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Investidor na Turquia segue nervoso após tentativa de golpe

O complô fracassado para derrubar o presidente traz o risco de destruir o que resta da imagem da Turquia de país estável e capaz de atrair investimentos


	Militares da Turquia em monumento da praça Taksim, em Istambul, durante tentativa de golpe militar: agitação ameaça prejudicar ainda mais o legado de Erdogan
 (Murad Sezer/Reuters)

Militares da Turquia em monumento da praça Taksim, em Istambul, durante tentativa de golpe militar: agitação ameaça prejudicar ainda mais o legado de Erdogan (Murad Sezer/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2016 às 17h55.

Logo depois de uma vitória eleitoral que garantiu o governo a seu partido por quatro anos, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu garantiu em janeiro aos investidores em Londres que a Turquia era um lugar seguro para o dinheiro deles.

Quatro meses depois, ele foi obrigado a renunciar e, dois meses depois disso, aviões de combate F-16 bombardearam o parlamento em uma tentativa de golpe.

Com o país já envolvido na guerra da Síria, em um conflito com os curdos e assolado por uma série de ataques terroristas, o complô fracassado de sexta-feira para derrubar o presidente Recep Tayyip Erdogan traz o risco de destruir o que resta da imagem da Turquia de país estável e capaz de atrair investimentos suficientes para financiar um dos maiores déficits em conta-corrente entre as economias do G-20.

“As coisas não vão voltar à normalidade”, disse Brian Jacobsen, estrategista-chefe de portfólio da Wells Fargo Funds Management, que administra US$ 242 bilhões.

“Provavelmente veremos a fuga do capital estrangeiro do país, porque a instabilidade política cria riscos adicionais que os investidores não precisam”.

Após mais de uma década no poder, a agitação ameaça prejudicar ainda mais o legado de Erdogan como o homem que ajudou a Turquia a virar a página de anos de turbulência que culminaram na hiperinflação e na quebra de bancos antes que o Partido AK, que ele ajudou a fundar, vencesse as eleições em 2002.

Os opositores atribuem a instabilidade à tentativa do líder de 62 anos de consolidar o poder em seu gabinete e não no parlamento. Ele afirma que um sistema presidencial atende melhor aos interesses da Turquia.

Horas antes de os tanques avançarem pelas ruas de Ankara e Istanbul para tomar o poder, a situação não parecia tão ruim para os ativos da Turquia.

Com a ajuda da especulação de que os juros continuariam baixos em todo o mundo e do otimismo em relação à iniciativa de Erdogan para reatar os laços com a Rússia e com Israel, a lira tinha se recuperado mais de 6 por cento em relação ao piso histórico registrado em setembro.

O índice acionário de referência subiu 0,3 por cento no fechamento de sexta-feira, estendendo o avanço deste ano para 15 por cento.

Essa confiança evaporou quando uma facção do exército anunciou o golpe na sexta-feira, e a moeda despencou quase 6 por cento frente ao dólar.

Enquanto a confusão reinava em relação ao destino de Erdogan, as ações internacionais recuaram e um fundo negociado em bolsa vinculado às ações turcas caiu 2,5 por cento.

Na manhã de sábado, o presidente e seus seguidores tinham reestabelecido a ordem e agiram com rapidez para se vingar dos opositores. Mais de 6.000 pessoas foram detidas, inclusive militares, juízes e promotores públicos. No entanto, embora a lira tenha reduzido parte de suas perdas, as ações despencavam 4,8 por cento às 11h16 pelo horário de Istambul e caminhavam para o maior declínio em um ano.

No domingo, o banco central disse que fornecerá liquidez ilimitada aos bancos e tomará as medidas necessárias para garantir a estabilidade financeira.

O vice-primeiro-ministro Mehmet Simsek também tentou tranquilizar os investidores.

“Não há com que se preocupar”, disse o ex-banqueiro do Merrill Lynch no Twitter. “A Turquia está se normalizando rapidamente depois que a tentativa de golpe foi rejeitada pelo país. Os fundamentos macroeconômicos do nosso país são sólidos”.

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