As apostas dos fundos multimercados antes do 2º turno da eleição
Fundos costumam se mexer para evitar a volatilidade eleitoral de curto prazo atentos ao cenário macroeconômicos. Entenda no que estão apostando que irá acontecer
Marília Almeida
Publicado em 29 de outubro de 2022 às 07h00.
Última atualização em 29 de outubro de 2022 às 12h41.
As eleições presidenciais estão marcadas por intensa polarização, e isso vem se refletindo em volatilidade acima da média no mercado financeiro.
Como consequência, gestoras de fundos com estratégia macroeconômica vêm optando por montar algumas posições mais leves, sem grandes apostas, como forma de evitar choques de curto prazo, ao mesmo tempo em que buscam separar fatos de ruídos. É o que aponta relatório da especialista em fundos Juliana Machado, do BTG Pactual.
Entre os temas de maior apelo no pleito desse ano, mais uma vez o cenário fiscal desponta como uma das grandes preocupações para 2023 em diante. As expectativas de inflação mais baixas neste ano juntamente com a aceleração dos gastos com previdência e com o aumento do número de beneficiário do Auxílio Brasil ultrapassaram o espaço para acomodar as iniciativas dentro do teto de gastos para 2023. Logo, o teto precisará ser modificado para que o orçamento respeite as regras atuais.
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A despeito disso, o ano de 2022 deve se encerrar com dados econômicos melhores do que a expectativa, sobretudo se considerados as revisões negativas para o crescimento mundial, a inflação mais alta e o aumento dos juros nos EUA e Europa. A grande preocupação é que a dívida pública deve passar de 80% do PIB, com o ano de 2023 se iniciando com déficit primário do setor público em 0,4% do PIB.
Veja abaixo as posições mais dominantes entre os fundos multimercados,que aplicam em diversos ativos, como juros e moeda, e buscam ganhar com assimetrias do cenário macroeconômico, conforme relatório do BTG Digital:
Comprado em dólar contra cesta de moedas e comprado em bolsa Brasil
A maioria dos fundos multimercado de retorno absoluto (do tipo Macro e Long & Short) está posicionada a favor do dólar contra uma cesta de moedas globais. A visão geral é de que, apesar dos juros subirem nos EUA por conta do fortalecimento da inflação, a moeda americana ainda tem espaço para se valorizar ante o euro, pois a Europa lida com a desaceleração e o choque energético no fornecimento de gás da Rússia.
A maioria das assets carrega uma posição a favor da bolsa brasileira, citando oportunidades em empresas de setores mais defensivos, como utilidade pública e energia.
Incerteza quanto à política fiscal do presidente eleito inspira cautela
A vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva em relação a Jair Bolsonaro é bastante pequena nas vésperas do segundo turno e o Congresso eleito mostrou a força do PL, partido do atual presidente, na ocupação das cadeiras. Com isso, a maioria das gestoras trabalha com um portfólio mais leve no geral antes do pleito, dada a indefinição quanto à condução da economia.
A maioria também enxerga, a despeito da votação apertada, chances maiores de vitória de Lula. Embora haja relativa expectativa de que o ex-presidente adote algum controle fiscal no mandato por causa justamente do Legislativo bastante antagônico, o receio de uma política estimulativa em um cenário de inflação persistente mantém alguns gestores mais cautelosos.
Desaceleração na Europa, inflação nos EUA e China com lockdowns
O cenário no exterior não é menos desafiador do que o nacional. Entre os temas citados pelos gestores, destaque para a incerteza gerada com os sinais de redução de impostos e aumento de gastos no Reino Unido na tentativa de proteger a economia da forte elevação nos preços de energia, num contexto de recessão iminente.
Nos EUA, a economia permanece com alguns indicadores favoráveis, mas a persistente inflação demonstra a necessidade de um aperto monetário mais forte do que o antecipado, já sinalizado pelo Fed, para que atinja os efeitos desejados sobre os preços.
Na China, os gestores demonstram preocupação com a persistência da política de zero Covid e com a letargia no setor imobiliário, ambos detratores para a atividade econômica do gigante asiático e com consequências diretas para o já enfraquecido crescimento global.