Preço recorde do boi pressiona margem de frigorífico no Brasil
Apesar de boa perspectiva para exportações, consultor do Itaú BBA alerta para dificuldade da indústria em repassar custos mais elevados aos consumidores
Bloomberg
Publicado em 24 de novembro de 2020 às 19h05.
Última atualização em 24 de novembro de 2020 às 19h44.
O boom da carne bovina no Brasil já atingiu o pico, pelo menos em termos de rentabilidade.
As exportações estão fortes, lideradas pela China, enquanto o real desvalorizado favorece os embarques brasileiros. Mas a alta demanda também ajudou a reduzir a oferta de gado e a elevar os preços do boi gordo em 50% neste ano, para níveis recordes. Após ter aumentado preços, a indústria deve encontrar dificuldades para continuar repassando esses custos mais elevados aos consumidores brasileiros, pressionando as margens.
A oferta de animais para abate deve continuar baixa no próximo ano, mantendo os preços do gado em alta, segundo Cesar de Castro Alves, consultor de agronegócio do Itaú BBA.
Embora a forte demanda externa por carne bovina brasileira tenha ajudado a impulsionar os lucros de empresas como JBS e Marfrig neste ano, os custos recordes do gado já significam margens mais estreitas do que há um ano, disse Alves.
“O quadro é menos confortável, apesar da boa perspectiva para as exportações para a China”, disse ele em webinar na terça-feira. As margens nas vendas internas já estão negativas, o que significa que as empresas que dependem mais do mercado local estão pior do que os frigoríficos mais voltados para a exportação, segundo Alves.
A análise está em linha com comentários de Wesley Batista Filho, presidente das operações da JBS na América do Sul, que disse no início deste mês que o cenário para o negócio de carne bovina no Brasil é “desafiador” devido à oferta de gado restrita. No terceiro trimestre, as margens da JBS Brasil, que inclui a divisão de bovinos no país, caíram para 7,5% em comparação com 13,8% no trimestre anterior e 8,5% um ano antes. A empresa conseguiu compensar parcialmente os custos mais altos com aumentos de preços no Brasil e nos mercados de exportação.
Nos próximos meses, as empresas de carne bovina podem enfrentar dificuldades para aumentar os preços domésticos devido ao ambiente econômico difícil no país. Neste ano, o auxílio emergencial do governo segurou as vendas de alimentos em meio à crise do coronavírus, mas a ajuda pode ser reduzida ou terminar no próximo ano.