Pessoa física com ação do IRB cresce 967%; grande investidor deixa posição
Aumento da base acionária ocorreu em meio a uma série de polêmicas envolvendo a empresa
Guilherme Guilherme
Publicado em 24 de setembro de 2020 às 16h52.
Última atualização em 24 de setembro de 2020 às 17h44.
Em menos de um ano, o IRB Brasil foi de um porto seguro que atraía grandes fundos de previdência para uma incógnita do mercado financeiro, com dúvidas levantadas até mesmo por Warren Buffett . Porém, foi nesse mesmo período que a base de pessoas físicas entre os acionistas da companhia cresceu 967%, passando de 27.126, em setembro de 2019, para 289.488, no fim de julho deste ano. Por outro lado, a quantidade de investidores institucionais, representados por gestoras e fundos de pensão, caiu 29%, de 1.635 para 1.164, segundo dados mais recentes do formulário de referência da empresa.
Durante esses cerca de dez meses, a companhia ganhou destaque no noticiário econômico por uma série de acusações. A mais grave surgiu em carta da Squadra em que a gestora fluminense explicava sua posição vendida (que busca lucrar com a queda das ações) na companhia. Segundo a carta, as demonstrações financeiras do IRB continham sérios indícios de inconsistências contábeis, o que foi, posteriormente, confirmado pela própria (e nova) administração da companhia.
As dúvidas levantadas pela Squadra sobre a fidelidade dos balanços da companhia geram grande furor entre os investidores e, em menos de dez dias após a divulgação da carta, o valor da companhia caiu mais de 25%.
O segundo grande baque veio após o megainvestidor americano Warren Buffett negar ter qualquer participação no IRB, como havia sido ventilado, fazendo as ações da companhia cair mais 32%. No ano, a desvalorização acumulada pelos papéis do IRB chegou a superar a do setor aéreo, tido como o mais afetado pelos efeitos colaterais da pandemia e, até hoje, a empresa lidera as perdas do Ibovespa no ano, com queda acumulada de 80%.
Apesar do noticiário negativo, Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), o fato de a empresa ter entrado em evidência e a própria desvalorização do ativo podem ter contribuído para o aumento de pessoas físicas na base acionária da empresa.
“Existe o efeito de acreditar que a ação vai voltar para os patamares anteriores, mas isso é mais baseado em especulação do que em fundamento. Muitas vezes, a pessoa física compra sem ter muito conhecimento sobre a ação, enquanto os institucionais têm mais condições técnicas [ de avaliar o ativo ] por ter toda uma equipe de profissionais por trás”, comenta.
Pedro Lang, diretor de renda variável do escritório de agentes autônomos Valor Investimentos, relata que a procura de investidores de varejo por uma determinada ação cresce principalmente quando o ativo apresenta forte desvalorização.
“No caso do IRB, a ação despencou e ficaram doidos para comprar. Se uma ação cair 90%, independentemente do motivo, a pessoa física tem o costume de achar que ficou barato. Para tentar ganhar no curto prazo, no geral, preferem a ação de uma empresa que oscila muito do que uma que varia menos. Infelizmente, muita gente vê como cassino”, afirma.