Petróleo, greve, juros, China: a leva de incertezas na bolsa
Os ataques à Arábia Saudita puxam a fila de eventos que podem mudar as perspectivas de investidores nos próximos dias
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2019 às 06h47.
Última atualização em 16 de setembro de 2019 às 07h12.
São Paulo — Semana que vai, semana que vem. As principais bolsas mundiais fecharam em alta a semana passada com boas perspectivas de uma nova rodada de negociações comerciais entre China e Estados Unidos e com o adiamento de um nova leva de taxas a produtos chineses prevista para entrar em vigor em primeiro de outubro.
Além disso, o Banco Central Europeu reduziu em mais 0,1 ponto percentual a taxa de juros e anunciou um pacote de estímulo à economia. O Ibovespa teve sua terceira semana de alta, aproximando-se mais uma vez de seu recorde nominal.
Para esta semana, as atenções estão voltadas principalmente para as reuniões que definirão a nova taxa de juros nos Estados Unidos e também no Brasil, no dia 18 (Japão e Reino Unido definem suas taxas no dia 19). A perspectiva é de novos cortes tanto no Brasil quanto nos EUA — ou pelo menos, este era o cenário antes de um fim de semana abarrotado de notícias que trouxeram novas incertezas para o tabuleiro global.
O principal evento com consequências ainda incalculáveis vem do Oriente Médio, onde um ataque a drones na Arábia Saudita fez o governo de Donald Trump culpar diretamente o Irã. Trump vai responder com vigor, elevando o risco de uma guerra na região e forçando um evento com consequência eleitorais imprevisíveis? Ou vai deixar a reação para a Arábia Saudita, o que alteraria o jogo de forças políticas no Oriente Médio? O evento pega Trump sem seu conselheiro de segurança nacional, John Bolton, demitido na semana passada justamente por divergências em relação ao Irã — Bolton era contra gestos de aproximação com os persas.
Os sauditas, por sua vez, vão levar adiante o plano de abrir capital da Saudi Aramco, a estatal de petróleo do país? O adiamento do maior IPO do ano pode aumentar o clima de ressaca nas bolsas americanas, que vivem um 2019 apático após anos de anos na gestão Trump.
“A alta do petróleo no domingo certamente impactará a inflação nos Estados Unidos, que já está acima de 2%, e tornará o corte de juros ainda mais arriscado, caso venha mesmo a ocorrer”, diz Marcelo López, gestor de carteiras e fundos da gestora L2 Capital Parners.
O presidente americano também terá que lidar, nesta segunda-feira, com uma greve nacional de funcionários da montadora General Motors, a maior para o setor automotivo no país em uma década. Mais de 40 mil trabalhadores pedem maiores salários e protestam contra o fechamento de fábricas no país, uma consequência das mudanças na logística industrial do mundo contra a qual Trump tenta duelar na base de canetadas.
Para complicar a rodada de notícias ruins, a China anunciou nesta segunda-feira que sua produção industrial cresceu apenas 4,4% em agosto, ante 4,8% em julho e bem abaixo dos 5,2% previstos. O varejo cresceu 7,5%, também abaixo da previsão de 7,9%.
Em outubro o país comemora os 70 anos da revolução comunista, e não está claro para analistas se a data será oportunidade de uma nova leva de estímulos ou se servirá de deixa para uma redução na produção industrial visando dissipar a poluição nas grandes cidades chinesas.