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Fibria e Gol renegociam dívida por causa do real mais fraco

A queda de 15 por cento do real em relação ao dólar neste segundo semestre tem elevado a dívida em moeda estrangeira das empresas

Em média, o rendimento dos papéis corporativos brasileiros caiu 16 por cento no período, enquanto houve baixa de 6 pontos-base nas taxas de títulos de empresas latino-americanas (GERMANO LUDERS)

Em média, o rendimento dos papéis corporativos brasileiros caiu 16 por cento no período, enquanto houve baixa de 6 pontos-base nas taxas de títulos de empresas latino-americanas (GERMANO LUDERS)

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Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2011 às 08h26.

São Paulo - Empresas como Fibria Celulose SA e Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA estão renegociando cláusulas de seus títulos e empréstimos. A desvalorização do real aumenta o custo do serviço de US$ 199 bilhões de dívida externa privada.

As taxas dos títulos em dólar da Fibria para 2021 subiram 37 pontos-base neste mês. Em média, o rendimento dos papéis corporativos brasileiros caiu 16 por cento no período, enquanto houve baixa de 6 pontos-base nas taxas de títulos de empresas latino-americanas com mesma nota de crédito BB da Fibria. O rendimento dos papéis da Gol para 2020 caiu 24 pontos-base, para 10,80 por cento. A companhia aérea está na terceira rodada de negociações sobre seus limites de alavancagem com credores, já tendo modificado alguns deles no início deste ano.

A queda de 15 por cento do real em relação ao dólar neste segundo semestre tem elevado a dívida em moeda estrangeira das empresas além dos limites estabelecidos nas cláusulas dos empréstimos e bônus com credores. Isso tem obrigado as empresas a resgatar dívida antecipadamente ou renegociar os termos de seus títulos com bancos e investidores. As notas de crédito dessas companhias também podem ser rebaixadas caso elas não consigam compensar os níveis mais altos de alavancagem com receitas maiores em dólares, disse Reginaldo Takara, analista da Standard & Poor’s em São Paulo.

“Isso vai aumentar a pressão sobre os ratings por conta do nível de alavancagem”, disse em entrevista por telefone Jane Yu, gestora de portfólio no BNP Investment Partners em Londres, que ajuda a administrar US$ 6,5 bilhões em dívida de mercados emergentes. “Está no papel, mas no fim isso também tem um efeito sobre a capacidade de pagar a dívida em dólares.”

Dívida

A dívida externa de empresas do setor privado brasileiro quase dobrou para US$ 199,3 bilhões em novembro, em relação aos US$ 102,7 bilhões no fim de 2009, de acordo com dados do Banco Central compilados pela Bloomberg News.


Empresas de mercados emergentes têm quantias recordes de dívida externa vencendo em meio a um aumento nos custos de financiamento e da maior desvalorização nas moedas desses países desde 2008. Companhias dos 10 maiores mercados em desenvolvimento têm pelo menos US$ 54 bilhões em títulos de dívida externa vencendo nos 12 meses até outubro, a maior quantia desde que a Bloomberg começou a compilar os dados, em 1999.

A Fibria, empresa sediada em São Paulo e maior produtora mundial de celulose, disse ontem em comunicado ao mercado que está renegociando cláusulas de seus empréstimos com bancos. Da dívida total de R$ 11,3 bilhões, 92 por cento é em moeda estrangeira, de acordo com documentos divulgados pela Fibria.

Empréstimos bancários

Empréstimos tomados junto ao Banco Santander SA, ao Citigroup Inc. e ao Bank of America Corp. exigem que a dívida líquida da Fibria fique abaixo de quatro vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização -- uma medida de fluxo de caixa conhecida como Ebitda -- no quarto trimestre, disse o diretor financeiro, João Elek Jr., em teleconferência com jornalistas em 26 de outubro. No terceiro trimestre, a dívida líquida foi equivalente a 4,2 vezes o Ebitda.

Ontem, a Moody’s Investors Service rebaixou a perspectiva da dívida da Fibria de positiva para estável.

A assessoria de imprensa externa contratada pela Fibria não fez comentários para esta reportagem.

Os bancos provavelmente irão perdoar a quebra de cláusulas financeiras restritivas, os covenants, dos exportadores, que têm receitas em dólares, disse Eduardo Muller Borges, chefe de mercados de crédito do Banco Santander SA em São Paulo, em entrevista.


“É um problema de balanço patrimonial -- o impacto da desvalorização rápida do real afeta os números de dívida líquida já, mas não está totalmente refletido ainda na receita e no Ebitda das exportadoras”, disse ele. “Os bancos estão renegociando com as empresas e vão perdoar as empresas que romperem cláusulas de alavancagem.”

Negociações

A Gol Linhas Aéreas, sediada em São Paulo, pode ultrapassar seus limites de alavancagem de empréstimo no quarto trimestre e já antecipa negociações com o Banco Bradesco SA e o Banco do Brasil SA, de acordo com e-mail enviado pela empresa em resposta a perguntas da reportagem. A companhia aérea já negociou seus limites de alavancagem com a International Finance Corp (IFC) e com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

A Gol acertou acelerar o pagamento de R$ 27 milhões devidos ao IFC e usou uma carta de crédito para fortalecer as garantias dadas para o empréstimo do BNDES, informou a empresa.

“Enquanto a companhia conseguir renegociar e ganhar alguma folga, não será uma grande preocupação”, disse Takara, da S&P, em entrevista por telefone. “É o efeito de médio a longo prazo que pode afetar os ratings se a empresa não conseguir trazer a alavancagem de volta para os níveis que esperamos em nossa análise.”

Perspectiva revisada

A Marfrig Alimentos SA teve a perspectiva de seu rating revisada de estável para negativa em outubro pela Standard & Poor’s por estar perto de atingir os limites estabelecidos nos “covenants” e por ter necessidades de refinanciamento no médio prazo, além de desafios operacionais para fortalecer fluxos de caixa, segundo a agência de rating.


A Suzano Papel & Celulose SA, segunda maior produtora de celulose do País, perdeu o grau de investimento em novembro, quando a Moody’s cortou a nota de crédito da empresa em dois níveis, citando a alta do endividamento com a desvalorização do real. A Suzano, com sede em Salvador, vai se encontrar com os detentores de seus títulos em 28 de dezembro e pode pedir que eles perdoem a quebra dos seus limites de endividamento pelo segundo trimestre consecutivo, segundo comunicado da empresa enviado ao mercado em 16 de dezembro.

A Marfrig não respondeu aos pedidos de entrevista. A Suzano não quis comentar, segundo sua assessoria de imprensa.

A Rede Energia SA, sediada em São Paulo, conseguiu perdão em empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e está com risco de quebrar covenants em bônus perpétuos, segundo Alexandre Muller, chefe de pesquisa de crédito corporativo do Banco BTG Pactual SA, em relatório em outubro.

A Rede Energia não respondeu aos pedidos de comentários.

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