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O dólar sobe por causa da crise ou por nossa culpa?

Fatores locais estão por trás da disparada da moeda americana em relação ao real, dizem analistas

De quem é a culpa? Para o Citi, é a mudança na política monetária  (Divulgação)

De quem é a culpa? Para o Citi, é a mudança na política monetária (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2012 às 10h55.

São Paulo – A crise internacional não sai do noticiário e tem sido apontada por muitos como a responsável pela queda na bolsa brasileira e a disparada do dólar em relação ao real. Mas as preocupações com o futuro da zona do euro realmente respondem sozinha pela fuga recorde da moeda americana do Brasil em maio (a saída financeira foi a maior desde 2008) e o desempenho mais fraco em relação às demais moedas de países emergentes? Essa foi a pergunta feita pelo Citi em um relatório publicado nesta semana.

“A desvalorização do real foi (...) bem agressiva se comparada com a registrada por outras moedas latino-americanas. Isso nos levou a criar uma metodologia simples para determinar se os fatores por trás da oscilação da moeda no curto prazo são na realidade mundiais ou locais”, destacam os analistas Joaquin A. Cottani e Camilo Gonzalez. A ideia é a de que o câmbio tende a oscilar na mesma direção dos emergentes e, portanto, qualquer performance superior ou inferior no médio prazo se explica com fatores locais.

“Portanto, é provável que a performance inferior do real recentemente esteja relacionada a características idiossincráticas. Uma comparação com a Turquia sugere que a mudança na política monetária possa ser o fator por trás desse comportamento. Nossos colegas em Bogotá também apontam para fatores locais como causadores da performance superior do peso colombiano, quando comparado com outras moedas de mercados emergentes”, explicam.

As evidências e os motivos

O coeficiente de beta de 1,19 (a relação em 1 sugere uma variação em linha com a média, enquanto acima de 1 indica maior e, abaixo, menor) de nossa regressão simples sugere que o real tende a ter um rali um pouco maior do que os pares durante períodos de alto risco. “Entretanto, isso é suficiente para explicar o significante desempenho abaixo do esperado em relação às outras moedas?”, pergunta o Citi.


Segundo o banco, os resultados sugerem que a resposta é não e, além disso, que o modelo perde a funcionalidade a partir de setembro de 2011. Em agosto do ano passado, o Banco Central cortou o juro em um movimento inesperado pelo mercado e, desde então, a tesourada já chega a 4 pontos percentuais. A Selic está hoje em 8,5% ao ano. Não fosse a mudança estrutural, o modelo iria sugerir um dólar a 1,72 real e não acima de 2 reais, como o visto atualmente.

Intervenções

Os analistas ressaltam, ainda, que as oscilações da moeda não têm relação com as atuações do BC no mercado de câmbio ou com as alterações em impostos porque as mudanças no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a intervenção também foram feitas no segundo semestre de 2010 e no começo de 2011, mas, mesmo nesses períodos, o modelo funcionou razoavelmente bem. “Isso deixa a mudança estrutural na política monetária como a força principal por trás do desempenho do real. De fato, o início da mudança na política monetária coincide com o momento no qual a habilidade de projeções do modelo cai substancialmente”, dizem.

“Os resultados do nosso exercício sugerem que quando se trata de movimentos de curto prazo das moedas de mercados emergentes, os fatores globais são altamente fundamentais (...). Entretanto, fatores locais e idiossincrasias podem superar as tendências globais caso mantidos por um período relativamente longo. No caso do real e da lira (Turquia), uma mudança estrutural na política é o provável culpado pelo desempenho inferior na comparação com as outras moedas de países emergentes”, finalizam.

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