Odebrecht sobe em dívida com projetos de US$ 34 bi
Os títulos em dólar da empresa com sede em Salvador com vencimento em 2023 deram uma rentabilidade de 7,3% neste ano
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2012 às 08h19.
Nova York - A Odebrecht SA tem batido seus concorrentes no mercado de dívida com apostas de que a carteira recorde de obras da companhia, de US$ 34 bilhões, vai anular os efeitos da desaceleração global.
Os títulos em dólar da empresa com sede em Salvador com vencimento em 2023 deram uma rentabilidade de 7,3 por cento este ano, comparados à média de 3,9 por cento para os títulos emitidos por empresas mundiais, da Mitsubishi Corp. à Alcoa Inc., segundo dados apurados pela Bloomberg e pelo Bank of America Corp.
Os investidores estão se voltando para a Odebrecht diante do agravamento da crise financeira na Europa, que fez o Banco Mundial reduzir sua expectativa de crescimento global este ano. Enquanto a Odebrecht vai se beneficiar dos investimentos de R$ 401 bilhões na infraestrutura brasileira estimados para o período entre 2012 e 2015, 63 por cento de seus contratos vêm de projetos de países como Peru, Panamá e Moçambique. Um projeto de irrigação de US$ 3 bilhões na Venezuela é o maior na carteira da empresa.
“É um dos papéis que permitem que você durma de noite”, disse Richard Segal, diretor de mercados emergentes da Jefferies International Ltd., em entrevista por telefone de Londres. “A maior ênfase do Brasil tem sido em preparar as cidades que vão sediar os jogos da Copa e Olimpíadas, mas as necessidades de infraestrutura são substanciais em todo o País. Não dá para negar que a companhia está numa boa posição.”
Os títulos da Odebrecht pagam 1,95 ponto percentual, ou 195 pontos-base a mais do que a dívida pública de prazo similar, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A empresa tem classificação de risco Baa3 na escala da Moody’s Investors Service e BBB- na escala da Standard & Poor’s, o menor nível na escala de grau de investimento e um nível inferior à nota soberana do País. A S&P melhorou a nota de crédito da companhia em um nível em 23 de maio.
Disparada dos lucros
A Construtora Norberto Odebrecht SA, divisão de engenharia e construção do grupo familiar que também controla a maior petroquímica da América Latina, disse no ultimo balanço que tinha US$ 6,3 bilhões em novos contratos no primeiro trimestre, a maior parte fora do Brasil. A companhia tem 105 obras internacionais em andamento, representando US$ 21,2 bilhões em sua carteira. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, conhecido como Ebitda, deu um salto de 41 por cento no período, para US$ 315 milhões.
No Brasil, a empresa está executando 80 contratos avaliados em US$ 12,5 bilhões. O principal é um estaleiro para submarinos no Estado do Rio de Janeiro, de US$ 2,6 bilhões. Projetos relativos à Copa do Mundo e às Olimpíadas respondem por aproximadamente US$ 2,1 bilhões da carteira da Odebrecht de US$ 33,7 bilhões.
“Os investimentos em infraestrutura precisarão ser feitos, pode ser agora ou no longo prazo”, disse Jayme Fonseca, diretor financeiro da Construtora Norberto Odebrecht SA, em entrevista por telefone ontem. “O Brasil tem espaço para crescer de 3 a 3,5 por cento ao ano e, nesse nível, há espaço para crescer consistentemente em infraestrutura.”
"Grande pipeline"
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social planeja aumentar o financiamento da infraestrutura após ter dobrado o crédito ao setor, que hoje representa mais de 40 por cento de seus desembolsos, disse Sérgio Foldes Guimarães, superintendente da área internacional do BNDES.
“Um grande pipeline de investmentos chegará ao BNDES em novos setores, como aeroportos, por exemplo”, disse Guimarães em entrevista em 5 de junho na sede da Bloomberg em Nova York. “Infraestrutura realmente é uma prioridade para nós.”
O governo também pretende flexibilizar regras para conceder incentivos fiscais a investidores locais e estrangeiros que comprarem debêntures ligadas a projetos de infraestrutura, de acordo com Dyogo Oliveira, secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda. As regras devem ser anunciadas em cerca de dois meses, disse ele em Brasília em 28 de maio.
O Ministério da Fazenda não quis fazer comentários.
Desaceleração do crescimento
“Gostamos da empresa e é um ótimo setor num país onde infraestrutura será um forte investimento nos próximos anos”, disse Siddharth Dahiya, analista de crédito da Aberdeen Asset Management, em entrevista por telefone de Londres. “A demanda de longo prazo será sustentada por múltiplos setores. Existe uma falta crônica de infraestrutura no Brasil, e isso é algo que está sendo abordado, ainda que lentamente.”
A economia brasileira vai se expandir 2,5 por cento em 2012, após um crescimento de 2,7 por cento no ano passado, de acordo com pesquisa do Banco Central com cerca de 100 analistas, feita em 8 de junho.
Para Cedric Rimaud, analista de crédito da Spread Research Ltd., os bônus da Odebrecht dificilmente irão disparar mais, já que o preço já reflete a carteira de projetos da companhia. Segundo ele, os negócios da Odebrecht irão se segurar por uns dois anos, mas a desaceleração da economia brasileira vai corroer a receita da empresa.
“O pipeline de projetos está precificado como para uma empresa com classificação triplo B”, disse Rimaud em entrevista por telefone da cidade francesa de Lyon. “Numa situação em que o crescimento está se desacelerando significativamente, a Odebrecht pode ser afetada num prazo mais longo.”
O Banco Mundial, sediado em Washington, disse em 12 de junho que o crescimento econômico da América Latina vai desacelerar de 4,3 por cento em 2011 para 3,5 por cento este ano. A instituição reduziu sua projeção para o crescimento da economia mundial em 0,1 ponto percentual, para 3 por cento.
“Grandes projetos de infraestrutura continuarão existindo na região mesmo com uma desaceleração, simplesmente por causa de sua importância”, disse Marcus Fernandes, analista da S&P em São Paulo, em entrevista por telefone. “O tipo de projeto que a Odebrecht faz continuará sendo executado. A Odebrecht está em boa posição para conquistar esses projetos no futuro, não só no Brasil como também no resto da região.”
Nova York - A Odebrecht SA tem batido seus concorrentes no mercado de dívida com apostas de que a carteira recorde de obras da companhia, de US$ 34 bilhões, vai anular os efeitos da desaceleração global.
Os títulos em dólar da empresa com sede em Salvador com vencimento em 2023 deram uma rentabilidade de 7,3 por cento este ano, comparados à média de 3,9 por cento para os títulos emitidos por empresas mundiais, da Mitsubishi Corp. à Alcoa Inc., segundo dados apurados pela Bloomberg e pelo Bank of America Corp.
Os investidores estão se voltando para a Odebrecht diante do agravamento da crise financeira na Europa, que fez o Banco Mundial reduzir sua expectativa de crescimento global este ano. Enquanto a Odebrecht vai se beneficiar dos investimentos de R$ 401 bilhões na infraestrutura brasileira estimados para o período entre 2012 e 2015, 63 por cento de seus contratos vêm de projetos de países como Peru, Panamá e Moçambique. Um projeto de irrigação de US$ 3 bilhões na Venezuela é o maior na carteira da empresa.
“É um dos papéis que permitem que você durma de noite”, disse Richard Segal, diretor de mercados emergentes da Jefferies International Ltd., em entrevista por telefone de Londres. “A maior ênfase do Brasil tem sido em preparar as cidades que vão sediar os jogos da Copa e Olimpíadas, mas as necessidades de infraestrutura são substanciais em todo o País. Não dá para negar que a companhia está numa boa posição.”
Os títulos da Odebrecht pagam 1,95 ponto percentual, ou 195 pontos-base a mais do que a dívida pública de prazo similar, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A empresa tem classificação de risco Baa3 na escala da Moody’s Investors Service e BBB- na escala da Standard & Poor’s, o menor nível na escala de grau de investimento e um nível inferior à nota soberana do País. A S&P melhorou a nota de crédito da companhia em um nível em 23 de maio.
Disparada dos lucros
A Construtora Norberto Odebrecht SA, divisão de engenharia e construção do grupo familiar que também controla a maior petroquímica da América Latina, disse no ultimo balanço que tinha US$ 6,3 bilhões em novos contratos no primeiro trimestre, a maior parte fora do Brasil. A companhia tem 105 obras internacionais em andamento, representando US$ 21,2 bilhões em sua carteira. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, conhecido como Ebitda, deu um salto de 41 por cento no período, para US$ 315 milhões.
No Brasil, a empresa está executando 80 contratos avaliados em US$ 12,5 bilhões. O principal é um estaleiro para submarinos no Estado do Rio de Janeiro, de US$ 2,6 bilhões. Projetos relativos à Copa do Mundo e às Olimpíadas respondem por aproximadamente US$ 2,1 bilhões da carteira da Odebrecht de US$ 33,7 bilhões.
“Os investimentos em infraestrutura precisarão ser feitos, pode ser agora ou no longo prazo”, disse Jayme Fonseca, diretor financeiro da Construtora Norberto Odebrecht SA, em entrevista por telefone ontem. “O Brasil tem espaço para crescer de 3 a 3,5 por cento ao ano e, nesse nível, há espaço para crescer consistentemente em infraestrutura.”
"Grande pipeline"
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social planeja aumentar o financiamento da infraestrutura após ter dobrado o crédito ao setor, que hoje representa mais de 40 por cento de seus desembolsos, disse Sérgio Foldes Guimarães, superintendente da área internacional do BNDES.
“Um grande pipeline de investmentos chegará ao BNDES em novos setores, como aeroportos, por exemplo”, disse Guimarães em entrevista em 5 de junho na sede da Bloomberg em Nova York. “Infraestrutura realmente é uma prioridade para nós.”
O governo também pretende flexibilizar regras para conceder incentivos fiscais a investidores locais e estrangeiros que comprarem debêntures ligadas a projetos de infraestrutura, de acordo com Dyogo Oliveira, secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda. As regras devem ser anunciadas em cerca de dois meses, disse ele em Brasília em 28 de maio.
O Ministério da Fazenda não quis fazer comentários.
Desaceleração do crescimento
“Gostamos da empresa e é um ótimo setor num país onde infraestrutura será um forte investimento nos próximos anos”, disse Siddharth Dahiya, analista de crédito da Aberdeen Asset Management, em entrevista por telefone de Londres. “A demanda de longo prazo será sustentada por múltiplos setores. Existe uma falta crônica de infraestrutura no Brasil, e isso é algo que está sendo abordado, ainda que lentamente.”
A economia brasileira vai se expandir 2,5 por cento em 2012, após um crescimento de 2,7 por cento no ano passado, de acordo com pesquisa do Banco Central com cerca de 100 analistas, feita em 8 de junho.
Para Cedric Rimaud, analista de crédito da Spread Research Ltd., os bônus da Odebrecht dificilmente irão disparar mais, já que o preço já reflete a carteira de projetos da companhia. Segundo ele, os negócios da Odebrecht irão se segurar por uns dois anos, mas a desaceleração da economia brasileira vai corroer a receita da empresa.
“O pipeline de projetos está precificado como para uma empresa com classificação triplo B”, disse Rimaud em entrevista por telefone da cidade francesa de Lyon. “Numa situação em que o crescimento está se desacelerando significativamente, a Odebrecht pode ser afetada num prazo mais longo.”
O Banco Mundial, sediado em Washington, disse em 12 de junho que o crescimento econômico da América Latina vai desacelerar de 4,3 por cento em 2011 para 3,5 por cento este ano. A instituição reduziu sua projeção para o crescimento da economia mundial em 0,1 ponto percentual, para 3 por cento.
“Grandes projetos de infraestrutura continuarão existindo na região mesmo com uma desaceleração, simplesmente por causa de sua importância”, disse Marcus Fernandes, analista da S&P em São Paulo, em entrevista por telefone. “O tipo de projeto que a Odebrecht faz continuará sendo executado. A Odebrecht está em boa posição para conquistar esses projetos no futuro, não só no Brasil como também no resto da região.”