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Ofertas de ações revelam apetite estrangeiro por bolsa no Brasil

Ofertas de ações de empresas brasileiras neste ano levantaram cerca de R$ 57 bilhões no total, 131% a mais do que o mesmo período no ano passado

Ofertas de ações de empresas brasileiras neste ano levantaram cerca de R$ 57 bilhões. (Busakorn Pongparnit/Getty Images)
TL

Tais Laporta

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 07h30.

Última atualização em 22 de agosto de 2019 às 07h30.

Na bolsa brasileira, os investidores estrangeiros têm saído por uma porta, mas entrado por outra: a das ofertas de ações .

Segundo a JGP, uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, o saldo de investimento estrangeiro para ações brasileiras – que está negativo no acumulado do ano – na verdade ficaria positivo contabilizando a participação de estrangeiros em ofertas de ações. O total do investimento estrangeiro na bolsa ficaria positivo em mais de R$ 15 bilhões até 31 de julho por esse critério, estimou a gestora em sua última carta mensal a clientes.

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“O estrangeiro tem participado das ofertas para tentar se alocar”, disse David Beker, estrategista de ações para América Latina do Bank of America Merrill Lynch. “Esse movimento está apenas começando.”

Os investidores estrangeiros estão se aproveitando do maior volume de ofertas de ações em quase dez anos, com a colocação à venda, pelo governo, de uma série de grandes participações em algumas das maiores empresas brasileiras.

As ofertas de ações de empresas brasileiras neste ano levantaram cerca de R$ 57 bilhões no total, 131% a mais do que o mesmo período no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg, que também incluem listagens fora do Brasil. Apenas em julho, o volume totalizou cerca de R$ 23 bilhões, com fatias que o governo possuía em companhias como a Petrobras e BR Distribuidora liderando a leva de transações.

“Por meio dessas ofertas, os estrangeiros conseguem comprar um lote grande da empresa, sem pressionar a cotação e geralmente com algum desconto em relação ao preço de tela”, disse Bruno Garcia, diretor de investimentos da Truxt Investimentos, que tem cerca de R$ 11,5 bilhões em ativos sob gestão.

O índice Ibovespa acumula alta de 17% em dólares desde agosto, impulsionado por expectativas de que a agenda de reformas avançaria sob a administração do presidente Jair Bolsonaro, abrindo o caminho para uma aguardada recuperação da maior economia da América Latina.

Se, por um lado, uma reforma da Previdência relativamente robusta foi aprovada pela Câmara dos Deputados, por outro o crescimento econômico tem desapontado. Projeções para a economia brasileira neste ano têm sido constantemente revisadas para baixo e economistas atualmente veem o PIB de 2019 desacelerar para cerca de 0,8%, de 1,1% no ano passado.

De acordo com dados compilados pela B3, que contabiliza apenas o mercado à vista e exclui ofertas de ações, os investidores estrangeiros já retiraram cerca de R$ 19,5 bilhões da bolsa brasileira neste ano até 19 de agosto. O número já superou o total do ano passado, quando houve a maior saída de capital externo desde a crise financeira global em 2008.

Uma pressão mais ampla sobre ativos de mercados emergentes é responsável por boa parte dessas saídas, de acordo com Christian Keleti, sócio-fundador da Alpha Key Capital Management e ex-veterano de ações do Credit Suisse.

O Brasil representa cerca de 8% do maior ETF de ações emergentes, o iShares Code MSCI Emerging Markets ETF, conhecido como IEMG. Esse fundo, junto com outros ETFs de países desenvolvidas, tem sofrido retiradas com a aceleração de uma venda generalizada de ativos de risco, em meio a preocupações com a desaceleração global. As saídas desse ETF totalizaram US$ 11,4 bilhões nas últimas seis semanas, reduzindo o saldo positivo no ano para US$ 1,02 bilhão.

“Quando o investidor estrangeiro vende China por meio da exposição de ETF com a visão de que a China vai desacelerar, ele acaba vendendo Brasil junto”, disse Keleti.

A expectativa de gestores locais é de que o entusiasmo dos investidores estrangeiros aumente conforme o crescimento se recupere, mais para o fim do ano. “Se eles esperarem, vão pagar mais caro, mas com um risco bem menor”, disse João Braga, co-chefe dos fundos de ação da XP Asset Management em um evento no escritório da Bloomberg em agosto.

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