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Mercado financeiro se reorganiza para evitar proliferação de coronavírus

Corretoras e gestoras fazem "operação de guerra" para instalar equipamentos nas casas de seus colaboradores e retardar a expansão da covid-19

Mesas de operações vazias (Tetra Images/Getty Images)

Mesas de operações vazias (Tetra Images/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 24 de março de 2020 às 14h57.

Última atualização em 25 de março de 2020 às 00h51.

São Paulo - Fique em casa. O aviso, que se tornou símbolo da luta contra o coronavírus (Covid-19), também surtiu efeito no mercado financeiro. Desde as últimas semanas, quando o número de infecções no Brasil ganhou força, gestoras e corretoras vêm reforçando as medidas para evitar a proliferação da pandemia. Mas como a maioria dessas empresas faz uso de ferramentas complexas para operar e fazer análise de dados, a tarefa não foi tão simples.

Em São Paulo, estado com mais infectados do Brasil, 745 até terça-feira (24), algumas das maiores corretoras do país adotaram o home office, como foi o caso do BTG Pactual, XP Investimentos, Guide e Terra Investimentos. 

Na RB Investimentos, plataforma da RB Capital, todos os 126 funcionários estão trabalhando de suas casas. Foram montadas cinco mesas de operações: três para renda variável e duas para renda fixa - mudança que demorou, ao todo, cerca de 48 horas.

“Como usamos terminais de notícias e programas para operações, o nosso TI teve que ir até a casa dos colaboradores para fazer toda a instalação”, comentou. Segundo ele, também foi necessário alugar 35 notebooks para aqueles que não tinham computador em casa. “Foi uma operação de guerra mesmo”, disse Adalbero Cavalvanti, CEO da empresa.

Vanei Nagem, analista de câmbio da Terra Investimentos, também está trabalhando de casa. Ele conta que, além de sessenta ramais, também precisou levar sete telas para casa. Porém, só conseguiu instalar duas, já que teve problemas de conexão no quarto, onde pretendia trabalhar. A solução foi improvisar tudo na sala de casa. 

Mesa de operações montada por Vanei Nagem em sua casa (Vanei Nagem/Arquivo Pessoal/Reprodução)

“Tive que me adaptar. A internet só pega ligando o cabo no modem e não tem mais saída”, lamentou. Na Terra Investimentos, os funcionários estão recebendo sendo liberados gradativamente para trabalhar de casa. Até sexta-feira, será home office para todos. 

“No mercado financeiro, esses planos de contingência são levados muito à sério. Inclusive, com rotina de testes”, explica Cassiano Leme, CEO da gestora Constância Investimentos. De acordo com Leme, ferramentas de segurança cibernética e de nuvem exercem papéis fundamentais nessas horas.

No caso da Constância, que utiliza métodos quantitativos como uma das principais estratégias de investimento, o acesso a seus extensos bancos de dados estão se dando por meio de provedores em nuvem. “Esse bancos de dados não rodam em um computador normal. Se tivesse um incêndio no prédio, estaríamos funcionando muito bem”, afirmou Leme. 

Mas embora tenha se surpreendido positivamente com a eficácia do home office, para Leme, não é a mesma coisa do que quando todos estão no escritório. “Como não tem muito contato, não é o ideal para organizar iniciativas, novos projetos.”

Para tentar driblar a distância, Alberto Calvalcanti tem feito teleconferências. “Só na segunda-feira (23), realizamos oito chamadas virtuais”. 

Com mais de 25 anos no mercado financeiro, o CEO da RB Investimentos não se recorda de algo semelhante ao que o mercado financeiro está atravessando. “Já vi muitas crises, mas não com a mesma magnitude e intensidade.” O lado bom disso tudo, ele diz, é a tecnologia. “A gente conseguiu implementar um sistema corporativo de home office com bastante facilidade. Isso é algo que talvez não fosse possível em 2008."

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