Ibovespa apaga alta com realizações ofuscando alta da Petrobras
Índice recua após cinco pregões consecutivos de ganhos, impactado por pressões políticas domésticas e pessimismo no exterior
Guilherme Guilherme
Publicado em 19 de abril de 2021 às 17h17.
Última atualização em 19 de abril de 2021 às 17h27.
Após encostar nos 122.000 pontos na máxima do dia, o Ibovespa encerrou a segunda-feira, 19, em leve queda de 0,15%, aos 120.933 pontos. O índice passou por realizações após operar em alta na maior parte do pregão, sustentado pelas ações da Petrobras (PETR3;PETR4), que representam quase 9% da carteira teórica do índice e dispararam mais de 5% no pregão de hoje.
Na última hora de pregão, no entanto, o índice virou para a queda. Para Rodrigo Moliterno, sócio e head de renda variável da Veedha Investimentos, o índice passou por um dia de realização, seguindo o exemplo do mercado americano. As bolsas de Nova York recuaram hoje em meio ao tom de cautela após quatro semanas seguidas de alta estimuladas por dados de recuperação econômica nos Estados Unidos.
“A ausência de novas notícias levou a um processo de realização após as altas da última semana. Vale lembrar que houve exercício de opções sobre ações hoje, o que leva investidores a realizarem o lucro”, afirma Moliterno. O exercício sobre opções movimentou 17,2 bilhões de reais na bolsa hoje.
Os investidores também estiveram atentos às notícias sobre o Orçamento de 2021, que é -- há semanas -- alvo de disputa entre Congresso e equipe econômica. O prazo para que o presidente Jair Bolsonaro sancione o texto termina nesta quinta-feira, 22.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, governo e Congresso conseguiram chegar a um acordo nesta tarde sobre o assunto. Seria aprovado um projeto de lei que retira da meta fiscal o programa de corte de jornada e salários, o Pronampe, e gastos emergenciais com saúde, abrindo espaço para as emendas parlamentares.
Na agenda econômica do dia, o principal destaque ficou com o índice de atividade econômica do Banco Central, o IBC-Br, referente ao mês de fevereiro, que teve alta de 1,4% na comparação mensal ante 1,04% registrado em janeiro. As estimativas eram de leve desaceleração da retomada, de crescimento de 0,9% em relação ao mês anterior.
"O mercado não reagiu tão positivamente ao IBC-BR porque a questão sanitária no Brasil vem se agravando de forma preocupante de fevereiro para cá. O país se tornou o epicentro global da pandemia, então as questões sanitárias são mais protagonistas”, argumenta Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos.
Além disso, Arthur Mota, economista da Exame Invest Pro, alerta que os números devem piorar nas próximas divulgações. "O resultado do primeiro semestre pode ser um pouco melhor, ou 'menos ruim' do que o mercado vem precificando no Focus", afirma em relatório.
No radar dos investidores também está o pacote americano de infraestrutura de 2,25 trilhões de dólares. Nesta segunda, o tema deve ser discutido em encontro entre o presidente Joe Biden e congressistas.
Destaques de ações
Os papéis da Petrobras foram o grande destaque do dia, liderando os ganhos do Ibovespa com altas de 5,80% nos papéis preferenciais ( PETR4 ) e 5,03% nos ordinários ( PETR3 ).
A forte alta nos papéis da petroleira se deu pouco após o novo presidente da companhia, o general Joaquim Silva e Luna, afirmar que não irá desrespeitar a paridade internacional do preço do petróleo. A declaração foi feita em evento que oficializa a posse de Silva e Luna no comando da empresa.
O possível desrespeito à paridade internacional tem sido uma das principais preocupações de investidores, já que foi justamente a alta dos combustíveis para equiparar aos preços praticados no exterior que desencadeou a crise que levou à demissão do antigo presidente Roberto Castello Branco.
A fala de Silva e Luna também provocou algum arrefecimento no dólar, que passou a cair em seguida, chegando a ser negociado a 5,54 reais na mínima intradia. A moeda também reagiu à notícia de um rumo para a aprovação do Orçamento, além de ter enfrentado um dia de enfraquecimento global.
A Braskem (BRKM5) também figurou entre as maiores altas do pregão, avançando 5,62% com notícia, divulgada pelo do Estadão, de que o fundo soberano dos Emirados Árabes, Mubadala, estaria em conversa com a Odebrecht (atual Novonor) sobre a aquisição da sua fatia de 50,1% na Braskem.
Outro papel de destaque no pregão foi o da JBS (JBSS3), que subiu 3,74%, após anunciar nesta manhã a compra da Vivera, a terceira maior empresa de produtos com base vegetal da Europa. O valor do negócio foi de 341 milhões de euros, equivalente a cerca de 2,3 bilhões de reais.
Na ponta negativa, as ações da Hering (HGTX3) lideraram as perdas, com queda de 3,98% após as fortes altas da última semana após a companhia ter negado a proposta da Arezzo (ARZZ3) de combinar os negócios das duas marcas.
Entre as varejistas de vestuário, as ações da Lojas Renner (LREN3) também estiveram entre as maiores as perdas do Ibovespa, após o anúncio de que fará uma das maiores ofertas de ações já feitas por varejistas brasileiras.
Com previsão de até 137,7 milhões de ações a serem emitidas, a empresa pode levantar mais de 6 bilhões de reais, se tornando a maior oferta realizada no ano. Até então, o "título" de maior oferta do ano está com a CSN Mineração, que arrecadou 5,2 bilhões de reais em IPO.
“O follow-on mostra que a empresa está em um bom momento, mas acaba pressionando as ações. Isso porque os investidores querem adquirir os papéis por um preço mais atrativo”, explica Moliterno.