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Não é mais possível ignorar problema de US$ 9 trilhões da China

A China pode empreender sua campanha mais ambiciosa para persuadir investidores de que não vão poder depender de um resgate na próxima turbulência

os principais órgãos reguladores financeiros do país estão elaborando novas normas para produtos de gestão de ativos (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

os principais órgãos reguladores financeiros do país estão elaborando novas normas para produtos de gestão de ativos (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2017 às 18h03.

A China poderia estar prestes a empreender sua campanha mais ambiciosa – e perigosa – para persuadir os investidores de que eles não vão poder depender de um resgate quando os mercados enfrentarem a próxima turbulência.

Em um sinal incomum de cooperação, os principais órgãos reguladores financeiros do país estão elaborando novas normas para produtos de gestão de ativos que visam deixar claro que os investimentos não contam com garantias do governo, disseram pessoas com conhecimento do assunto à Bloomberg News na terça-feira.

Os produtos, que prometem retornos mais altos do que os depósitos bancários, mas são considerados por muitos investidores como uma forma de poupança livre de risco, tornaram-se parte integral do sistema financeiro chinês após crescerem nos últimos anos para quase US$ 9 trilhões em 30 de junho.

As autoridades buscam um equilíbrio difícil. Se elas não conseguirem dissipar a noção de uma garantia implícita do governo, os investimentos mais arriscados poderiam proliferar e representar uma ameaça ainda maior para o sistema financeiro quando a China enfrentar a próxima turbulência no mercado.

Mas se as autoridades agirem com muita força agora, elas se arriscam a desencadear uma debandada de produtos que se tornaram uma fonte de financiamento fundamental para os bancos.

“Reverter isso é o maior desafio financeiro da China”, disse por e-mail David Loevinger, ex-especialista sobre a China do Tesouro dos EUA e atualmente analista da TCW Group em Los Angeles, EUA, que administra cerca de US$ 191 bilhões.

“Mas é ver para crer. Dizer para os investidores que não vai haver resgate é importante, mas é preciso demonstrar a eles que você está falando sério.”

Medidas extremas

Os investimentos que os reguladores estariam considerando têm um papel muito mais importante no sistema financeiro chinês do que o mercado de ações.

O projeto de regulamentação seria aplicado aos novos produtos emitidos por bancos, seguradoras, corretoras e outras instituições financeiras, disseram as pessoas, que solicitaram anonimato porque as discussões são privadas.

Os produtos de gestão de ativos da China totalizavam cerca de 60 trilhões de yuans (US$ 8,7 trilhões) em 30 de junho, segundo estimativa recente de um funcionário da Comissão Regulatória de Valores da China (CSRC, na sigla em inglês).

Produtos de gestão de riqueza fora do balanço emitidos por bancos, a maioria com garantia de títulos e empréstimos, chegavam a 26 trilhões de yuans no fim de dezembro, segundo o banco central.

De acordo om o novo projeto de regulamentação, que seria aplicado apenas aos produtos novos, as instituições financeiras não estão autorizadas a emitir produtos que garantam o capital ou os juros correspondentes, disseram pessoas com conhecimento do assunto.

O projeto ainda está sendo discutido e está sujeito a mudanças, disseram as pessoas.

O vice-presidente da Comissão Regulatória de Seguros da China, Chen Wenhui, confirmou nesta quarta-feira que os reguladores estão criando um marco geral de supervisão para produtos de gestão de ativos.

O Banco Popular da China, a CSRC e o órgão regulador dos bancos não deram retorno a pedidos de comentários.

Para Loevinger, da TCW, o verdadeiro teste para medir o quanto a China está comprometida a resolver seu problema de risco moral talvez só chegue quando um produto de gestão de ativos der prejuízo.

“Para isso mais investidores terão que queimar os dedos”, disse ele.

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