Privatização da Eletrobras: o que esperar das ações após aprovação no TCU
Analistas avaliam que decisão pode destravar valor para os papéis, que já são uma das maiores altas do Ibovespa no ano
Beatriz Quesada
Publicado em 18 de maio de 2022 às 18h53.
Última atualização em 24 de maio de 2022 às 19h35.
A privatização da Eletrobras (ELET3/ELET6) foi aprovada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em votação nesta quarta-feira, 18, abrindo caminho para que a companhia deixe de ser estatal.
A capitalização da Eletrobras será feita pela venda de ações ordinárias na bolsa de valores por parte da União, que desta forma, deve deixar de ser acionista majoritária da companhia. A privatização é avaliada em R$ 67 bilhões nos cálculos do governo.
A operação em si é bem vista pelo mercado e já está parcialmente precificada nas ações, que sobem 27% no ano – uma das maiores valorizações do Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira. Como comparação, o índice avança apenas 2% no mesmo período.
Ainda assim, analistas veem espaço para que a aprovação final no TCU destrave mais valor para a companhia. “Muita gente no mercado estava cética de que a operação seria aprovada, o que abre espaço para um rali após o aval do TCU”, comentou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
O processo estava no tribunal desde setembro de 2021. Em 15 de fevereiro, o TCU aprovou a primeira etapa da análise sobre a privatização da estatal, o que provocou boa parte das altas no papel. No entanto, a segunda etapa do julgamento no TCU, marcada para 20 de abril, foi adiada em 20 dias após pedido de vista do ministro Vital do Rêgo, jogando insegurança sobre o futuro da operação. Na votação de hoje, a capitalização da estatal foi aprovada por sete votos a um, sendo Vital do Rêgo o único voto contrário.
O adiamento colocou a oferta em um momento mais delicado de mercado, com a alta dos juros nos Estados Unidos derrubando as bolsas ao redor do mundo e deixando investidores mais cautelosos na hora de investir. A preocupação é que o ambiente de aversão a risco diminua o interesse pelo ativo e, consequentemente, derrube o preço da oferta.
Porém, Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, defende que o cenário adverso não deve impactar o interesse pela Eletrobras.
“A Eletrobras tem mais de 30% da capacidade instalada de geração do país, mais de 40% das linhas de transmissão. É um ativo nobre apesar do risco. Mesmo que o momento para a oferta não seja o ideal, vai ter demanda”, disse.
Vale lembrar que, embora não seja ideal, o calendário para a oferta ainda é melhor do que uma operação no final do ano. “Estamos em um dos piores momentos de 2022 para realizar uma oferta, mas não sabemos se o cenário vai piorar ainda mais nos próximos meses com as eleições”, argumentou Cruz.
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A Eletrobras é uma gigante do setor elétrico que, segundo analistas, pode ser um bom investimento mesmo sem privatização. Para analistas do banco americano Goldman Sachs, se a empresa permanecer estatal, o preço-alvo é de R$ 46 para as ações ordinárias (ELET3) e de R$ 51 para as preferenciais (ELET6). Porém, com a privatização, o preço-alvo para os papéis salta para o intervalo entre R$ 65 e R$ 67,6 para ELET3 e entre R$ 71,8 e R$ 74,6 para ELET6.
“Embora não faça parte de nossa visão, vemos a desestatização como um catalisador adicional significativo”, afirmaram os analistas em relatório do dia 11 de abril. O adicional citado pelos analistas é quase o dobro do atual valor patrimonial da empresa. Na avaliação do Goldman, a operação poderia destravar entre R$ 65 bilhões e R$ 70 bilhões em valor de mercado – para efeito de comparação, a Eletrobras atualmente é avaliada em torno de R$ 67 bilhões.
Arbetman, da Ativa, reforça que a privatização seria ideal para preservar o valor de mercado da Eletrobras a longo prazo. “O setor vem mudando até de forma rápida e existe um descompasso muito grande em termos operacionais, financeiros e qualitativos da companhia perante os pares. Vejo a transformação da estrutura societária como fundamental para que a Eletrobras esteja apta a navegar num setor cada vez mais competitivo”.