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Investidor volta a temer política intervencionista com pedido de Bolsonaro

Presidente pediu que o BB reduzisse os juros durante a abertura da Agrishow

Bolsonaro: qualquer interferência do governo enfraqueceria a agenda liberal (Sergio Moraes/Reuters)

Karla Mamona

Publicado em 29 de abril de 2019 às 16h01.

Última atualização em 29 de abril de 2019 às 16h04.

(Bloomberg) -- O pedido do presidente Jair Bolsonaro para que o Banco do Brasil reduza as taxas de juros para o setor agrícola deixou alguns investidores em alerta com uma possível intervenção do governo nas empresas estatais.

"Apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros caiam um pouquinho mais", disse Bolsonaro durante um discurso em uma feira agrícola, depois de agradecer ao presidente do banco, Rubem Novaes, por disponibilizar R$ 1 bilhão em linhas de crédito para o setor. "Tenho certeza de que nossas orações vão tocar seu coração."

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As ações do Banco do Brasil caíram até 1,8% após os comentários de Bolsonaro, mas reduziram perdas depois.

As observações do presidente trouxeram uma sensação indesejável de déjà-vu a alguns investidores. Em 2012, a então presidente Dilma Rousseff determinou aos bancos estatais que baixassem as taxas de juros em uma estratégia para forçar os privados a seguirem o exemplo. O plano acabou não dando certo e contribuiu para a queda da rentabilidade do Banco do Brasil à mínima histórica em 2016.

Não é a primeira vez que Bolsonaro desperta preocupação em relação ao seu compromisso com uma agenda econômica liberal. No início deste mês, o presidente ordenou à Petrobras que suspendesse o aumento planejado dos preços do diesel, fazendo com que as ações da petroleira caíssem.

"Isso parece muito semelhante à controvérsia sobre o preço do diesel", disse James Gulbrandsen, gerente de recursos da NCH Capital. "Pode ser que ele apenas tenha dito o que veio à mente e planeje abordar o assunto com os membros relevantes da equipe."

O banco não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Patricia Urbano, gerente de portfólio da Edmond de Rothschild em Paris, disse que Bolsonaro corre o risco de ser comparado a Dilma até certo ponto, e que qualquer interferência enfraqueceria sua agenda liberal.

"Mas eu não acredito que isso vai acontecer, ele tem uma boa equipe econômica ajudando", disse ela.

Outro episódio de aparente interferência nos negócios do Banco do Brasil ocorreu na semana passada, quando Bolsonaro criticou uma propaganda do banco. O vídeo, que mostrava um elenco jovem e racialmente diverso tirando selfies para abrir a conta no banco, foi retirado do ar e o diretor de marketing responsável renunciou.

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