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Juros da dívida apertam ainda mais o cerco em Portugal

Mercado secundário voltou a penalizar os bônus portugueses, com uma taxa que chegou a 8,55%

Títulos a curto prazo estão com taxas de juros ainda maiores (Getty Images)

Títulos a curto prazo estão com taxas de juros ainda maiores (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2011 às 12h12.

Lisboa - Os juros da dívida portuguesa continuam em alta e apertaram nesta segunda-feira ainda mais o cerco financeiro em torno de Portugal, que já está há duas semanas sob forte pressão dos mercados e sem consenso interno para pedir um resgate financeiro.

O mercado secundário voltou a penalizar nesta segunda-feira os bônus portugueses com novos aumentos das taxas de juros, que no caso dos títulos a 10 anos, que servem de referência, subiram para 8,55%, quase cinco pontos básicos mais que a cotação da sexta-feira.

A mais curto prazo a pressão é ainda maior e no caso dos bônus a cinco anos, que ultrapassaram na semana passada a cota de 9%, o juros subiu para 9,78%, três pontos básicos mais que na sexta-feira.

O mercado, preocupado com a crise política portuguesa e a convocação de eleições antecipadas para o dia 5 de junho, só dá um respiro aos títulos do país nos vencimentos de dois e três anos que, com quedas muito leves, se mantêm em 8,69% e 9,24%, respectivamente.

A alta de hoje é a primeira reação à nova redução de qualificações que a agência de qualificação Fitch aplicou na sexta-feira a Portugal, cuja dívida soberana ficou a apenas um passo de ser classificada como "bônus lixo", após um rebaixamento de três níveis que segue outro de dois aplicado uma semana antes.

A Standard and Poor's também posicionou no mesmo nível de solvência da República de Portugal por causa da crise aberta pela renúncia do primeiro-ministro socialista José Sócrates, no último dia 23, após rejeitar o Parlamento seu quarto plano anti crise.

As agências qualificadoras acham que Portugal vai precisar de ajuda externa em poucas semanas e advertem do perigo que significa para sua situação financeira a falta de acordo entre seus líderes para tramitá-la.

Nas últimas horas se intensificaram os conflitos entre o Partido Socialista (PS) de Sócrates e o Social Democrata (PSD), que propiciou a queda do Governo ao somar-se à oposição marxista na rejeição parlamentar do último pacote econômico.


O PSD tinha facilitado por outro lado a aprovação, só pela minoria socialista, dos anteriores três Planos de Estabilidade e Crescimento (PEC) exigidos por Bruxelas graças a sua abstenção.

Foi "um ato de total inconsciência, toda a oposição se juntou para derrotar o PEC que garantia que Portugal não precisaria de nenhuma ajuda externa", acusou Sócrates em um discurso em Porto.

O primeiro-ministro demissionário qualificou a decisão do PSD de "total irresponsabilidade" motivada por sua "ânsia de poder" e disse que passará aos anais da História como um sacrifício dos interesses do país para beneficiar o partido, que as pesquisas dão por vencedor das próximas eleições.

Sócrates se nega a ser ele quem afronte o mal e que tenha que pedir o resgate, mas o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, voltou a reprová-lo para que ponha o país em graves riscos financeiros por "orgulho político".

O dirigente conservador, que assumiu há um ano a Presidência de seu partido e é o quarto dirigente que tem o PSD em pouco mais de quatro anos, assegurou que ele "não duvidaria" em tomar essa decisão e ressaltou que o Governo socialista não pode evitar suas obrigações.

Na imprensa econômica local acredita-se que é uma questão de tempo para que o país fique financeiramente estrangulado por suas dificuldades de acesso ao mercado.

O Tesouro português conseguiu colocar na semana passada 1.645 milhões de euros a 15 meses e nesta quarta-feira tentará colocar em caixa outros bilhões a mais em prazos ainda mais curtos, de seis e 12 meses.

Os investidores parecem dispostos a comprar títulos portugueses, já de alto risco, que vencem antes de 2013, quando se verão prejudicados pelas normativas de Bruxelas sobre ajuda financeira.

Enquanto isso já há empresas portuguesas que confessam estar à beira da paralisia por não conseguir fundos, como o metrô do Porto, que precisa com urgência 300 milhões de euros para operar e não encontra quem os empreste.

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