O curioso caso da disparada da Ambipar: CVM vê controlador atuando em conjunto com gestora
De acordo com área técnica da autarquia, gestora Trustee agiu junto com Tércio Borlenghi e determina realização de oferta de aquisição de ações (OPA) para todos os minoritários


Repórter Exame IN
Publicado em 21 de março de 2025 às 11h09.
Última atualização em 22 de março de 2025 às 15h58.
A valorização das ações da empresa de gestão ambiental Ambipar foi um dos casos mais impressionantes no último ano.
Puxadas por poucas transações a preços elevados, ao longo de 2024, a alta dos papéis passou de 1.000% – levando a empresa a valer mais de R$ 20 bilhões e entrando na lista das maiores empresas da bolsa brasileira em valor de mercado.
Diante das oscilações, a B3 chegou a determinar em alguns pregões que a ação negociasse apenas com leilões de hora em hora. Em alguns dias, o papel chegou a ficar em leilão por toda a sessão.
Agora, essa escalada das ações entrou no radar da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A autarquia determinou que a gestora Trustee terá de fazer uma oferta pelas ações dos minoritários da Ambipar. Segundo a CVM, a gestora, que aumentou sua cotação na empresa ao longo do ano passado, atuou em conjunto com o controlador da companhia, Tércio Borlenghi, que também tinha aumentado sua participação no período.
O pedido de registro da oferta pública de aquisição (OPA), para todos as ações em circulação, deve ser apresentado em até 30 dias, encerrados em 21 de abril.
O que aconteceu com as ações da Ambipar (AMBP3)?
A explosão da cotação da ação chamou a atenção do mercado e levantou questionamentos entre investidores. No início de 2024, a ação era negociada a R$ 15. Hoje, a Ambipar é cotada a R$ 122.
Tudo começou em julho de 2024, o fundador e controlador da Ambipar, Tércio Borlenghi, aumentou sua participação na companhia de 66% para 73%. Ao mesmo tempo, a companhia fazia fortes programas de recompra de ações.
Nos meses seguintes, a Trustee, em nome dos fundos de investimento que administra, foi ampliando sua fatia na empresa, chegando a ocupar uma posição significativa no capital da companhia. Ela aumentou sua participação de 6,6% para 11,03% em agosto de 2024.
O processo de aumento da participação reduziu a quantidade de ações em circulação, deixando pouco mais de 10% no freefloat.
A movimentação atípica das ações gerou preocupações em relação à transparência e governança, o que levou, agora, a CVM a intervir.
O que a CVM diz sobre AMBP3
De acordo com a área técnica da CVM, foi verificado que a Trustee atuou em conjunto com Tércio Bolenghi nas aquisições de ações entre julho e agosto de 2024, ultrapassando o limite de um terço das ações em circulação.
Com isso, pelas regras da autarquia, a gestora precisa fazer uma oferta por todas as ações da Ambipar. Ainda cabe recurso à decisão.
Em janeiro deste ano, a Trustee reduziu sua fatia para cerca de 8,98%. Por volta das 11h, as ações da Ambipar ainda negociavam em leilão.
Com a palavra, a Ambipar
"A Ambipar recebeu com surpresa o comunicado divulgado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinando que a Trustee Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda. realize uma Oferta Pública de Ações (OPA) devido a um suposto aumento de participação acionária na companhia.
A Ambipar, bem como seu controlador, Tercio Borlenghi Jr., atua em total conformidade com a legislação vigente e com as normas regulatórias estabelecidas para o mercado. A Ambipar buscará as devidas informações para tomar as providências cabíveis junto a esse órgão de controle."
( Atualizada às 18h20 para conter nota de esclarecimento da Ambipar.)