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Fibria retoma confiança do detentor de dívida com venda de ações

Uma oferta de R$ 1,25 bilhão em ações tenta reduzir o endividamento da empresa

A Fibria tenta satisfazer os termos renegociados de seu empréstimo enquanto o governo brasileiro toma medidas para frear a valorização cambial (Germano Lüders/EXAME)

A Fibria tenta satisfazer os termos renegociados de seu empréstimo enquanto o governo brasileiro toma medidas para frear a valorização cambial (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 14 de março de 2012 às 06h17.

São Paulo/Rio de Janeiro - A Fibria Celulose SA está ganhando a confiança dos investidores do mercado de dívida com a venda de ativos e uma oferta de R$ 1,25 bilhão em ações para reduzir seu endividamento.

O rendimento da emissão de US$ 1,87 bilhão com vencimento em 2020 caiu 20 pontos-base desde 7 de março, um dia antes de a companhia anunciar seus planos de redução de dívida, para 6,36 por cento esta semana, mínima em sete meses, segundo dados compilados pela Bloomberg. O custo da dívida de concorrentes da Fibria igualmente considerados junk bonds caiu três pontos-base, ou 0,03 ponto percentual no período, para 8,01 por cento, segundo dados do Bank of America Corp.

A maior produtora mundial de celulose está reduzindo seu nível de alavancagem depois que a desvalorização de 16 por cento do real frente ao dólar no segundo semestre de 2011 elevou o custo de suas obrigações na moeda americana. Na época, a Fibria teve que renegociar as metas de desempenho atreladas à dívida, os chamados covenants.

“A Fibria está trabalhando para reduzir sua alavancagem, algo que eles vêm anunciando há um tempo e que tem se materializado de diferentes formas, como a venda de ativos”, disse Diego Torres, chefe de análise de crédito de mercados emergentes na Munita Cruzat y Claro S.A., em entrevista no dia 12 de março, de Santiago. “Vimos o anúncio como positivo.”

A Fibria tenta satisfazer os termos renegociados de seu empréstimo enquanto o governo brasileiro toma medidas para frear a valorização cambial.

Os bônus da empresa pagam 390 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2019, comparado a uma diferença de 438 pontos um mês atrás, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A companhia tem classificação de risco Ba1 na escala da Moody’s Investors Service, um nível abaixo do grau de investimento e dois abaixo da nota soberana.

Novo covenant

A Fibria anunciou em 8 de março o acordo para venda de ativos florestais por R$ 235 milhões para a Corus Agroflorestal SA. No ano passado, a dívida da empresa subiu ao maior patamar em 21 meses, de 4,8 vezes o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, ou Ebitda. A Fibria chegou a um acerto com os bancos credores em dezembro para elevar o limite de endividamento sob os termos de um empréstimo de R$ 2,5 bilhões.

Uma porta-voz da Fibria, que não pode ser identificada em obediência às políticas internas, se recusou a comentar.

Os termos revisados do empréstimo bancário limitam a proporção entre dívida líquida e Ebitda a 5,5 vezes no fim do primeiro trimestre e a 5,25 vezes no fim de junho, disse a Fibria.


A captação de recursos via oferta de ações e venda de ativos durante o segundo trimestre vai manter os indicadores da Fibria dentro dos novos limites durante o primeiro semestre, escreveu Daniel Sensel, estrategista de dívida corporativa do JPMorgan Chase & Co., em relatório a clientes em 8 de março.

‘Muito importante’

Os esforços da Fibria para diminuir o endividamento mostram que a empresa está comprometida com a recuperação do grau de investimento e com a restauração da confiança dos detentores de títulos, disse Dorothea Froehlich, que ajuda a administrar US$ 1,5 bilhão em dívida e ações de mercados emergentes na Claridien Leu.

As medidas “confirmam minha visão de longo prazo de que a classificação de risco e os credores são muito importantes para a empresa”, disse Dorothea, que tem títulos da Fibria em carteira, em entrevista por telefone de Zurique. “Eles enfatizaram no ano passado que fariam tudo o que pudessem para receber grau de investimento.”

A companhia foi formada em 2009 após a Votorantim Celulose e Papel SA resgatar a Aracruz Celulose SA por causa de US$ 2 bilhões em perdas com derivativos cambiais. O endividamento disparou para quase R$ 15 bilhões após a aquisição, levando a Moody’s a rebaixar a classificação de risco em um nível, de Baa3 para Ba1, em abril de 2009.

Melhora injustificada

Barbara Mattos, analista da Moody’s, disse que as medidas da empresa não são suficientes para uma melhora de classificação.

“Por agora, não temos elementos suficientes para justificar uma mudança da nota de crédito”, disse Barbara em entrevista por telefone de São Paulo. “Sem dúvida a venda de ações vai ajudar a empresa a cortar o endividamento. Ainda assim, os preços da celulose devem ficar estáveis ou em queda e o câmbio definitivamente não está ajudando.”

O índice global BHKP de preços da celulose caiu 14 por cento nos últimos 12 meses, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Este mês, a moeda brasileira tem mostrado o pior desempenho entre as 16 principais moedas acompanhadas pela Bloomberg, com uma desvalorização de 4,2 por cento após o aumento dos esforços do governo para conter a alta. A presidente Dilma Rousseff prometeu na semana passada tomar todas as providências necessárias para proteger a economia brasileira do que ela chamou de “tsunami monetário”, com os países ricos tentando depreciar suas moedas.

O dólar fechou em queda de 0,3 por cento ontem, a R$ 1,7922.

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