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Os bons ventos da infraestrutura

Thais Folego Se o mercado vive de expectativas, para as companhias de infraestrutura elas são a essência do negócio. Sem previsão de crescimento econômico, projetos de longo prazo não saem do papel. Por isso a combinação de queda da taxa básica de juros, expectativa de crescimento econômico e a realização de um programa de concessões […]

AEROPORTO: com o leilão, o governo arrecadará 1,46 bilhão de reais na assinatura dos contratos, um ágio de 93,75% / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

AEROPORTO: com o leilão, o governo arrecadará 1,46 bilhão de reais na assinatura dos contratos, um ágio de 93,75% / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 14 de março de 2017 às 12h19.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h20.

Thais Folego

Se o mercado vive de expectativas, para as companhias de infraestrutura elas são a essência do negócio. Sem previsão de crescimento econômico, projetos de longo prazo não saem do papel. Por isso a combinação de queda da taxa básica de juros, expectativa de crescimento econômico e a realização de um programa de concessões para a iniciativa privada desenha um cenário ideal para as ações de empresas de infraestrutura. Os papéis de companhias que operam rodovias e ferrovias despontaram neste início de ano, e ainda têm espaço para subir mais.

“Os papéis de infraestrutura vão continuar subindo enquanto o cenário econômico continuar melhorando”, diz Bruno Amorim, analista do Santander. Enquanto o Ibovespa mostrou valorização de 3% em fevereiro, a ação da empresa de logística Rumo ganhou 14% e as concessionárias de rodovias CCR e Ecorodovias subiram 17% e 8%, respectivamente.

Essas empresas são sensíveis ao comportamento da taxa de juros, basicamente por dois motivos. Primeiro, porque elas têm fluxos de caixa longos, que quando trazidos a valor presente passam a valer mais à medida que a taxa de juros cai. “O fluxo de receitas dessas empresas funcionam como um título prefixado, por isso a queda da Selic gera um valor tremendo para elas”, afirma Daniel Ustch, gestor de renda variável da Fator Administração de Recursos (FAR). A segunda razão é que essas companhias são bastante endividadas, então juros menores reduzem as despesas financeiras.

O Banco Central cortou a Selic no fim de fevereiro pela segunda vez neste ano. A taxa básica de juros caiu para 12,25% ao ano e o mercado espera que ela termine 2017 em 9,50%, uma queda significativa se comparada aos 13,75% do início do ano. Há quem vá além: o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, colunista de EXAME Hoje, acredita que a taxa pode chegar a 8% no fim do ano. Tudo isso levou a um recuo dos juros futuros, que agora refletem uma chance de 40% de um corte de 1 ponto percentual da Selic em abril, ante um ritmo de queda de 0,75 ponto que vinha sendo praticado.

Bruna Pezzin, analista da XP Investimentos, observa que muitas das melhoras ainda não são visíveis, como demonstrado na divulgação de resultados do quarto trimestre da Ecorodovias. A companhia reportou queda de tráfego de 4,5% no período final de 2016, na comparação anual. “O transporte comercial é muito correlacionado com a atividade industrial; e o de passeio, à disponibilidade de renda”, diz a analista, que espera uma melhora do tráfego a partir do segundo semestre, quando a atividade econômica deve começar a se aquecer.

Outra boa notícia para o setor é o programa de concessões para a iniciativa privada que o governo vem anunciando. “Há uma intenção clara do governo de aumentar os investimentos via infraestrutura”, afirma Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos. Ele cita o leilão dos aeroportos de Florianópolis, Porto Alegre, Salvador e Fortaleza, marcado para o dia 16 de março. O valor mínimo que as empresas interessadas terão que pagar ao governo pelo direito de explorar os quatro aeroportos é de 3 bilhões de reais e o investimento mínimo a ser feito é de 6,6 bilhões de reais durante o prazo de concessão, que é de até 30 anos. Ainda é esperado para este ano leilão do Porto de Santarém, no Pará, que foi adiado no ano passado, a licitação de blocos de petróleo em setembro e concessões de rodovias e ferrovias ao longo do ano.

Cada notícia nova sobre esses leilões dá um novo gás às ações das empresas. A ação da Ecorodovias, por exemplo, subiu mais de 4% em 22 de fevereiro, dia em que divulgou os resultados do quarto trimestre e também apresentou proposta para a licitação do lote “Rodovias Centro-Oeste Paulista”, com 574 quilômetros de rodovias que cortam o Estado de São Paulo. Neste lote, a companhia tem apenas um concorrente, um fundo de investimento do Pátria, que também apresentou a documentação para o certame. Segundo Ustch, da Fator, a companhia tem interesse em vender sua operação portuária e qualquer novidade sobre o assunto deve movimentar a ação.

Hora de investir

As empresas prepararam sua estrutura de capital para aproveitar essa virada de cenário. A CCR acabou de captar 4 bilhões de reais, por meio de uma oferta pública de ações, com o objetivo de financiar uma nova rodada de investimentos. A companhia tem interesse em fazer obras de 3,5 bilhões de reais na rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, em troca da extensão do prazo de concessão da rodovia, que termina em 2021.

Já a Rumo fez uma grande reestruturação no ano passado, que contou com o alongamento da dívida, um aporte de 2,6 bilhões de reais em capital e a liberação pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de uma linha de financiamento de 3,5 bilhões de reais. A companhia quer renovar o contrato para explorar a Malha Paulista, concessão ferroviária que corta o Estado de São Paulo e leva a produção de grãos para o Porto de Santos. A proposta da Rumo ao governo é antecipar a renovação da concessão, que termina em 2028, para explora-la por mais 30 anos e, em contrapartida, fazer um investimento de 4,7 bilhões de reais na malha.

“As empresas estão bem capitalizadas para entrar nos projetos”, diz Pereira, da Guide. Ele observa que as ações da Rumo também tem sido beneficiadas pela expectativa de safras agrícolas recordes este ano. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima um aumento de 30% na produção de milho para a safra de 2016/2017, ante a safra anterior, atingindo a marca recorde de 87,4 milhões de toneladas. Para soja, a expectativa é de crescimento de 10% da produção, para 105,6 milhões de toneladas. “O crescimento do volume de transporte de grãos já assegura um resultado operacional melhor para a empresa, que no ano passado enfrentou uma quebra na safra do milho, com queda de 45% da produção”, afirma Pezzin, da XP. A companhia, inclusive, aumentou a meta para o lucro operacional em 30% para este ano, para um intervalo entre 2,6 bilhões a 2,8 bilhões de reais.

Os prognósticos para o setor na bolsa são bons, mas como todo investimento envolve riscos. Para o gestor da Fator, há o risco de a taxa de juros não cair no ritmo e na proporção que o mercado espera. Como a queda da Selic já está incorporada ao preço das ações, uma surpresa neste sentido provocaria uma derrocada. O risco regulatório também pode pesar sobre o setor caso a postura amigável do governo seja revertida. Um arrefecimento das expectativas da economia, e até um aumento na turbulência política, também joga contra. Assim como leilões abaixo do previsto: nesta quinta-feira, quatro aeroportos vão a leilão – e o apetite dos investidores pode ditar o humor do mercado para os próximos meses.

Entre os dias primeiro e 14 de março, enquanto a bolsa caiu 2%, a CCR encolheu 3,5%, e a Ecorodovias, 5%. A viagem é promissora, mas está cheia de buracos pelo caminho.

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