Os 10 países mais caloteiros, segundo a Moody's
Agência listou todos os países que pediram moratória entre 1983, quando a agência começou a avaliar notas soberanas, e 2012
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2012 às 11h23.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h20.
São Paulo - A agência de classificação de risco Moody's divulgou seu oitavo relatório anual de classificação de crédito. Entre os 110 países avaliados, o governo da Grécia foi o único a decretar a moratória de seus títulos no período 2011-2012. O relatório faz uma análise da economia mundial entre 1983 e 2012 – ano em que começou a fazer a classificação soberana – e dos 114 avaliados neste período. A agência destaca que neste ano a crise financeira global continuou exercendo pressão , alterando a distribuição das classificações e aumentando a parcela de países na camada inferior do rating. Entre as economias desenvolvidas, no período de 2006 a 2012, diminuiu número de nações classificadas com o Aaa e com o AA, e aumentou as classificadas como grau especulativo. Já entre as nações emergentes, o processo foi inverso. Mais países receberam o Aa ou foram classificados entre A e Baa, dessa forma diminuindo a porcentagem em grau especulativo. O relatório traz também um levantamento histórico dos maiores calotes desde 1983. Até 1998, nenhum país avaliado pela agência pediu moratória. Entre 1998 e 1999, no entanto, Rússia, Paquistão, Ucrânia, Venezuela e Equador. Na década seguinte, outros 8 países não honraram as suas dívidas, sendo o maior calote dado pela Argentina em 2001, de 82 bilhões de dólares. Clique nas fotos para ver os 10 maiores calotes registrados pela Moody’s.
A inadimplência grega ocorreu no contexto da crise financeira europeia e durante o quinto ano de recessão econômica. Apesar do enorme programa de resposta da União Europeia e do FMI, o apoio de liquidez e programas de ajuste econômico foram insuficientes para proteger a Grécia do calote. No dia 24 de fevereiro de 2012, o país anunciou uma proposta de troca da dívida afetando títulos do governo, títulos de governos estrangeiros e outros que haviam sido emitidos por empresas estatais e garantidos pelo governo. A troca foi fechada em 8 de março e envolveu 177 bilhões de euros em dívidas do governo. Mesmo com a negociação, os encargos da dívida grega continuam enormes e o risco de uma inadimplência ainda maior permanece alto. Os prejuízos assumidos pelos investidores chegaram a 70%.
Em novembro de 2001, o país declarou que não iria pagar a dívida externa que venceria em 3 de janeiro de 2002. Três fatores levaram ao calote. Primeiro, em 1989 o presidente Carlos Menem atrelou o peso argentino ao dólar para se favorecer na concorrência. Mas, quando o plano real desvalorizou a moeda brasileira, os investidores argentinos migraram para o país vizinho, acreditando que seus dólares teriam maior poder de compra. Como resultado, os investimentos e exportações argentinos secaram. Em segundo lugar, o governo Menem acumulou uma grande quantidade de dívidas, nacionais e internacionais, elevando a taxas de juros. Isso forçou o fechamento de muitas empresas, aumentando o desemprego. Os preços de serviços básicos, como energia e telefonia, ficaram mais altos e a recessão argentina piorava constantemente. Para completar, O FMI se negou a socorrer a Argentina , adiantando um empréstimo previamente acordado. Como resultado desses 3 fatores, entre dezembro e janeiro de 2001, a população argentina correu aos bancos para trocar pesos por dólares, enquanto a cotação ainda era de 1 para 1. Depois de longas negociações com seus credores, o perdão da dívida argentina ficou em 65%.
Uma queda significativa dos preços do petróleo no final de 1997 e início de 1998 levou a sérias limitações de exportações. Esse declínio reduziu significativamente a receita do orçamento federal, enquanto a emissão de títulos de curto prazo Russian T-bill cresceu rapidamente. Diante do alto custo do serviço da dívida interna (quase 5% do PIB em 1996), o governo acelerou a liberalização do mercado de dívidas do governo e as restrições à participação de estrangeiros foram gradualmente sendo reduzidas e depois eliminadas no início de 1998. O mercado russo se beneficiou com a taxa de juros de curto prazo, atingindo seu piso histórico de 13% em agosto de 1997, época em que a inflação de preços ao consumidor estava em um 15% anual. Com as economias do leste asiático em crise, os estrangeiros decidiram retirar dinheiro do mercado russo de dívidas do governo, como evidenciado por uma redução de quase 1 bilhão de dólares em reservas de moeda estrangeira por semana. A incerteza sobre o empréstimo de emergência de julho 1998 do FMI também resultou em grandes oscilações nos fluxos estrangeiros. O empréstimo do Fundo foi concebido para aumentar a confiança. No entanto, a Rússia suspendeu primeiro os pagamentos do Tesouro em moeda local e, posteriormente, descumpriu as suas obrigações em moeda estrangeira que foram emitidos localmente, mas eram de investidores estrangeiros.
A Jamaica completou uma negociação da dívida interna em fevereiro de 2010, a fim de reduzir o fardo que a dívida estava colocando nas finanças públicas. O custo do serviço da dívida do país foi estimado em mais de 55% das receitas do governo central e 16% do PIB. O crescimento do PIB estava em média a 1% ao ano antes de pedir moratória. A negociação da dívida não envolveu a dívida externa, mas incluiu todo o estoque da dívida interna, no valor de cerca de 60% do PIB ou 700 bilhões de dólares jamaicanos. Após o término das negociações, em março de 2010, o rating dos títulos governo foi atualizado para o B3, equilibrando o alívio fiscal e as vulnerabilidades econômicas e financeiras. O encargo da dívida jamaicana manteve-se relativamente alto: dívida/ PIB em 113% e pagamentos de juros/receita em 42%, em 2011.
Em 1º de outubro de 1999, o Equador oficialmente suspendeu o pagamento de quase metade dos juros devidos sobre seus títulos Brady (títulos da dívida externa renegociada). No final do mês, a classificação do país, que estava em B3, foi rebaixada para Caa2 para as dívidas em moeda estrangeira e para Caa1 para as dívidas em moeda local, indicando a expectativa de perdas significativas nos títulos inadimplentes. Os EUA e o FMI apoiaram publicamente os esforços do Equador para reestruturar sua dívida de 13 bilhões de dólares. Quase metade dessa dívida era na forma de títulos Brady. Com o apoio dos EUA, o Equador renegociou sua dívida de 1 bilhão de dólares com o Clube de Paris de nações credoras e conseguiu reestruturar mais de 98% dos títulos em novos títulos. O país também pediu moratória em sua dívida interna ao mudar unilateralmente as taxas de juros dos títulos nacionais.
Até maio de 2002, o Uruguai era classificado como grau de investimento (Baa3). No entanto, a grave crise financeira na Argentina levou o Uruguai a também ter problemas de dívidas. A dívida paraguaia aumentou para 100% do PIB, cerca de 11 bilhões de dólares, com uma quantidade significativa de títulos com vencimento em 2003 e 2004. Para ajudar a restaurar a sustentabilidade da dívida, o governo iniciou a negociação da dívida com o objetivo de alongar o prazo médio de vencimento dos títulos sem redução do principal. A troca da dívida foi completada em pouco tempo, e a média das taxas de participação ficou em 93%. A reestruturação da dívida envolveu 3 componentes: um internacional, cobrindo principalmente títulos emitidos na Europa e nos EUA (cerca de 3,6 bilhões de dólares), um japonês, cobrindo títulos Samurai valendo 250 milhões de dólares, e um componente interno, abrangendo títulos em moeda nacional (cerca de 1,6 bilhões de dólares). Como resultado da extensão do prazo, sem qualquer redução principal, a Moody’s classificou a oferta de troca da dívida como uma inadimplência.
Em 7 de setembro de 2000, o presidente peruano Alberto Fujimori decidiu que o páis não pagaria 80 milhões de dólares em juros em quatro de seus títulos Brady. O Peru vinha tentando renegociar seus empréstimos comerciais com o fundo Elliott, especializado em dívidas soberanas. O país tinha oferecido uma proposta para reestruturar a dívida comercial em títulos Brady, mas o credor recusou. Além disso, o fundo entrou com uma ação contra o governo do presidente Alberto Fujimori e um juiz americano concedeu uma liminar autorizando o Elliot a anexar quaisquer ativos financeiros do governo peruano nos EUA. Após 4 semanas de tensas negociações que falharam em encontrar um depósito seguro para os 80 milhões de dólares, o Peru resolveu a disputa com o fundo com um pagamento de vários milhões de dólares. Este acordo permitiu que o governo peruano fizesse os pagamentos de juros por meio de seu agente fiscal nos EUA. O pagamento foi feito em 4 de outubro e assim a inadimplência foi completamente paga em seu período de carência.
Em novembro de 2008, o Equador anunciou que não honraria seus pagamentos de títulos globais devidos para 2012 e 2030, após uma auditoria ter declarado essas dívidas como ilegais e ilegítimas. A decisão do governo em dar o calote foi baseada em razões políticas e ideológicas e não estava relacionada com problemas de liquidez e de solvência. A inadimplência ocorreu em uma situação de relativa força macroeconômica, apesar da recente desaceleração nos preços das commodities. Quando fez o anúncio, a relação dívida/PIB estava em 23%, bem abaixo dos 85% durante o calote anterior em 1999.
O país continuou a pagar os títulos para 2015. Em maio de 2009, o governo anunciou um plano de reestruturação que incluía um perdão de 65% sobre o valor da dívida. Em seguida, o Equador comprou de volta 91% dos títulos estrangeiros inadimplentes.
O país continuou a pagar os títulos para 2015. Em maio de 2009, o governo anunciou um plano de reestruturação que incluía um perdão de 65% sobre o valor da dívida. Em seguida, o Equador comprou de volta 91% dos títulos estrangeiros inadimplentes.
A crise de pagamentos de 1998 foi exacerbada com as sanções internacionais sofridas pelo Paquistão após a detonação de um dispositivo nuclear. O Paquistão procurou um novo acordo com o FMI e também uma reestruturação de suas dívidas bilaterais com o clube de credores Clube de Paris. Mas mesmo durante estas negociações o governo estava constantemente atrasado nos pagamentos de sua dívida bilateral e parte da multilateral. Em uma tentativa de socorrer credores privados, os credores bilaterais oficiais do país impuseram condições para o país antes de conceder uma reestruturação no Club de Paris. Ou seja, eles exigiram que o Paquistão obtivesse um refinanciamento da dívida de vários anos com credores privados. Após concordar com estas condições, o Clube remarcou em março de 1999 uma dívida de 3,25 bilhões de dólares para 18 anos, com carência de 3 anos. O acordo com o Clube, em 1999, não foi totalmente implementado porque o Paquistão falhou em cumprir seu outro acordo com o FMI. Entretanto, programas subsequentes do FMI obtiveram melhores resultados. Um novo acordo com o Clube foi feito em janeiro de 2001 e reestruturou 1,75 bilhão de dólares em dívidas e pagamentos atrasados em termos extremamente favoráveis.
A República Dominicana deixou de fazer um pagamento de título em janeiro de 2004, mas efetuou o acerto nos 30 dias de carência.
Depois de outros pagamentos de juros atrasados no ano seguinte, em abril de 2005, o país propôs uma renegociação da dívida para os investidores que estenderia os prazos de vencimento em seus dois títulos em moeda estrangeira e adiar seus pagamentos de juros em dois anos. Em maio de 2005, cerca de 95% dos investidores dos títulos com vencimento em 2006 e outro com vencimento em 2013 concordaram em estender as datas de vencimento por mais 5 anos na taxa do cupom original e aceitaram o pagamento em mercadoria no lugar de todos os juros com vencimento em 2005 e metade dos juros com vencimento em 2006. A Moody’s classifica o caso da República Dominicana como calote porque tanto a prorrogação do prazo e quanto o adiamento dos juros foram necessários para evitar a inadimplência total. Além disso, os termos dos novos títulos (mantendo a taxa do cupom original) não foram suficientemente atraentes para atrair novos investidores.
Depois de outros pagamentos de juros atrasados no ano seguinte, em abril de 2005, o país propôs uma renegociação da dívida para os investidores que estenderia os prazos de vencimento em seus dois títulos em moeda estrangeira e adiar seus pagamentos de juros em dois anos. Em maio de 2005, cerca de 95% dos investidores dos títulos com vencimento em 2006 e outro com vencimento em 2013 concordaram em estender as datas de vencimento por mais 5 anos na taxa do cupom original e aceitaram o pagamento em mercadoria no lugar de todos os juros com vencimento em 2005 e metade dos juros com vencimento em 2006. A Moody’s classifica o caso da República Dominicana como calote porque tanto a prorrogação do prazo e quanto o adiamento dos juros foram necessários para evitar a inadimplência total. Além disso, os termos dos novos títulos (mantendo a taxa do cupom original) não foram suficientemente atraentes para atrair novos investidores.