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Mercado pune títulos do ABC Brasil por conta de laços com Líbia

Investidores seguraram a demanda pelos papéis da instituição, que tem entre seus acionistas o governo da Líbia

Protestos em Benghazi, na Líbia: manifestações afetaram títulos do ABC Brasil (John Moore/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2011 às 14h35.

Nova York/Rio de Janeiro - O Banco ABC Brasil, que tem entre seus acionistas o governo da Líbia, está tendo a maior queda no mercado de títulos brasileiros em dólar esta semana com a escalada do movimento popular contra Muammar Qaddafi.

A taxa dos papéis do banco com cupom 7,875 por cento e vencimento em 2020 subiu 46 ponto-base em uma semana, a maior alta entre os títulos de dívida corporativa brasileira no exterior, segundo dados compilados pela Bloomberg. As taxas de papéis corporativos brasileiros em geral caíram 1 ponto-base, ou 0,01 ponto percentual, no mesmo período, enquanto os de companhias de mercados emergentes foram reduzidas também em 1 ponto-base, de acordo com o CEMBI do JPMorgan Chase & Co.

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Os choques entre manifestantes e forças de segurança do governo da Líbia está afetando a demanda pelos papéis do ABC Brasil após a Standard & Poor’s ter rebaixado o grau de classificação do país para BBB+ em 22 de feveireiro. No dia seguinte, a S&P e a Fitch Ratings reduziram a nota de crédito do Arab Banking Corp., que tem 58 por cento do Banco ABC Brasil, porque o banco central líbio tem 59,4 por cento da Arab Corp.

“A situação toda não está deixando as pessoas muito confortáveis, investidores institucionais estão evitando risco”, disse Leonardo Kestelman, que ajuda a administrar US$ 880 milhões na Dinosaur Securities Inc. em São Paulo, em entrvista por telefone. “As pessoas estão um pouco receosas sobre o banco ser parcialmente do banco central da Libia e de Bahrain.”

Os títulos do ABC Brasil caíram US$ 0,017 na quarta-feira, dia 23, na maior queda em mais de três meses. Naquele dia, o controlador do ABC Brasil, a Arab Corp., sediada em Bahrain e que também tem como sócio a Autoridade de Investimento do Kuwait, teve sua classificação de risco revista para baixo.

Crédito a empresas

Sergio Lulia Jacob, vice-presidente do ABC Brasil para as áreas de Tesouraria e Relações com Investidores, disse que o banco “continua desenvolvendo suas atividades normalmente.”

“O ABC Brasil é uma companhia aberta, com ações em bolsa, e alto grau de governança corporativa”, escreveu Jacob, em e- mail enviado com repostas a perguntas. “Desenvolve negócios exclusivamente com companhias brasileiras. Tem uma posição de liquidez absolutamente confortável, ótima qualidade da carteira de crédito.”

As ações do ABC Brasil, que é especializado na concessão de crédito a empresas, registraram queda de 11 por cento em relação ao preço de fechamento da sexta-feira passada, de R$ 14,08, para R$ 12,54 ontem na BM&FBovespa, a mínima em sete meses.


“Não só o downgrade, mas a crise toda na Líbia complicaram as coisas para o Banco ABC Brasil, não há dúvida sobre isso”, disse Jansen Moura, analista de títulos corporativos da BCP Securities no Rio de Janeiro. “A dificuldade geral e as questõs sobre o future do país realmente assustaram os investidores.”

Preços atrativos

O prêmio que os investidores pedem para adquirir títulos corporativos brasileiros em relação aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos subiu 4 pontos-base ontem para 188 por cento, de acordo com dados do JPMorgan Chase & Co.

O custo de proteção contra calote com credit default swaps por cinco anos para os títulos brasileiros para caiu um ponto- base para 121, de acordo com preços disponibilizados por CMA. Credit-default swaps pagam ao comprador o valor de face em troca da proteção se o governo ou empresa vier a não pagar.

A queda dos títulos do ABC Brasil está deixando seus preços atrativos, de acordo com o ING Groep NV e BCP.

Ruído

Enquanto o “ruído das manchetes” pode causar um recuo ainda maior dos preços dos títulos, a “qualidade crescente dos ativos e lucratividade” do banco podem levar as taxas dos títulos de 7,85 por cento para até 7 por cento no mercado secundário, disse Natalia Corfield, analista de títulos corporativos do ING em Nova York.

O ABC Brasil tem classificação de risco Baa3 pela Moody’s Investors Service, o nível mais baixo no grau de investimento, e um nível abaixo do BB+ pela Fitch Ratings.

“O banco por si só é forte”, disse Robert Stoll, analista da Fitch em Nova York, em entrevista por telefone.

Os custos de captação do ABC Brasil começaram a subir este mês quando protestos no Oriente Médio levaram a queda dos presidentes da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, e do Egito, Hosni Mubarak. Qaddafi, que perdeu o controle de boa parte do o leste do país, região rica em petróleo, apelou ontem aos cidadão para parar com a violência enquanto suas tropas aumentaram a dureza com oponentes e mais de 100 pessoas morreram por tiros.

“A crise toda levanta incertezas, questões”, disse Moura, do BCP. “A maioria da equipe de administração do banco continua sem saber quão grande o impacto vai ser. ”

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