O que esperar do dólar até as eleições de outubro
Confira alguns comentários de analistas sobre o futuro do dólar com a proximidade das eleições
Rita Azevedo
Publicado em 25 de abril de 2018 às 15h31.
São Paulo -- O mercado já reflete mais claramente o risco eleitoral, o que coloca o real entre as moedas de pior desempenho nos últimos 30 dias. E a expectativa é de mais pressão no câmbio, pelo menos até as eleições de outubro.
Além da incerteza eleitoral, com as pesquisas mostrando dificuldade dos pré-candidatos reformistas, fatores externos como as turbulências geopolíticas e a alta dos juros americanos também fortalecem o dólar globalmente.
A alta da moeda americana ainda ganha força com o corte da Selic para nível recorde, que amplia a busca por hedge e reduz o apelo para o investidor externo aplicar no Brasil. O comparativo desfavorável do Brasil com outros países da América Latina é outro fator que conta pontos contra a divisa brasileira.
O Banco Central, munido de reservas, deve ser a última defesa para o dólar. Não há consenso neste tema, mas o histórico das ações do BC no câmbio indica que não deve ocorrer nenhuma ação mais forte nos níveis atuais de volatilidade. Em geral, ele só atua quando a moeda oscila mais fortemente. Com a inflação abaixo da meta e a economia ainda fraca, faria pouco sentido evitar uma depreciação cambial, a não que ocorra em tal ritmo que desorganize o mercado.
Confira alguns comentários de analistas sobre o cenário para o câmbio:
Futures First, Rishi Mishra
“Dada a queda do diferencial de juros com a taxa americana, incerteza política doméstica, falta de suporte de outros mercados emergentes e indicadores fracos, eu não vejo qualquer razão pela qual o dólar não possa ir até R$ 3,75 antes das eleições.”
RBC Capital Markets, Tania Escobedo
Cenário eleitoral vem sendo o motivo de o real ter desempenho abaixo das demais moedas ao longo deste ano. Também parece que o dólar quer avançar em geral. Se o rendimento do treasury de 10 anos passar de 3,05% (nesta terça bateu 3%), podemos ver mais uma forte aceleração da moeda americana. Neste caso, haveria uma grande chance de o dólar testar R$ 3,50.
Rabobank, Mauricio Oreng
“Nosso cenário básico, que assume um resultado eleitoral consistente com expectativas de aprovação de reformas fiscais em 2019, ainda projeta dólar a R$ 3,30 no Brasil ao final de 2018. Contudo, nossos modelos de valor justo apontam para um câmbio possivelmente próximo de R$ 3,60 no curto prazo, caso as condições atuais de mercado assim permaneçam nos próximos dias ou semanas”.
BBVA, Danny Fang
Taxas americanas mais altas estão impactando moedas emergentes e da América Latina em geral, e o real não tem nenhum apelo especial com a alta incerteza eleitoral. Ao mesmo tempo, há também um risco de que o BC possa se inclinar para mais política acomodatícia após maio. Para muitos investidores, há melhores histórias em outros lugares na América Latina, como a melhora nos fundamentos da Colômbia. Progresso do Nafta no México também atrai atenção, deixando o interesse dos investidores fora do Brasil.
Wells Fargo, Eric Viloria
Incerteza política tem pesado no câmbio, enquanto o cenário externo tem se tornado menos favorável. Ao mesmo tempo, um possível alívio adicional da política monetária brasileira também poderia ser negativa para o real no curto prazo.
ING, Gustavo Rangel
Chance de anúncio de swap novo aumentou, pois a reação do real foi pior do que o resto do mercado emergente. Mas talvez mercado possa interpretar uma alta do dólar como possivelmente temporária, que se reverteria após a eleição