IPOs despencam do Brasil à Rússia com inflação e juros em alta

São Paulo A explosão esperada para aberturas de capital no Brasil, Rússia e Índia não está se concretizando. A inflação pressionou a taxa de juros, provocou queda nos preços das ações e levou empresas a reduzirem ou cancelarem suas ofertas.

Depois das previsões do presidente da BM&FBovespa SA e também do maior banco coordenador da Rússia e do governo da Índia de que os IPOs triplicariam para US$ 64 bilhões este ano, as ofertas estão na verdade caindo.

As aberturas de capital no Brasil recuaram 29 por cento este ano, na comparação com 2010, para US$ 2,7 bilhões. Na Índia, queda foi de 74 por cento para US$ 753 milhões. Nos dois países, os valores são os menores para o período desde 2009, segundo dados compilados por bolsas e pela Bloomberg. Na Rússia, as ofertas subiram 16 por cento para US$ 3,3 bilhões, enquanto os IPOs na China recuaram 4,3 por cento para US$ 32 bilhões.

“Não é inteligente olhar para companhias de baixa qualidade”, disse Aquico Wen, que gerencia US$ 1 bilhão na Esemplia Emerging Markets em Londres. “Há muitas outras oportunidades no mercado.”

O cenário de ofertas de ações é diferente em outros países. Nos Estados Unidos, o LinkedIn Corp., com sede em Mountain View, na Califórnia, disparou logo no primeiro dia de negociações, avançando 109 por cento em 19 de maio. A HCA Holdings Inc., rede de hospitais com sede no estado americano do Tennessee, levantou US$ 4,35 bilhões em março e acumula alta de 12 por cento desde então.

Os cancelamentos de IPOs nos países emergentes seguem seus mercado de ações, com o Ibovespa e o índice Sensex, da bolsa de Mumbai, acumulando os piores desempenhos entre os 20 maiores mercados neste ano.

“Os mercados estão fracos”, disse John Ditieri, que ajuda a administrar cerca de US$ 13,5 bilhões em ações de mercados emergentes na Emerging Markets Management. “Os IPOs dos próximos meses deverão ter preços atraentes para conseguir investidores.”

IPOs no Brasil

A Qualicorp SA, corretora de seguros de saúde controlada pelo Carlyle Group, e a Brazil Pharma SA, varejista do setor farmacêutico, querem captar um total de R$ 2,4 bilhões em ofertas neste mês. A Perenco Petróleo e Gás do Brasil Participações SA, subsidiária da francesa Perenco SA, pretende levantar até R$ 1,1 bilhão na oferta a ser precificada em 1º de julho.

A OAO PhosAgro, maior fabricante de fertilizantes de fosfato da Europa, pretende captar até US$ 1 bilhão com seu IPO, disse o presidente, Maxim Volkov, em 17 de junho. As ações da companhia com sede em Moscou devem ser precificadas em 15 de julho, segundo documento obtido pela Bloomberg News.

Vendas suspensas

Pelo menos cinco empresas da Rússia e quatro do Brasil suspenderam seus IPOs. A QGEP Participações SA, produtora de petróleo e gás natural com sede no Rio de Janeiro, e a HMS Hydraulic Machines & Systems Group Plc, com sede em Moscou, venderam neste ano as ações abaixo da faixa de preço anunciada.

Ofertas canceladas na Rússia atingiram US$ 4 bilhões, enquanto companhias ao redor do mundo levantaram pelo menos US$ 112 bilhões este ano, acima dos US$ 98,4 bilhões no mesmo período do ano passado, segundo dados da Bloomberg. O total captado com  IPOs em 2009 foi de US$ 121,3 bilhões.

A alta das commodities, que no passado ajudou o País e a Rússia ao aumentar a receita obtida com exportações, se tornou um peso este ano. Com o avanço de 32 por cento no último ano do índice Standard & Poor’s GSCI index, que acompanha 24 commodities, os governos das nações emergentes decidiram aumentar os juros para conter a aceleração da inflação e a expansão do crédito.

O Banco Central elevou a Selic sete vezes, para 12,25 por cento, desde abril de 2010, quando a taxa estava na mínima histórica de 8,75 por cento. O Bank Rossii, banco central da Rússia, aumentou a taxa de depósito overnight quatro vezes desde dezembro, para 3,5 por cento. A Índia também elevou a taxa de juros, 10 vezes desde março de 2010, para 7,50 por cento. O Banco Central da China aumentou a taxa de depósito quatro vezes desde setembro, para 3,25 por cento.

‘Maior obstáculo’

O Ibovespa acumula em 2010 perda de 11 por cento, o Micex da Rússia caiu 2,8 por cento, o Sensex da Índia perdeu 14 por cento e, na China, a queda é de 5,7 por cento. O índice MSCI Emerging Markets que acompanha 21 mercados emergentes, acumula baixa de 3,3 por cento e o índice MSCI World, que segue 24 economias desenvolvidas, já subiu 1,8 por cento desde janeiro.

“A inflação provavelmente foi o maior obstáculo”, disse Tim Hall, que ajuda a administrar cerca de US$ 800 milhões como diretor-gerente na Deltec Asset Management, em Nova York. “O receio é quanto à reação dos bancos centrais à inflação, se eles dariam um passo muito grande e fariam um aperto forte ou se ficariam para trás e não apertariam o suficiente.”

A maior exceção da queda dos IPOs foram as empresas que atuam na indústria da internet.

A Yandex NV, dona do mais conhecido website de busca da Rússia, saltou 55 por cento em 24 de maio, primeiro dia de negociações na bolsa de Nova York, depois de ter vendido ações acima da faixa de preços estimada. A Qihoo 360 Technology Co., fornecedora de antivírus e navegadores para a Internet, com sede em Pequim, avançou 25 por cento em Nova York desde a captação de US$ 201,9 milhões de março na abertura de capital, que também ficou acima da faixa anunciada.

Queda da Renren

Depois da alta de 29 por cento no primeiro dia de negociações na bolsa de Nova York, em 5 de maio, a Renren Inc., rede social mais utilizada da China, acumulou perda de 48 por cento. As duas outras empresas chinesas do setor de Internet que abriram capital no ultimo mês, a NetQin Mobile Inc. e Jiayuan.com International Ltd., também estão sendo negociadas abaixo do preço inicial.

As perspectivas de um crescimento econômico maior nos emergentes do que nos EUA e na Europa levaram a projeções de uma enxurrada de IPOs, disse Ditieri, da Emerging Markets Management.

Elena Khisamova, chefe de renda variável na VTB Capital, maior banco coordenador de emissões de ações da Rússia, fez uma projeção em novembro de captação de US$ 20 bilhões em IPOs este ano, dizendo que qualquer abertura de capital de empresas da Rússia com tamanho “significativo” iria ser bem sucedida. Elena agora espera US$ 20 bilhões em ofertas iniciais e secundárias, das quais US$ 9,2 bilhões já aconteceram, disse ela em entrevista por telefone em 21 de junho.

Vendas na Índia

O governo indiano levantou 221,4 bilhões de rúpias (US$ 4,9 bilhões) com a abertura de capital de estatais no ano fiscal encerrado em 31 de março, menos do que a meta de 400 bilhões de rúpias, um objetivo que foi mantido para o ano fiscal corrente. Dezessete dos 20 maiores IPOs da Índia desde o ano passado têm as ações negociadas abaixo do preço inicial, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, disse em entrevista em janeiro que as aberturas de capital brasileiras em 2011 provavelmente iriam superar a marca recorde de R$ 55,6 bilhões, levantados em 2007. Ele abandonou essa estimativa depois que pelo menos quatro empresas cancelaram suas ofertas de ações este ano, segundo um funcionário da bolsa que pediu não ser identificado devido a regras internas.

A QGEP, petrolífera do grupo Queiroz Galvão SA, vendeu ações a R$ 19 cada uma em fevereiro, abaixo da faixa entre R$ 23 e R$ 29 anunciada pela companhia. Desde então, os papéis recuaram 13 por cento.

‘Operação cancelada’

A OAO Koks, maior exportador de ferro-gusa da Rússia, está se voltando para o mercado de títulos depois de postergar o IPO deste ano. A empresa captou US$ 350 milhões em títulos no exterior e outros 5 bilhões de rublos (US$ 179 milhões) em dívida neste mês.

A HMS Hydraulic Machines & Systems, produtora de bombas e fornecedora de serviços, vendeu certificados de depósito global em fevereiro a US$ 8,25 cada um, abaixo do intervalo esperado de US$ 9,25 e US$ 12 por unidade. Os GDR, na sigla em inglês, recuaram 14 por cento desde a emissão.

“Alguns investidores não querem participar de IPOs nos mercados emergentes, porque as experiências recentes não foram muito positivas”, disse Ed Kuczma, que gerencia US$ 30 bilhões na Van Eck Associates em Nova York. “Nada prejudica mais a projeção para novos papéis do que uma operação fracassada.”

São Paulo A explosão esperada para aberturas de capital no Brasil, Rússia e Índia não está se concretizando. A inflação pressionou a taxa de juros, provocou queda nos preços das ações e levou empresas a reduzirem ou cancelarem suas ofertas.

Depois das previsões do presidente da BM&FBovespa SA e também do maior banco coordenador da Rússia e do governo da Índia de que os IPOs triplicariam para US$ 64 bilhões este ano, as ofertas estão na verdade caindo.

As aberturas de capital no Brasil recuaram 29 por cento este ano, na comparação com 2010, para US$ 2,7 bilhões. Na Índia, queda foi de 74 por cento para US$ 753 milhões. Nos dois países, os valores são os menores para o período desde 2009, segundo dados compilados por bolsas e pela Bloomberg. Na Rússia, as ofertas subiram 16 por cento para US$ 3,3 bilhões, enquanto os IPOs na China recuaram 4,3 por cento para US$ 32 bilhões.

“Não é inteligente olhar para companhias de baixa qualidade”, disse Aquico Wen, que gerencia US$ 1 bilhão na Esemplia Emerging Markets em Londres. “Há muitas outras oportunidades no mercado.”

O cenário de ofertas de ações é diferente em outros países. Nos Estados Unidos, o LinkedIn Corp., com sede em Mountain View, na Califórnia, disparou logo no primeiro dia de negociações, avançando 109 por cento em 19 de maio. A HCA Holdings Inc., rede de hospitais com sede no estado americano do Tennessee, levantou US$ 4,35 bilhões em março e acumula alta de 12 por cento desde então.

Os cancelamentos de IPOs nos países emergentes seguem seus mercado de ações, com o Ibovespa e o índice Sensex, da bolsa de Mumbai, acumulando os piores desempenhos entre os 20 maiores mercados neste ano.

“Os mercados estão fracos”, disse John Ditieri, que ajuda a administrar cerca de US$ 13,5 bilhões em ações de mercados emergentes na Emerging Markets Management. “Os IPOs dos próximos meses deverão ter preços atraentes para conseguir investidores.”

IPOs no Brasil

A Qualicorp SA, corretora de seguros de saúde controlada pelo Carlyle Group, e a Brazil Pharma SA, varejista do setor farmacêutico, querem captar um total de R$ 2,4 bilhões em ofertas neste mês. A Perenco Petróleo e Gás do Brasil Participações SA, subsidiária da francesa Perenco SA, pretende levantar até R$ 1,1 bilhão na oferta a ser precificada em 1º de julho.

A OAO PhosAgro, maior fabricante de fertilizantes de fosfato da Europa, pretende captar até US$ 1 bilhão com seu IPO, disse o presidente, Maxim Volkov, em 17 de junho. As ações da companhia com sede em Moscou devem ser precificadas em 15 de julho, segundo documento obtido pela Bloomberg News.

Vendas suspensas

Pelo menos cinco empresas da Rússia e quatro do Brasil suspenderam seus IPOs. A QGEP Participações SA, produtora de petróleo e gás natural com sede no Rio de Janeiro, e a HMS Hydraulic Machines & Systems Group Plc, com sede em Moscou, venderam neste ano as ações abaixo da faixa de preço anunciada.

Ofertas canceladas na Rússia atingiram US$ 4 bilhões, enquanto companhias ao redor do mundo levantaram pelo menos US$ 112 bilhões este ano, acima dos US$ 98,4 bilhões no mesmo período do ano passado, segundo dados da Bloomberg. O total captado com  IPOs em 2009 foi de US$ 121,3 bilhões.

A alta das commodities, que no passado ajudou o País e a Rússia ao aumentar a receita obtida com exportações, se tornou um peso este ano. Com o avanço de 32 por cento no último ano do índice Standard & Poor’s GSCI index, que acompanha 24 commodities, os governos das nações emergentes decidiram aumentar os juros para conter a aceleração da inflação e a expansão do crédito.

O Banco Central elevou a Selic sete vezes, para 12,25 por cento, desde abril de 2010, quando a taxa estava na mínima histórica de 8,75 por cento. O Bank Rossii, banco central da Rússia, aumentou a taxa de depósito overnight quatro vezes desde dezembro, para 3,5 por cento. A Índia também elevou a taxa de juros, 10 vezes desde março de 2010, para 7,50 por cento. O Banco Central da China aumentou a taxa de depósito quatro vezes desde setembro, para 3,25 por cento.

‘Maior obstáculo’

O Ibovespa acumula em 2010 perda de 11 por cento, o Micex da Rússia caiu 2,8 por cento, o Sensex da Índia perdeu 14 por cento e, na China, a queda é de 5,7 por cento. O índice MSCI Emerging Markets que acompanha 21 mercados emergentes, acumula baixa de 3,3 por cento e o índice MSCI World, que segue 24 economias desenvolvidas, já subiu 1,8 por cento desde janeiro.

“A inflação provavelmente foi o maior obstáculo”, disse Tim Hall, que ajuda a administrar cerca de US$ 800 milhões como diretor-gerente na Deltec Asset Management, em Nova York. “O receio é quanto à reação dos bancos centrais à inflação, se eles dariam um passo muito grande e fariam um aperto forte ou se ficariam para trás e não apertariam o suficiente.”

A maior exceção da queda dos IPOs foram as empresas que atuam na indústria da internet.

A Yandex NV, dona do mais conhecido website de busca da Rússia, saltou 55 por cento em 24 de maio, primeiro dia de negociações na bolsa de Nova York, depois de ter vendido ações acima da faixa de preços estimada. A Qihoo 360 Technology Co., fornecedora de antivírus e navegadores para a Internet, com sede em Pequim, avançou 25 por cento em Nova York desde a captação de US$ 201,9 milhões de março na abertura de capital, que também ficou acima da faixa anunciada.

Queda da Renren

Depois da alta de 29 por cento no primeiro dia de negociações na bolsa de Nova York, em 5 de maio, a Renren Inc., rede social mais utilizada da China, acumulou perda de 48 por cento. As duas outras empresas chinesas do setor de Internet que abriram capital no ultimo mês, a NetQin Mobile Inc. e Jiayuan.com International Ltd., também estão sendo negociadas abaixo do preço inicial.

As perspectivas de um crescimento econômico maior nos emergentes do que nos EUA e na Europa levaram a projeções de uma enxurrada de IPOs, disse Ditieri, da Emerging Markets Management.

Elena Khisamova, chefe de renda variável na VTB Capital, maior banco coordenador de emissões de ações da Rússia, fez uma projeção em novembro de captação de US$ 20 bilhões em IPOs este ano, dizendo que qualquer abertura de capital de empresas da Rússia com tamanho “significativo” iria ser bem sucedida. Elena agora espera US$ 20 bilhões em ofertas iniciais e secundárias, das quais US$ 9,2 bilhões já aconteceram, disse ela em entrevista por telefone em 21 de junho.

Vendas na Índia

O governo indiano levantou 221,4 bilhões de rúpias (US$ 4,9 bilhões) com a abertura de capital de estatais no ano fiscal encerrado em 31 de março, menos do que a meta de 400 bilhões de rúpias, um objetivo que foi mantido para o ano fiscal corrente. Dezessete dos 20 maiores IPOs da Índia desde o ano passado têm as ações negociadas abaixo do preço inicial, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, disse em entrevista em janeiro que as aberturas de capital brasileiras em 2011 provavelmente iriam superar a marca recorde de R$ 55,6 bilhões, levantados em 2007. Ele abandonou essa estimativa depois que pelo menos quatro empresas cancelaram suas ofertas de ações este ano, segundo um funcionário da bolsa que pediu não ser identificado devido a regras internas.

A QGEP, petrolífera do grupo Queiroz Galvão SA, vendeu ações a R$ 19 cada uma em fevereiro, abaixo da faixa entre R$ 23 e R$ 29 anunciada pela companhia. Desde então, os papéis recuaram 13 por cento.

‘Operação cancelada’

A OAO Koks, maior exportador de ferro-gusa da Rússia, está se voltando para o mercado de títulos depois de postergar o IPO deste ano. A empresa captou US$ 350 milhões em títulos no exterior e outros 5 bilhões de rublos (US$ 179 milhões) em dívida neste mês.

A HMS Hydraulic Machines & Systems, produtora de bombas e fornecedora de serviços, vendeu certificados de depósito global em fevereiro a US$ 8,25 cada um, abaixo do intervalo esperado de US$ 9,25 e US$ 12 por unidade. Os GDR, na sigla em inglês, recuaram 14 por cento desde a emissão.

“Alguns investidores não querem participar de IPOs nos mercados emergentes, porque as experiências recentes não foram muito positivas”, disse Ed Kuczma, que gerencia US$ 30 bilhões na Van Eck Associates em Nova York. “Nada prejudica mais a projeção para novos papéis do que uma operação fracassada.”