Japão mantém confiança das agências de classificação de risco
Apesar dos efeitos do terremoto, país manteve sua nota nas principais agências; riqueza do país é justificativa, segundo analistas
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2011 às 16h12.
Paris - Apesar da crise nuclear, o Japão mantém a confiança das três grandes agências de classificação de risco mundiais, mesmo que o forte terremoto seguido de tsunami da semana passada deva afetar a economia nipônica.
Uma a uma, Fitch Ratings, Moody's Investors e Standard & Poor's confirmaram a nota que atribuem à dívida de longo prazo do arquipélago.
Tóquio recebe uma nota quase similar ("AA") das três agências, o que coloca o país na categoria dos bons pagadores. O país havia perdido em 1998 a prestigiosa nota "AAA", atribuída à maior parte das outras grandes potências industrializadas.
"O Japão é um país rico, que provou no passado que pode se recuperar de uma catástrofe natural", considerou Tom Byrne, responsável pela nota do Japão na Moody's. "É uma grande economia cujo PIB corresponde aos da Alemanha e da Itália juntos", acrescentou.
"O país pode pegar emprestado a taxas pequenas nos mercados e possui uma poupança colossal que lhe permite financiar a sua dívida, e isso deve ser levado em consideração", considerou Andrew Colquhoun, responsável pela nota japonesa na Fitch.
De acordo com o "triunvirato", é "cedo demais" para avaliar o impacto das catástrofes sobre a terceira economia mundial, que tem perspectivas de crescimento não muito favoráveis.
A Fitch "não vê, por enquanto, um impacto econômico suficientemente forte do recente tremor de terra seguido de um tsunami para revisar para baixo" a nota do país.
"Serão necessárias semanas, e até meses, para vermos se o que aconteceu afeta a nota", ressaltou Colquhoun, que acrescentou, entretanto, que sua agência vai revisar para baixo suas previsões de crescimento para o país.
Para a Standard & Poor's, a fatura total da reconstrução do país ainda é uma incógnita. Mas ela deverá ser mais elevada do que em 1995, após o terremoto de Kobe, que custou 159 bilhões de dólares ao Japão entre 1995 e 2000.
"Esses estragos tinham sido contrabalançados pelos investimentos destinados à reconstrução. O PIB então progrediu a um ritmo mais rápido do que antes do sismo", lembrou Tom Byrne.
Esse cenário deverá se repetir com os investimentos públicos ligados à reconstrução que poderão compensar a queda da produção e o afundamento da demanda, segundo a Moody's.
A maior preocupação passa a ser o pesado endividamento do país, que deverá aumentar ainda mais. O Japão tem uma dívida equivalente hoje a cerca de 200% de seu PIB, a proporção mais elevada entre os países desenvolvidos, em razão de seus vários planos de resgate de sua economia.
Mas a situação do Japão não é comparável à de países europeus em dificuldades financeiras, como a Grécia, a Irlanda e Portugal, indicam os analistas.
Isso acontece porque a economia japonesa tem um tamanho muito maior; depois porque por volta de 95% dos bônus do Tesouro estão nas mãos de investidores japoneses, o que reduz os riscos de falência do Estado.
"O Japão não vai pedir uma ajuda externa para financiar seu déficit público, ao contrário do que aconteceu na Irlanda e na Grécia, que tiveram que recorrer à Europa", ressaltou Tom Byrne.
Prudentes em relação à nota do país, as três grandes agências confiam menos nas empresas japonesas, que serão obrigadas a interromper sua produção.
Fitch, Moody's e S&P advertiram que as notas das empresas dos setores de seguros, automobilístico, tecnológico e energético serão afetadas a curto prazo. Panasonic, Fujifilm, Nikon, Canon e Toyota podem estar entre essas companhias.