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Grandes bancos apostam contra Mantega na valorização do real

De acordo com o Barclays PIc, com a retomada do investimento estrangeiro, o real vai chegar a R$ 1,50 por dólar nos próximos três meses

As medidas de Guido Mantega para frear o fluxo externo, que deflagrou o ganho de 43% no real desde o fim de 2008, mostram sinais de fadiga (Divulgação)

As medidas de Guido Mantega para frear o fluxo externo, que deflagrou o ganho de 43% no real desde o fim de 2008, mostram sinais de fadiga (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2011 às 10h24.

Nova York - Os maiores operadores mundiais do mercado de câmbio recomendam a seus clientes a apostarem que vai durar pouco o sucesso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em conter o avanço do real, com a retomada do investimento estrangeiro.

Deutsche Bank AG, Barclays Plc, Citigroup Inc. e Morgan Stanley aconselharam os investidores a comprar reais após a moeda brasileira ter caído ao menor nível em seis semanas, para R$ 1,6452 em 13 de maio. O real vai se valorizar 8,2 por cento, para R$ 1,50 por dólar nos próximos três meses, com a alta dos juros aumentando a atratividade dos ativos de renda fixa do País, de acordo com o Barclays.

As Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 rendem de 12,53 por cento, enquanto os papéis de prazo similar do Tesouro americano pagam 3,15 por cento e os papéis alemães, 3,06 por cento.

As medidas de Mantega para frear o fluxo externo, que deflagrou o ganho de 43 por cento no real desde o fim de 2008, mostram sinais de fadiga, depois do sucesso inicial. O Brasil recebeu US$ 881 milhões por dia em investimento estrangeiro e exportações líquidas em maio, dez vezes mais do que em abril, quando o Imposto sobre Operações Financeiras cobrado sobre empréstimos externos reduziu a oferta de dólares e colaborou para a maior queda do real desde novembro.

“O mercado sempre encontra formas de trazer dinheiro”, disse em entrevista por telefone Ram Bala Chandran, analista de câmbio e juros para América Latina do Citigroup em Nova York, quarto maior banco do mundo em negócios com câmbio. “O governo precisa ser mais criativo. Eles estão lutando. É mesmo muito difícil.”

‘Medidas duras’

O real está entre as 23 moedas de mercados emergentes que se valorizaram em relação ao dólar nos últimos três meses. O movimento é impulsionado pelas altas de juros para conter a inflação, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos mantêm sua taxa básica próxima de zero. Apenas duas moedas de países emergentes recuaram no período, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O Comitê de Política Monetária subiu a taxa Selic em 325 pontos-base, ou 3,25 pontos percentuais, para 12 por cento desde abril do ano passado para desacelerar a maior inflação em seis anos.


A taxa implícita nos contratos a termo de câmbio negociados no exterior, os chamados NDF, com prazo de um mês subiu para 7,4 por cento, após ter desabado para 1,6 por cento em 28 de abril, o menor patamar em sete anos. O rendimento do NDF é o retorno que o investidor tem quando aplica em reais no exterior.

Mantega, que em setembro passado disse que países estavam enfraquecendo suas moedas para sustentar as exportações como parte de uma “guerra cambial”, subiu em março o IOF para empréstimos de empresas e captações externas por bancos para reduzir a entrada de moeda estrangeira no País.

“Tomamos medidas duras”, disse Mantega em entrevista à Globo News em 17 de maio. “Conseguimos conter a enxurrada.”

Acima da meta

O comércio exterior e o investimento estrangeiro trouxeram US$ 8,8 bilhões nas duas primeiras semanas de maio, contra US$ 1,5 bilhão durante todo o mês de abril, quando a quantia foi a menor desde dezembro, de acordo com dados do Banco Central. A média diária de US$ 881 milhões é a mais elevada desde pelo menos 2009.

Em comunicados enviados por e-mail, o Ministério da Fazenda e o Banco Central se recusaram a fazer comentários para esta reportagem.


Kieran Curtis, gestor de carteira da Aviva Investors que ajuda a supervisionar US$ 2 bilhões em dívida de mercados emergentes, disse que comprou reais após vender a moeda no mercado futuro no fim de abril, quando a taxa implícita dos NDF desabou.

“Assim que os juros começam a se normalizar, a justificativa para investir menos no real desaparece”, disse Curtis em entrevista por telefone de Londres. “Os rendimentos são muito altos. No fim das contas, é isso o que importa.”

De acordo com negócios com contratos de Depósito Interfinanceiro, os operadores do mercado de juros futuros esperam que o BC aumente a Selic dos atuais 12 por cento para cerca de 12,5 por cento até o fim do ano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo atingiu 6,51 por cento nos 12 meses até abril, rompendo o teto da meta do governo pela primeira vez desde 2005.

Barclays, Citigroup

O juro real no Brasil, que exclui a inflação, é o segundo maior do mundo, atrás da Croácia, situação que colaborou para o real ser o melhor investimento em carry trade, ou arbitragem, em dois anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. No carry trade, os investidores tomam recursos em países que oferecem juros baixos para aplicar em ativos de maior retorno.

O Barclays, que na pesquisa da Euromoney Institutional Investor Plc foi considerado o segundo maior negociador de moedas do mundo após o Deutsche Bank, recomendou aos investidores apostar no real contra o dólar. O Deutsche Bank, primeiro da lista, aconselhou clientes a apostar no real contra o euro. O Citigroup, quarto maior no mercado de câmbio, e o Morgan Stanley recomendaram aos investidores que usassem NDF com prazo de três meses para apostarem na valorização da moeda brasileira.

Na semana passada o real subiu em relação ao dólar pela primeira vez em um mês, com ganho de 0,8 por cento para R$ 1,6228 por dólar. A valorização ajudou a reduzir a queda do último mês para 3,5 por cento, a mais acentuada em um ano, e diminuiu a perda em dólar nos títulos públicos denominados em real para 1 por cento.

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