Os custos crescentes de energia devido à forte demanda normalmente indicam um crescimento sólido e resiliente, enquanto o aumento dos preços puxado pela oferta limitada pode pesar na recuperação (Nick Oxford/Reuters)
Beatriz Quesada
Publicado em 9 de março de 2021 às 11h58.
(Bloomberg) O salto dos preços do petróleo chama a atenção sobre como o aumento constante dos custos de energia ameaça criar um entrave à recuperação econômica global e alimenta temores de inflação entre os investidores.
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Depois de subir mais de 30% neste ano com cortes da produção coordenados por grandes exportadores e demanda em recuperação após o mergulho com a crise de Covid-19, um ataque com míssil no domingo contra um importante terminal de exportação da Arábia Saudita fez o petróleo Brent ultrapassar US$ 70 o barril pela primeira vez desde janeiro de 2020.
Embora os preços tenham recuado desde então, o impacto sobre a inflação e recuperação global depende da duração do rali.
Para economistas, o que importa é a causa dos preços mais altos, e não o preço em si. Os custos crescentes de energia devido à forte demanda normalmente indicam um crescimento sólido e resiliente, enquanto o aumento dos preços puxado pela oferta limitada pode pesar na recuperação. Economistas do Morgan Stanley estimam que a commodity precisaria ser negociada a US$ 85 o barril, em média, para a carga global do petróleo ultrapassar as médias de longo prazo.
“Como contexto, a carga global do petróleo ultrapassou pela última vez a média de longo prazo em 2005, mas com o cenário de forte crescimento global, as economias foram capazes de suportar o impacto da alta dos preços do petróleo até 2007, quando a expansão mundial já perdia força e, ainda assim, as cotações do petróleo subiam rapidamente”, escreveram economistas do banco na semana passada.
A valorização do petróleo tem como pano de fundo o debate sobre a inflação global. Com o salto dos rendimentos dos títulos, investidores continuam a testar autoridades monetárias, como o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, segundo os quais a inflação não é uma ameaça este ano, mesmo com trilhões de dólares de estímulo sendo injetados na economia global.
Os custos do petróleo e dos alimentos estão em alta, embora, como as duas categorias mais voláteis dos preços ao consumidor, geralmente sejam considerados transitórios por autoridades monetárias. E mesmo com os custos de imóveis e semicondutores também subindo, a tendência global prevalecente ainda é de crescimento moderado dos preços.
“Como bons economistas, estamos no meio-termo: a era da inflação escassa parece ter acabado, mas isso não significa necessariamente que a hiperinflação esteja próxima”, afirmou Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING, em relatório de 5 de março.
Embora a energia seja um componente importante dos indicadores de preços ao consumidor, autoridades costumam se concentrar nos núcleos dos índices, que excluem componentes voláteis como o petróleo. Se a alta dos preços se mostrar significativa e sustentada, esses custos serão refletidos nas tarifas de transporte e serviços públicos. Esse cenário pressionaria bancos centrais a limitarem o apoio à economia, embora por enquanto continuem a enfatizar que o alto desemprego compensará qualquer pressão inflacionária.