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‘Não há mais dinheiro’: Argentina inicia tratamento de choque

O veterano de Wall Street delineou dez medidas iniciais destinadas a sacudir a economia estagnada

O veterano de Wall Street delineou dez medidas iniciais destinadas a sacudir a economia estagnada (Luis ROBAYO /AFP Photo)
Bloomberg

Agência de notícias

Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 13h24.

Luis Caputo passou a maior parte de seu primeiro pronunciamento como novo ministro da Economia argentino explicando como o país vizinho chegou a uma situação tão precária: um “vício” em dívida, para o qual o único remédio é um tratamento de choque.

“Não há mais dinheiro”,disse Caputo repetidamente no vídeo gravado que foi ao ar no início da noite de terça-feira, ecoando as palavras do presidente Javier Milei em seu discurso de posse no domingo.

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O veterano de Wall Street delineou 10 medidas iniciais destinadas a sacudir a economia estagnada, começando com umadesvalorização de 54% da taxa de câmbio oficiale cortes de gastos, que incluem reduzir pela metade o número de ministérios, cortar transferências para províncias, suspender obras públicas e reduzir subsídios.

Os cortes totais das despesas do governo chegarão a 2,9% do PIB, disse depois um alto funcionário do governo. O objetivo é eliminar já no próximo ano o déficit primário.

Ações iniciais ousadas

O Fundo Monetário Internacional elogiou as “ações iniciais ousadas” do governo e muitos investidores saudaram as medidas como passos na direção certa. Mas muitos também permaneceram céticos e acham que as medidas não são suficientes ou são difíceis de implementar — ou as duas coisas.

“São medidas boas? Sim. São suficientes? Não parece. Vão funcionar? Realmente depende da reação das pessoas”, disse Diego Ferro, fundador da M2M Capital em Nova York.“Vamos cruzar os dedos e torcer para que nos próximos dois, três meses as pessoas aceitem isso e que funcione.”

A reação de Ferro resume a essência do desafio de Milei. O líder libertário precisa agir rapidamente porque a Argentina ficou sem opções para se financiar sem recorrer à emissão de moeda que fez a inflação anual disparar para mais de 140%. Mas, ao mesmo tempo, ele não pode abandonar tão facilmente todos os controles de capital impostos ao longo dos anos. Permitir que o câmbio flutue livremente poderia acelerar a inflação ainda mais.

Por enquanto, esses controles continuam em vigor e o regime de gestão do câmbio será revisto para permitir que o peso se desvalorize 2% ao mês. Alguns programas sociais também receberão um impulso na tentativa de aliviar o sofrimento causado pelas medidas de austeridade. Medidas como o corte de transferências para as províncias podem gerar problemas, de acordo com a economista Adriana Dupita, da Bloomberg Economics.

“As transferências federais para as províncias são uma parte relevante do orçamento, mas simplesmente cortá-las não resolve necessariamente o problema fiscal”, disse Dupita. “A menos que as províncias sejam capazes e estejam dispostas a cortar despesas, esta medida apenas transfere o déficit do governo federal para os governos regionais. Também pode gerar preocupações sobre as perspectivas para os títulos provinciais.”

As medidas anunciadas não chegam a constituir um plano econômico e deixam uma impressão de “improvisação”, disse Jorge Piedrahita, fundador da Gear Capital Management em Nova York.

Desvalorização argentina

A desvalorização era há muito tempo vista como inevitável. No período que antecedeu a posse de Milei, os mercados sinalizavam uma depreciação cambial de cerca de 27% na primeira semana do novo governo, enquanto bancos de investimento como JPMorgan e empresas locais de consultoria sugeriam que a divisa poderia se enfraquecer em cerca de 44%. Os supermercados já tinham aumentado os preços e os bancos ofereciam taxas de câmbio acentuadamente mais fracas horas antes do anúncio de terça-feira.

Depois de ficarem assustados com a ascensão de Milei nas primárias de agosto, os investidores desde então se entusiasmaram com o libertário polêmico e elogiaram seus primeiros passos como presidente eleito, como a escolha de veteranos de Wall Street para alguns dos principais cargos e o abandono de propostas radicais como a dolarização da economia.

Caputo atuou anteriormente como chefe da economia no governo de Mauricio Macri, quando negociou um acordo de US$ 16,5 bilhões com credores relutantes, permitindo que a Argentina retornasse aos mercados de capitais internacionais.

Caputo escolheu seu colega de longa data Santiago Bausili, ex-executivo do Deutsche Bank e JPMorgan, para dirigir o banco central.

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