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Na bolsa, o recado da Alliar

Letícia Toledo Era para ser um ponto alto da euforia do mercado acionário brasileiro em 2016 – e também o começo do fim de uma paralisia. Mas, menos de um mês após sua estreia na BM&FBovespa, a empresa de diagnósticos Alliar anunciou na noite de terça-feira um programa de recompra de até um milhão de […]

ABERTURA DE CAPITAL DA ALLIAR: a empresa foi a única a ir à bolsa no Brasil em 2016 / Divulgação

ABERTURA DE CAPITAL DA ALLIAR: a empresa foi a única a ir à bolsa no Brasil em 2016 / Divulgação

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Letícia Toledo

Publicado em 23 de novembro de 2016 às 15h38.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h41.

Letícia Toledo

Era para ser um ponto alto da euforia do mercado acionário brasileiro em 2016 – e também o começo do fim de uma paralisia. Mas, menos de um mês após sua estreia na BM&FBovespa, a empresa de diagnósticos Alliar anunciou na noite de terça-feira um programa de recompra de até um milhão de ações. O comunicado enviado à CVM diz que a operação terá o prazo de 18 meses, com início nesta quarta-feira 23.

O objetivo é colocar as ações em tesouraria para eventualmente poder utilizá-las no plano de incentivo de executivos, como uma forma de remunerá-los, ou ainda em futuras aquisições. Considerando a média das cotações da Alliar de 15 pregões anteriores ao anúncio da recompra, a empresa poderá gastar 18 milhões de reais, o que corresponde a 5,7% do caixa líquido empresa, já considerando os 315,6 milhões que a Alliar captou em na oferta primária de ações. Esse tipo de operação costuma ser visto como um recado da empresa de que acredita que as ações estão baratas e, por isso, investir em seus próprios papéis é a melhor opção para o dinheiro que mantém em caixa. Desde a estreia na Bovespa, em 28 de outubro, as ações da companhia caíram quase 17%.

A Alliar está longe de ser uma estrela. Surgiu em 2011, com a fusão de marcas pouco conhecidas dos investidores nas cidades de Belo Horizonte, Juiz de Fora, São José dos Campos e Campo Grande. Com investimentos de dois fundos de private equitiy, Pátria e Kinea, fez, nos últimos cinco anos, 19 aquisições e hoje está em 10 estados brasileiros, atuando com exames de imagem e de análises clínicas. Mas sua abertura de capital foi acompanhada com expectativa – afinal, IPOs (sigla em inglês para oferta inicial de ações) se tornaram eventos raríssimos no mercado brasileiro.

Fora a Alliar, não houve nenhum IPO este ano. Em 2015, a única a ir à bolsa foi a Par Corretora – muito longe do recorde de 2007, com 64 IPOs. A oferta de ações da Alliar, esperava-se, seria responsável por retomar as ofertas, antecipando um ano promissor em 2017. Em 2016, o Ibovespa subiu mais de 40% com a expectativa de uma retomada da economia. Segundo Edemir Pinto, presidente da BM&F Bovespa, há 70 empresas na fila para uma oferta inicial de ações. Entre elas estão a companhia aérea Azul e a construtora Tenda, a área de seguros da Caixa, a operação brasileira da rede de supermercados Carrefour. O mesmo Edemir Pinto saudou o IPO da Alliar como uma demonstração que a confiança havia voltado ao mercado. A lógica continua valendo?

Para gestores, claro que a decepção com a Alliar, que captou 766 milhões de reais com sua oferta de ações, acende uma luz amarela. “O IPO acabou não sendo o que se esperava e isso traz uma insegurança para as empresas que querem abrir capital. A tendência é que elas agora aguardem mais um pouco”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora. Até porque a vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana trouxe mais incerteza ao cenário e levou grandes fundos internacionais a tirar recursos de mercados emergentes. Tradicionalmente, são esses fundos que compram mais da metade das ações num IPO na Bovespa. Mas essa apreensão, dizem os especialistas, deve durar pouco.

Primeiro porque, em parte, a queda das ações da Alliar se deve a barbeiragens no processo de abertura de capital da empresa, segundo executivos de mercado. O preço, por exemplo, saiu mais alto do que deveria. A Alliar chegou à bolsa aos mesmos múltiplos do concorrente Fleury, uma marca tradicional e reconhecida dos investidores e com um histórico de sete anos na bolsa. Também houve uma falha na composição do livro da oferta, que concentrou mais investidores de curto prazo do que de longo prazo – em outras palavras, aqueles que esperavam um ganho rápido para logo em seguida se desfazer de seus papeis. “Eles erraram no preço e agora estão tentando acalmar o mercado”, diz um gestor de fundos.

Além disso, é muito cedo para dizer se a abertura de capital da Alliar, de fato, naufragou. As ações estão sendo negociadas há menos de um mês, num período de intensa volatilidade da bolsa, o que pode ajudar a explicar a desvalorização. O que preocupa os analistas é o fato de histórico de IPOs na Bovespa não ser dos mais animadores. Muitas das ações das mais de 100 empresas que abriram capital no período de euforia do mercado, de 2004 a 2011, caíram desde a estreia nos pregões até hoje. Algumas, como as companhias do grupo X, de Eike Batista, e as incorporadoras PDG e Viver, estão em recuperação judicial (suas ações caíram mais de 95% desde a data do IPO). Outros papéis caíram porque estavam caros demais. A Alliar está longe desses casos extremos.

Com tudo isso na conta, investidores continuam otimistas com uma reabertura do mercado em 2017. Para isso, explicam, importa menos o desempenho da economia – o governo continua revisando para baixo as previsões de crescimento – e mais as perspectivas de crescimento. “Os IPOs voltarão se as reformas forem aprovadas e se o déficit do ano que vem for menor que o deste ano. Isso dará confiança aos grandes investidores, brasileiros e estrangeiros, para colocar mais dinheiro na bolsa”, diz Eduardo Moreira, sócio do banco Brasil Plural e colunista de EXAME Hoje. Ou seja: depende muito mais do governo do que da Alliar. Se é uma boa notícia ou não, saberemos em breve.

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