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Pressa de investidores faz otimismo com Brasil virar ansiedade

"O Brasil hoje não é um mercado barato. Tem que ser algo de muito longo prazo", disse Donald Gogel, presidente-executivo da Clayton, Dubilier & Rice LLC, gestora de fundos de private equity

Ivan Clarck, sócio líder de Capital Markets da PwC: 800 companhias tem interesse em abrir capital, mas precisam se preparar para isso (Marcel Salim/EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2011 às 17h49.

Rio de Janeiro - A expectativa de demora na solução de desequilíbrios econômicos globais e em melhoras estruturais locais, além do medo de um surto protecionista, estão transformando em ansiedade o otimismo com o Brasil por parte de empresários e representantes de governos reunidos no World Economic Forum (WEF).

Ao lado do clamor por reformas fiscais, trabalhistas e tributárias, sempre presentes em encontros promovidos pelo órgão privado com sede na Suíça, questões macroeconômicas estão emergindo, como reflexo da sede de países e empresas por aproveitar oportunidades num dos poucos mercados grandes no mundo que acenam com taxas de crescimento elevadas por vários anos.

A principal delas é o câmbio, em meio a política monetária frouxa dos EUA para tentar levantar a economia, que enfraquece o dólar e indiretamente encarece o Brasil.

"É uma ação legítima do governo americano, mas está afetando todo mundo. A economia do Brasil não pode suportar isso por mais dois, três anos", disse Frederico Curado, presidente da fabricante de aeronaves Embraer.

Mesmo quem aparentemente tem lucrado com esse movimento, como os produtores de commodities agrícolas, que têm subido fortemente em meio ao mix de dólar barato e demanda ascendente por alimentos, não se mostram muito à vontade.

"O câmbio só não nos fez perder mais competitividade porque os preços dos produtos subiram bastante", disse Roberto Rodrigues, diretor de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro da Agricultura. "Caso contrário, muita gente estaria quebrando." Segundo Rodrigues, o prazo para que os preços dessas matérias-primas recuem um pouco é também o de 2 a 3 anos. Enquanto isso, disse, é preciso avançar em acordos bilaterais de comércio, que protejam o país de medidas protecionistas de outros países.

Se a expectativa de câmbio apreciado por mais tempo assusta exportadores, por outro lado faz investidores internacionais enxergarem prazos cada vez mais longos para terem retorno de suas aplicações.

"O Brasil hoje não é um mercado barato. Tem que ser algo de muito longo prazo", disse Donald Gogel, presidente-executivo da Clayton, Dubilier & Rice LLC, gestora de fundos de private equity com cerca de 15 bilhões de dólares sob gestão.

Fosse apenas o câmbio e seria mais simples. Para muitos deles, as incertezas criadas com as respostas dadas por vários países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, aos desequilíbrios econômicos globais, também virou um fator de inquietação.

Com a moeda valorizada, fraquezas comuns a economias menos maduras, como a do Brasil, incluindo a persistente ameaça de inflação alta, elevados gastos públicos e infraestrutura deficitária, ficam mais a mostra.

Para combater a inflação, o governo brasileiro tem elevado o juro. Já o fez três vezes este ano. Mas isso convida ainda mais o capital estrangeiro, dobrando a pressão cambial.

"O Brasil tem um desafio que eu não invejo", disse uma alta autoridade de comércio do governo dos EUA, pedindo para não ser identificado.

Muito tem sido feito, diz o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. Segundo ele, o Brasil e outros países estão mostrando que têm a disciplina para tentar fazer a coisa certa", sacrificando eventualmente o crescimento de curto prazo para garantir a consistência no longo.

Mas em que vai dar a soma de desequilíbrios econômicos atuais na região? "Honestamente, eu não sei", respondeu.

Outro receio mencionado com recorrência é a lentidão governamental em destravar a burocracia para as obras de infraestrutura, situação mais grave no caso brasileiro, que sediará dois eventos esportivos mundiais ate 2016.

O excesso de regulação é o item que mais preocupa presidentes de empresas nas perspectivas para o Brasil, segundo uma pesquisa publicada nesta quinta-feira pela firma de auditoria PWC.

E qual é o resultado dessa soma de otimismo e incertezas? "Os interesses envolvidos no Brasil são tantos e tão grandes que as partes tendem a ser um pouco mais generosas para que os assuntos seja resolvidos", resumiu Roberto Teixeira da Costa, membro do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal).

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Rio de Janeiro - A expectativa de demora na solução de desequilíbrios econômicos globais e em melhoras estruturais locais, além do medo de um surto protecionista, estão transformando em ansiedade o otimismo com o Brasil por parte de empresários e representantes de governos reunidos no World Economic Forum (WEF).

Ao lado do clamor por reformas fiscais, trabalhistas e tributárias, sempre presentes em encontros promovidos pelo órgão privado com sede na Suíça, questões macroeconômicas estão emergindo, como reflexo da sede de países e empresas por aproveitar oportunidades num dos poucos mercados grandes no mundo que acenam com taxas de crescimento elevadas por vários anos.

A principal delas é o câmbio, em meio a política monetária frouxa dos EUA para tentar levantar a economia, que enfraquece o dólar e indiretamente encarece o Brasil.

"É uma ação legítima do governo americano, mas está afetando todo mundo. A economia do Brasil não pode suportar isso por mais dois, três anos", disse Frederico Curado, presidente da fabricante de aeronaves Embraer.

Mesmo quem aparentemente tem lucrado com esse movimento, como os produtores de commodities agrícolas, que têm subido fortemente em meio ao mix de dólar barato e demanda ascendente por alimentos, não se mostram muito à vontade.

"O câmbio só não nos fez perder mais competitividade porque os preços dos produtos subiram bastante", disse Roberto Rodrigues, diretor de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro da Agricultura. "Caso contrário, muita gente estaria quebrando." Segundo Rodrigues, o prazo para que os preços dessas matérias-primas recuem um pouco é também o de 2 a 3 anos. Enquanto isso, disse, é preciso avançar em acordos bilaterais de comércio, que protejam o país de medidas protecionistas de outros países.

Se a expectativa de câmbio apreciado por mais tempo assusta exportadores, por outro lado faz investidores internacionais enxergarem prazos cada vez mais longos para terem retorno de suas aplicações.

"O Brasil hoje não é um mercado barato. Tem que ser algo de muito longo prazo", disse Donald Gogel, presidente-executivo da Clayton, Dubilier & Rice LLC, gestora de fundos de private equity com cerca de 15 bilhões de dólares sob gestão.

Fosse apenas o câmbio e seria mais simples. Para muitos deles, as incertezas criadas com as respostas dadas por vários países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, aos desequilíbrios econômicos globais, também virou um fator de inquietação.

Com a moeda valorizada, fraquezas comuns a economias menos maduras, como a do Brasil, incluindo a persistente ameaça de inflação alta, elevados gastos públicos e infraestrutura deficitária, ficam mais a mostra.

Para combater a inflação, o governo brasileiro tem elevado o juro. Já o fez três vezes este ano. Mas isso convida ainda mais o capital estrangeiro, dobrando a pressão cambial.

"O Brasil tem um desafio que eu não invejo", disse uma alta autoridade de comércio do governo dos EUA, pedindo para não ser identificado.

Muito tem sido feito, diz o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. Segundo ele, o Brasil e outros países estão mostrando que têm a disciplina para tentar fazer a coisa certa", sacrificando eventualmente o crescimento de curto prazo para garantir a consistência no longo.

Mas em que vai dar a soma de desequilíbrios econômicos atuais na região? "Honestamente, eu não sei", respondeu.

Outro receio mencionado com recorrência é a lentidão governamental em destravar a burocracia para as obras de infraestrutura, situação mais grave no caso brasileiro, que sediará dois eventos esportivos mundiais ate 2016.

O excesso de regulação é o item que mais preocupa presidentes de empresas nas perspectivas para o Brasil, segundo uma pesquisa publicada nesta quinta-feira pela firma de auditoria PWC.

E qual é o resultado dessa soma de otimismo e incertezas? "Os interesses envolvidos no Brasil são tantos e tão grandes que as partes tendem a ser um pouco mais generosas para que os assuntos seja resolvidos", resumiu Roberto Teixeira da Costa, membro do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal).

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