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Mercado hoje: Itália no foco da crise derruba juros e bolsas

Preocupação com a situação do país afeta o mercado e faz o dólar subir

As bolsas no mundo registram queda devido à situação da Itália (Getty Images)

As bolsas no mundo registram queda devido à situação da Itália (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de novembro de 2011 às 13h32.

São Paulo -- Os juros futuros caem, levando o contrato mais negociado ao menor nível em mais de quatro anos, com o receio de que a crise europeia se agrave, afetando o crescimento mundial e ampliando o espaço para o Banco Central cortar a taxa básica no Brasil.

O Ibovespa acompanha a baixa das bolsas externas e commodities, após uma empresa aumentar o depósito exigido para transações relacionadas à dívida italiana. O dólar sobe com o risco de aumento do contágio da crise europeia em meio à incerteza política na terceira maior economia da Região do Euro.

Internacional: Bolsas europeias e euro caem com Itália

As bolsas europeias e americanas caem após uma empresa de clearing aumentar os depósitos que exige em negócios com títulos da Itália, intensificando a crise europeia da dívida. O índice FTSE MIB, de ações italianas, chegou a perder 4,8 por cento, enquanto os títulos de cinco anos da terceira maior economia da Região do Euro caíram, elevando o juro para mais de 7 por cento.

O euro caiu ao menor nível em quatro semanas ante o dólar após a LCH Clearnet SA aumentar a exigência de depósitos para transações relacionadas à dívida italiana.

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, se ofereceu, ontem, para deixar o governo após o parlamento italiano aprovar o orçamento do país, enquanto o primeiro- ministro da Grécia, George Papandreou, negocia pelo terceiro dia para formar um governo interino.

“Há tanta incerteza sobre quem vai assumir, quando vai assumir, nós simplesmente não sabemos”, disse Gary Jenkins, chefe de renda fixa da Evolution Securities Ltd. em Londres. O mercado quer “um governo no poder o mais rápido possível para adotar as medidas de austeridade. Mas eles podem não conseguir o que querem”.


O petróleo se desvaloriza pela primeira vez em seis dias com a turbulência na Itália ampliando o receio de que a crise da dívida se espalhe, prejudicando a economia europeia. O cobre cai com o receio de que a crise europeia afete a demanda pelo metal.

Os títulos do Tesouro americano tiveram a maior alta em uma semana, reduzindo os juros de rendimento, com a maior procura por ativos de menor risco diante do receio de que a Itália se junte à Grécia na dificuldade para montar um governo forte o bastante para implementar as medidas de austeridade.

Os juros do título italiano de cinco anos passaram de 7 por cento pela primeira vez desde que o euro foi criado, em 1999.

As ações asiáticas subiram após a inflação na China ter registrado a maior desaceleração em quase três anos, dando às autoridades maior espaço para adotar medidas necessárias para sustentar o crescimento. Os preços ao consumidor aumentaram 5,5 no comparativo anual em outubro, em linha com a estimativa de analistas ouvidos pela Bloomberg e abaixo dos 6,1 por cento de setembro.

As vendas no varejo na China subiram 17,2 por cento em outubro na comparação com outubro de 2010, menos do que os 17,6 por cento estimados pelos economistas. A produção industrial aumentou 13,2 por cento no mês passado, ante estimativa mediana de 13,4 por cento.

Bolsa: Ibovespa cai com dúvidas sobre Itália e construtoras

O Ibovespa opera em queda pelo segundo dia, com a crise na Itália alimentando os receios de que a crise da dívida europeia vá atrasar a recuperação da economia global, o que derruba os preços das commodities.

A Petróleo Brasileiro SA e a Vale SA, empresas com maior peso no Ibovespa, se desvalorizam enquanto os metais e o petróleo caem. Construtoras como Brookfield Incorporações SA, Cyrela Brazil Realty S.A. Empreendimentos e Participações e Rossi Residencial SA, do setor dependente da demanda doméstica, lideram as quedas entre os papéis do índice.

O principal indicador da bolsa brasileira operava em queda de 1,9 por cento, para 57.878,68 pontos, às 13:59.

“Está bem ruim o cenário na Europa”, disse Fernando Góes, analista da Octo Investimentos SA, em entrevista por telefone. “Essa volatilidade vai continuar mesmo, a gente tem que se acostumar com isso.”


Juros: DI acelera baixa com Itália ampliando risco global

Os juros nos mercados futuros caem, levando o contrato mais negociado a menos de 10 por cento pela primeira vez desde maio de 2007, com o agravamento da situação política na Itália gerando receios de que a crise europeia prejudique o crescimento mundial, abrindo maior espaço para alívio monetário no Brasil.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro de janeiro de 2013 recua pelo sétimo dia seguido com o mercado apostando em uma política monetária mais agressiva como reação à crise externa. “O mercado está estendendo a previsão para o ciclo de corte do juro”, disse Solange Srour, economista-chefe do BNY Mellon Arx em entrevista por telefone do Rio de Janeiro.

O uso da capacidade instalada pelas empresas brasileiras caiu mais que o esperado, de 82,2 em agosto para 81,6 por cento em setembro, ante estimativa mediana de 82 por cento em pesquisa Bloomberg, disse ontem a Confederação Nacional da Indústria.

A equipe econômica discute a possibilidade de retirar as restrições ao crédito adotadas nos últimos 11 meses, as chamadas medidas macroprudenciais, para proteger a economia doméstica do desaquecimento mundial e evitar uma recessão, segundo um integrante do governo.

Além da maior flexibilização do crédito, o governo pode reduzir tributos para alguns setores da economia, disse a pessoa, que pediu anonimato porque não está autorizada a discutir publicamente o assunto. Segundo ela, existe um receio com a possibilidade de uma forte queda da atividade econômica, o que elevaria os custos de recuperação.

Câmbio: Dólar tem 1ª alta em três dias com aversão ao risco

O dólar sobe diante do real pelo primeiro dia em três, voltando a valer mais de R$ 1,75, com a disparada dos juros da dívida da Itália gerando receios de agravamento da crise europeia e afastando os investidores de ativos de risco.

“O que está prevalecendo hoje é a aversão ao risco”, disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, em entrevista por telefone de São Paulo. “Com os juros acima de 7 por cento, a dívida da Itália pode ficar insustentável”.

O fluxo cambial está negativo em US$ 34 milhões em novembro até o dia 4, disse hoje o Banco Central. Em outubro, o fluxo foi negativo em US$ 134 milhões. O dólar subiu 4,8 por cento ante o real na semana passada com o agravamento da crise europeia reduzindo a demanda dos investidores por ativos considerados de maior risco.

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