
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2011 às 06h54.
Brasília e Nova York - A queda recorde na taxas de empréstimos em dólar no mercado brasileiro está reduzindo a possibilidade dos bancos locais lucrarem com a diferença entre os juros no País e no exterior.
Contratos conhecidos como cupom cambial, uma medida do custo anual de empréstimo em dólares no Brasil, caíram 53 pontos-base, ou 0,53 ponto percentual, para 1,8 por cento em 14 de janeiro com a decisão do Banco Central de se posicionar contra o real no mercado futuro, numa tentativa de conter a valorização da moeda brasileira, que já dura dois anos. A taxa do contrato FRA com vencimento em janeiro de 2012 está 102 pontos-base acima da Libor em dólar de um ano, uma medida do custo de empréstimos interbancários nos mercados internacionais. O diferencial é o menor desde agosto.
O leilão do BC na sexta-feira de US$ 1 bilhão em swaps cambiais reversos foi o último movimento do governo para conter o avanço do real, enquanto países da Turquia ao Chile enfraquecem suas moedas no que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou de “guerra cambial” para proteger exportadores. O cupom cambial atingiu sua máxima em sete meses em 6 de janeiro, estimulando bancos a lucrar tomando empréstimos em dólares nos Estados Unidos e depositando os recursos no Brasil.
‘Efeito colateral’
“Eles estão mandando a mensagem de que farão o que for preciso para defender a taxa de câmbio”, disse Guilherme Figueiredo, que administra US$ 1,4 bilhão como diretor do M. Safra & Co. em São Paulo, em entrevista por telefone. “O efeito colateral, que também é do interesse deles, é trazer para baixo os juros em dólar. Reduzindo o cupom cambial, diminuem as oportunidades de arbitragem para pessoas trazendo dólares para o País.”
As assessorias de imprensa do Itaú Unibanco Holdings SA, Banco Santander SA e Banco Bradesco SA não quiseram comentar o assunto.
O real acumula uma alta de 41 por cento nos últimos dois anos, o que contribuiu para elevar o déficit anual em transações correntes do País para o valor recorde de US$ 49 bilhões. É a segunda maior valorização entre moedas de países emergentes, só perdendo para o rand sul-africano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O leilão de swaps cambiais reversos, o primeiro em 21 meses, veio depois de o governo aumentar o depósito compulsório sobre posições vendidas em dólares.
Taxação Triplicada
O governo publicou em 10 de janeiro uma medida que autorizou o fundo soberano a comprar dólares no mercado futuro e, em outubro, triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras sobre compra de títulos de renda fixa por investidores estrangeiros para tentar conter o ganho do real.
Mantega disse a jornalistas no dia 14 de janeiro que, se necessário, poderia adotar novas medidas cambiais até durante suas férias, nas próximas duas semanas.
“Nada impede que eu pegue o telefone e solte uma medida”, disse ele.
Nos swaps cambiais reversos o BC paga aos investidores os juros interbancários em reais, atualmente em 10,64 por cento, em troca de um rendimento fixo em dólares, ou cupom cambial. Foram vendidos todos os 20.000 contratos oferecidos no leilão de 14 de janeiro, com vencimentos entre abril e janeiro de 2012.
‘Outra Arma’
“Esta é outra arma que o governo sacou”, disse Marjorie Hernandez, estrategista de câmbio do HSBC Holdings Plc em Nova York, em entrevista por telefone. “Eles estão dispostos e aptos para intervir no mercado. A questão agora é com que frequência eles farão os leilões. US$ 1 bilhão não é suficiente”.
Figueiredo, do M. Safra, disse que tem uma “pequena posição” apostando que o real irá se desvalorizar com o governo tomando mais medidas, incluindo a imposição de um imposto sobre empresas domésticas tomando empréstimos no exterior, para enfraquecer a moeda.
“O mercado irá testar Mantega”, disse ele. “Mantega está aumentando as apostas”.
A taxa do Depósito Interfinanceiro de janeiro de 2012 subiu 18 pontos base na semana passada para 12,37 por cento, indicando que os operadores apostam que o BC vai elevar a Selic para 13 por cento até o final do ano. A taxa básica de juros nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão e na zona do euro não é maior que 1 por cento.
Enquanto as medidas do governo podem conter o câmbio em um nível perto de R$ 1,75 por dólar no curto prazo, a moeda irá se valorizar novamente porque os altos juros vão continuar atraindo investidores, disse Tony Volpon, um estrategista para América Latina no Nomura Securities, em Nova York.
“No médio prazo, boa parte das medidas será neutralizada pela alta da Selic”, disse ele em uma entrevista por telefone.