Não tem como investir em empresas da internet na China, diz JP Morgan
Para o banco americano JP Morgan, as empresas chinesas do setor da tecnologia "não são investíveis". Uma avaliação que custou cara ao banco.
Carlo Cauti
Publicado em 12 de maio de 2022 às 10h44.
Para o banco americano JP Morgan (JPMC34), as empresas chinesas do setor da tecnologia "não são investíveis".
A informação foi apareceu e um relatório do JP Morgan que avaliou uma série de empresas do setor de tecnologia da China, entre as quais a gigante JD:Com.
O resultado da divulgação desse relatório foi a venda maciça de ações do setor.
Aproximadamente US$ 200 bilhões (mais de R$ um trilhão) em papéis de empresas de tecnologia chinesas, cotadas na Bolsa de Valores de Nova York e também na Bolsa de Hong Kong.
JP Morgan (JPMC34)tentou evitar a publicação
Segundo a Bloomberg, especificando o uso do termo "não investível" teria sido um engano do JP Morgan.
A equipe editorial do gigante bancário americano, responsável pela edição dos relatórios do setor de pesquisa do JP Morgan, havia solicitado que a palavra fosse retirada das 28 notas escritas pelo analista de ações de tecnologia Alex Yao e sua equipe.
"Com o gerenciamento de risco se tornando o fator mais importante a se considerar entre os investidores globais em relação à estratégia de investimento na China, em um momento em que precificam os riscos geopolíticos da China, classificamos a Internet na China como não investível por um período de 6 a 12 meses, com uma perspectiva binária sobre o preço das ações", aparece em um dos trechos.
O termo foi removido de todas as notas de rodapé (em alguns casos substituídos pela palavra "não atrativo"), com exceção de quatro.
Uma apuração interna do JP Morgan chegou à conclusão de que a publicação do termo ocorreu mesmo após uma revisão por parte de analistas e supervisores.
Todos teriam concordado que o adjetivo não era o melhor para as análises.
Entretanto, a publicação ocorreu do mesmo jeito.
Setor tecnológico chinês em forte queda
O setor tecnológico chinês está sofrendo duras perdas nas últimas semanas.
Os relatórios assinados por Yao alimentaram ainda mais essa tendência de vendas.
No passado, o termo "não investível" foi utilizado pelos analistas do JP Morgan em análises de outras empresas chinesas, entre as quais:
- Alibaba;
- Tencent;
- Meituan;
A desconfiança em relação a economia chinesa apareceu claramente durante a mais recente apresentação pública do CEO do JP Morgan, Jamie Dimon.
Em novembro do ano passado, o executivo celebrou o seu banco declarando como o JP Morgan teria sobrevivido mais tempo do que o Partido Comunista Chinês (PCC).
Uma declaração feita no mesmo ano em que o PCC celebrava seu centenário.
Governo da China reagiu duramente
A reação do governo chinês se abateu rapidamente sobre o banco.
O JP Morgan foi removido de sua posição como principal banco subscritor da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da Kingsoft Cloud Holdings na Bolsa de Valores de Hong Kong.
A equipe de Yao tinha cortado pela metade a meta de preço das ações do grupo listado em Wall Street, como parte de um relatório que rebaixou o papel da empresa chinesa publicado em março.
O JP Morgan continua como banco parceiro do IPO, mas não detém mais a posição de coordenador dos bancos subscritores, que passou ao UBS Group AG e à China International Capital Corp.
O JP Morgan defendeu seu trabalho, salientando como "poucos substantivos utilizados de forma intercambiável não mudam a substância da pesquisa".