Populistas no poder tendem a favorecer ações, mostra estudo
Pesquisa revela que os rendimentos dos títulos registraram uma mediana de queda de 12,7% dois anos depois de populistas assumirem o poder
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2017 às 17h15.
Frankfurt - O trading da era Trump não é uma anomalia quando se analisa altas anteriores do mercado depois da chegada de populistas ao poder, de acordo com a Universidade de Bonn.
Moritz Schularick, professor de Economia da instituição alemã, afirmou em uma conferência em Frankfurt na terça-feira que seu estudo de 27 episódios comparáveis no último século mostra que as ações e, em menor grau, os títulos tendem a se beneficiar.
Sua pesquisa abarca da ascensão política de Juan Perón nos anos 1940 na Argentina à eleição do atual presidente dos EUA, Donald Trump, passando por três vitórias de Silvio Berlusconi na Itália.
“É surpreendente que haja poucas evidências de que os populistas são ruins para os mercados”, disse Schularick no evento organizado pela Associação Europeia de História Bancária e Financeira e pela Allianz Global Investors. “Muitas vezes, parece ocorrer o contrário.”
Schularick define como populistas os políticos carismáticos e confrontadores que alegam falar em nome “do povo” contra as elites, frequentemente em busca de políticas protecionistas e nacionalistas.
Sua pesquisa revela que os rendimentos dos títulos registraram uma mediana de queda de 12,7 por cento dois anos depois de esses indivíduos assumirem o poder.
Cinco anos mais tarde, as ações registraram uma mediana de ganho de 45 por cento, e normalmente as notas soberanas melhoraram e as moedas se valorizaram.
Os resultados não mudam drasticamente se o líder contrário ao establishment veio da esquerda ou da direita.
“Os mercados parecem gostar um pouco mais dos populistas de direita”, disse Schularick. “Mas os populistas de esquerda não representam um sinal de alerta para os mercados.”
Ao contrário do que dizem alguns populistas antes de chegarem ao poder, o que é bom para os mercados não necessariamente acaba sendo ruim para o povo, diz ele.
Sua pesquisa mostra que após cinco anos de governo populista, o PIB registra uma mediana de aumento de 1,8 por cento, e tanto o investimento quanto os gastos crescem em proporção à economia.
Essas conclusões vão de encontro ao conhecimento transmitido pelos economistas, identificado por Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards em um ensaio de 1991 sobre “a macroeconomia do populismo”: “As políticas populistas acabam fracassando; e, quando elas fracassam, sempre há um custo assustador para os mesmos grupos que supostamente seriam favorecidos”.
Schularick sugere alguns motivos para o improvável sucesso das políticas populistas: rebeldes contrários ao establishment normalmente chegam ao poder após uma crise e, por isso, colhem os frutos de uma alta tardia; protecionismo, desvalorizações competitivas e gastos públicos costumam favorecer as companhias nacionais, o que dá um impulso ao mercado de ações local; e algumas das políticas, como o investimento público em uma crise, simplesmente funcionam.
No entanto, alguns aspectos do sucesso dos populistas são muito mais sinistros.
Aqueles do lado direito do espectro político oferecem bodes expiatórios convenientes em épocas em que, de outro modo, a ira contra as elites poderia acabar levando à redistribuição do capital — e a confiança empresarial aumenta por causa disso, diz Schularick.
“Os mercados costumam supor que, do ponto de vista da cidadania, trata-se de algo perigoso”, disse ele. “Mas os políticos tradicionais deveriam voltar a analisar as políticas populistas relativas ao investimento e aos gastos públicos.”