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Lucro da MRV triplica no trimestre e analistas veem turnaround a caminho

A última linha do balanço ficou em R$ 181 milhões, ante R$ 57 milhões no mesmo período do ano passado

MRV: melhora de margem é sentida por analistas (MRV/Divulgação)
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 10 de agosto de 2023 às 16h48.

Última atualização em 11 de agosto de 2023 às 13h32.

A MRV&CO confirmou o início de um processo de retomada, depois de dois anos difíceis na pandemia. Nos três meses encerrados em junho, o lucro líquido triplicou, passando de R$ 57 milhões para R$ 181 milhões, um avanço que vem principalmente a partir dos bons resultados da vertical de incorporação no Brasil. A MRV teve um VGV recorde histórico, de R$ 2,2 bilhões, um aumento de quase 50% na comparação anual. Com um indicador de velocidade de vendas (VSO) também maior do que a do ano passado, de 29%

A incorporadora não só vendeu mais, mas também aumentou rentabilidade. O tíquete médio foi de R$ 227 mil, cifra 4,5% maior do que a registrada no período equivalente de 2022, mas um avanço expressivo em relação ao início do ano passado, em que esse valor era de cerca de R$ 170 mil.

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"Realmente tivemos um trimestre muito bom na parte de incorporação. Hoje como é a leitura? A gente teria um potencial maior de lançamentos e vendas do que estamos fazendo, mas não queremos só aumentar vendas, estamos focados em recuperação de margem e diluição de despesas", diz Ricardo Paixão, CFO da MRV, à Exame Invest.Na visão de Rafael Menin, CEO da MRV&CO, o segundo trimestre mostra uma consolidação do que a companhia se propôs a fazer no MRV Day, com o primeiro semestre até um pouco acima do guidance.

Um ponto marcado tanto nas entrevistas quanto no call de resultados é o resultado do novo Minha Casa, Minha Vida. "O debate veio logo no começo do governo, com bastante diálogo. O produto ficou robusto. Não é um programa novo, mas os parâmetros foram atualizados, com bom dinamismo do governo. Temos sentido uma vontade muito grande de acelerar o volume de unidades lançadas e executadas dentro do programa", afirma Menin, em entrevista.

No call de resultados, Eduardo Fischer, CEO da MRV&CO, corroborou a visão, afirmando que o novo MCMV trouxe transformações importantes, com “ferramentas” capazes de ajudar a companhia a chegar onde quer: crescer, com mais rentabilidade. Há discussões em andamento, hoje, sobre a faixa estendida — que seria a faixa 4 do programa, para imóveis de até R$ 500 mil — mas ainda não há um veredito sobre o assunto. Além disso, outros temas como o aumento de preço de imóveis que podem usar o FGTS para financiamento também é um tópico discutido, ainda sem uma definição completa.

“Independentemente disso, a gente tem nas mãos algo transformacional e que vamos usar em sua plenitude. Não precisamos de mais do que está aí, hoje. Vejo uma discussão muito responsável, mas nada muito diferente vindo pela frente”, disse Eduardo Fischer, CEO da MRV&CO, em call com analistas nesta manhã.

A companhia enfrentou um ciclo difícil em 2021 e 2022, com aumento de custos de quase 40% e com preços muito menores. Isso teve como resultado as piores safras da história da MRV, com margens de 16% e 17%.

Em 2022, quando começou a recuperar a trajetória de alta dos preços praticados, a companhia viu o volume de vendas diminuir — o que também impactou os resultados e, consequentemente, gerou queima de caixa para uma empresa acostumada a gerar resultados positivos.

No primeiro semestre deste ano, contudo, a situação é diferente. Depois de tanta turbulência, a MRV&CO está caminhando para colocar a casa no lugar. Ainda em relação à incorporadora, o CEO fez questão de frisar a projeção de vendas de R$ 40 mil por ano — um patamar do qual a empresa se aproximou bastante neste primeiro semestre. “Dado que o preço de vendas subirá acima da inflação até o fim do ano e somando isso com o novo Minha Casa, Minha vida, vemos a possibilidade clara de chegar a esse número em uma margem muito saudável”, afirmou Fischer.

Nessa trajetória de recuperação de volume e de margem, com custo de obra estável nos últimos três trimestres, a MRV está focada em vender principalmente o estoque e menos direcionada a desenvolver novos projetos. Nos três meses encerrados em junho, por exemplo, o  VGV de lançamentos foi de R$ 1,2 bilhão, queda de 36% na comparação anual.Por consequência, a companhia também vai investir menos em terrenos. Hoje, o landbank da MRV está avaliado em R$ 50,7 bilhões, estável em relação ao ano passado.

Esse conjunto vai proporcionar uma geração de caixa “totalmente diferente”, nas palavras do CEO, daqui pela frente. No segundo trimestre, a MRV teve um gasto de R$ 79,8 milhões, 23,5% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado.

Além dos planos com a incorporadora, o mercado também se preocupou em entender o futuro das demais subsidiárias, Resia e Urba (que permanecem com queima de caixa, ainda que menor do que a do ano passado) e Luggo, que passou a gerar caixa no período. Os planos, de modo geral, são de redução de investimentos em todas as frentes, de olho em preservar a saúde financeira da companhia.

Ficou o argumento no call, entretanto, de que essas são importantes avenidas de crescimento no futuro — sempre sob o argumento de que, em 2023, 2024 e 2025, a prioridade total é a geração de caixa. “A Resia, por exemplo, tem capacidade de crescimento de mais ou menos 15-20% ao ano. A gente tem um landbank já formado que permite crescimento nos próximos três anos”, disse o CEO.

A queima de caixa total no período foi de R$ 93 milhões, com dívida líquida de R$ 5,3 bilhões. No segundo trimestre, a MRV fez um follow-on de R$ 1 bilhão, dinheiro usado principalmente para melhorar a estrutura de capital da empresa e que deve levar o percentual de dívida líquida sobre patrimônio de 64% para 40%. “Alvancagem perto de zero é o que queremos, em um ano e meio e dois anos chegaremos lá”, afirmou o CEO no call.

No call, a companhia reforçou o guidance de geração de caixa de até R$200 milhões neste ano, e de R$ 300 milhões a R$ 500 milhões em 2024. Os analistas, de modo geral, gostaram do aumento em margem bruta e reforçaram a visão positiva de que o turnaround está em andamento.

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