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Ibovespa salta mais de 2%, na esteira dos EUA; Vale e Petrobras puxam alta

Em volta de feriado, bolsa local absorve altas da véspera e reflete otimismo externo antes de eleições

Donald Trump x Joe Biden: votações encerram nesta terça (Brian Snyder/Brandon Bell/Reuters)

Donald Trump x Joe Biden: votações encerram nesta terça (Brian Snyder/Brandon Bell/Reuters)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 09h28.

Última atualização em 3 de novembro de 2020 às 18h27.

O Ibovespa fechou em alta de 2,16% nesta terça-feira, 3, na volta de feriado, indo para 95.979 pontos, refletindo o bom humor internacional antes do fim das eleições americanas e se recuperando da pior semana desde março. O mercado local também absorveu o tom positivo que ditou os negócios no exterior na segunda-feira, 2.

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No exterior, os índices americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq encerraram com ganhos de 2,06%, 1,78% e 1,85%, respectivamente. Já na Europa, as principais bolsas, como a de Londres e de Paris, fecharam em alta de mais de 2%

Em pontos, as maiores contribuições para o Ibovespa vieram das ações da Vale (VALE3), Petrobras (PETR4), ambas puxadas pela alta dos preços das commodities, e bancos, com Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4), que divulga balanço após o fechamento deste pregão. 

Em porcentagem, as siderúrgicas lideraram o ranking das maiores altas. CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5) avançaram 9,01%, 6,28% e 6,24%, nesta ordem. Nesta tarde, a Moody's alterou a perspectiva do rating da Usiminas de negativa para estável, com a nota de crédito mantida em Ba3 em escala global. Do outro lado, encabeçaram as perdas os papéis de CVC Brasil (CVCB3), BR Malls (BRML3) e Sul América, com recuos entre 3,26% e 2,50%. 

Dólar

No mercado de câmbio, depois de tocar 5,65 reais mais cedo, na mínima do dia, em meio ao apetite ao risco do investidor neste pregão, o dólar comercial devolveu as perdas e virou para alta. A moeda fechou com ganhos de 0,42%, a 5,76 reais na venda. O movimento ocorreu na esteira da piora nas taxas dos juros futuros, que subiram após um leilão reforçado de 5 milhões de NTN-Bs, títulos públicos indexados ao IPCA, pelo Tesouro Nacional. Especialistas citaram ainda apreensão com estagnação de agenda de reformas e desconforto com a questão fiscal do país. 

Segundo Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG, a questão fiscal segue como pano de fundo e ajuda a pressionar o mercado local, após o Rodrigo Maia ter dito que o ministro Paulo Guedes seria uma voz isolada do governo favorável à manutenção do teto de gastos. “O mercado parece não estar querendo mais dar o benefício da dúvida para o país e quer medidas concretas de reformas”, disse. Na bolsa, a alta do Ibovespa é inferior a de outros índices acionários, principalmente, considerando os pregões do início da semana.

O diretor José Faria Júnior, da Wagner Investimentos, destaca que os juros futuros seguem em alta, com os contratos com vencimento em 2023 e 2025 muito estressados, o que, em sua leitura, aponta chance de nova rodada de alta nos juros em torno de 30 pontos-base. No mercado de câmbio, ele comenta que dólar segue completamente sem correlação com moedas de emergentes (como México e África do Sul) e moedas de commodities (como Canadá, Austrália e Nova Zelândia). Para Faria, o Copom ainda apontando chance de corte de juros e o total impasse fiscal impedem melhor performance de nossa moeda, que sofreu quase 20% de desvalorização em 5 meses para as moedas do México e África do Sul.

Eleições EUA

Apesar da alta das bolsas e da queda do dólar, a falta de clareza sobre o que ocorrerá após o encerramento das votações permanece. Embora o democrata Joe Biden siga à frente nas pesquisas, ainda há espaços para uma reviravolta nos instantes finais, tendo em vista que há sérias dúvidas sobre sua vitória em estados-chave. Também não se sabe se o Senado terá maioria do Partido Republicano ou Democrata.

Dada as incertezas sobre os resultados, o mercado local adota diferentes interpretações sobre os movimentos de alta nas bolsas de valores. Para parte de analistas consultados pela Exame, a expectativa de que os democratas vençam a corrida presidencial e consigam a maioria tanto na Câmara quanto no Senado ajuda a impulsionar o mercado acionário, outra acredita que a melhora do presidente Donald Trump na reta final das eleições é a razão do otimismo.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, os dois candidatos trazem aspectos positivos para as bolsas. "Se Biden for eleito, pode ser bom por um pacote de estímulo no curto prazo. Mas se der Trump, tem a parte boa de uma gestão fiscal mais saudável e não reverter o corte de impostos", comenta.

Mas, independentemente de quem levar o Legislativo ou a Casa Branca, a possibilidade do presidente Donald Trump contestar o resultado, caso não seja reeleito, é vista, por unanimidade, como o pior dos mundos, já que atrasaria ainda mais o resultado, aumentando as incertezas e – consequentemente – a volatilidade.

“Há grande risco de isso acontecer. Caso o Biden saia vitorioso, pode ter certeza que o Trump vai judicializar o resultado. Isso vai trazer uma volatilidade absurda”, diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.

"O mercado não teme uma vitória de Biden. O mercado teme que o Biden vença por uma diferença pequena, porque aí é praticamente certo que o resultado será contestado e levará mais tempo até que saia uma definição", afirma Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. Segundo ele, isso teria implicações diretas no pacote de estímulo americano. "Não vejo as negociações fluindo em meio a um debate judicial acerca das eleições. Esse seria o pior cenário."

Além das eleições americanas, está no radar dos investidores locais a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária e o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial de outubro do Brasil, divulgados nesta manhã. Enquanto a ata foi classificada como "sem grandes novidades" em relação ao comunicado divulgado após a decisão a semana passada, o PMI, que ficou em 66,7 pontos agradou, tendo em vista que ficou muito acima dos 50 pontos que dividem a expansão da contração da atividade econômica. O número também superou o crescimento apontado pelo PMI industrial de setembro, que ficou em 64,9 pontos.

Novo horário

O novo horário de funcionamento da B3 começou a vigorar nesta terça-feira, 3, com o fim do horário de verão nos EUA. Com isso, as negociações no mercado à vista vão das 10h até às 18h. Já as bolsas americanas passam a funcionar das 11h30 às 18h, horário de Brasília. O pregão com horário estendido na B3 vai até o dia 14 de março.

 

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