Operadores da Bovespa fazem representação de um pregão eletrônico da bolsa, em São Paulo (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2014 às 17h38.
São Paulo - O ambiente macroeconômico desafiador do Brasil deverá continuar a impor riscos às empresas brasileiras, pelo menos, até meados de 2015, segundo relatório enviado hoje aos clientes pela agência de classificação de risco Moody’s Investors Service.
A agência, que avalia a saúde financeira tanto de países como de empresas, preparou um relatório intitulado “Qualidade do crédito corporativo no Brasil: Exportações e real enfraquecido impulsionam setor de proteína, mas açúcar/etanol e transporte terão defasagem”.
Para a consultoria, um real fraco e a alta do dólar deverão continuar a ajudar os exportadores brasileiros de carne bovina e aves a serem muito competitivos mundialmente.
Os produtores de açúcar e etanol, no entanto, enfrentam outro ano difícil em 2015, com menor disponibilidade de cana-de-açúcar, condições climáticas ruins e preços limitados do etanol , afirma a Moody’s.
O relatório diz ainda que uma economia doméstica fraca deverá se traduzir em “desempenhos mornos” para empresas de transporte e logística em 2014 e 2015.
Apesar disso, o programa brasileiro plurianual de infraestrutura, de US$ 246 bilhões, irá beneficiar as maiores construtoras.
E as mineradoras e siderúrgicas deverão resistir aos preços mais baixos e à demanda mais enfraquecida. “O ambiente macroeconômico do Brasil continua desafiador em 2014”, avalia Barbara Mattos, analista sênior da Moody’s.
“A economia apresenta dificuldades com o declínio gradual do consumo, desaceleração do investimento e deterioração da confiança do investidor”, observa.
Para ela, o consumo e a disponibilidade de crédito perderam fôlego, à medida que o endividamento das famílias e a inflação deixaram os consumidores menos inclinados a gastar.
A Moody’s espera que o PIB do Brasil cresça 1,3% em 2014 e 1,5% em 2015, depois de uma expansão de apenas 0,2% no primeiro trimestre, ante o trimestre anterior.
A confiança do consumidor brasileiro em junho de 2014 atingiu o menor nível em quase uma década, observa a agência.
Enquanto isso, pouca chuva e clima quente elevaram o risco de racionamento de energia, em decorrência do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas e comprometimento da geração de energia elétrica, alerta a Moody’s.
Uma redução obrigatória eventual no consumo de energia elétrica afetaria a produção industrial e, portanto, as receitas da empresas. Os preços mais elevados de eletricidade aumentariam os custos e pressionariam as margens.
A Moody’s acredita que um racionamento pode ficar limitado às regiões mais afetadas pela seca no Brasil, e as empresas com maior alcance geográfico podem “implementar ajustes de forma apropriada”, enquanto aquelas com produção de energia superior ao seu consumo próprio (empresas de celulose e açúcar/etanol) poderiam se beneficiar do racionamento, vendendo seu excesso de energia a preços mais altos.
O relatório da Moody’s faz parte de um pacote de cinco estudos sobre as principais questões afetando a qualidade de crédito das empresas nas maiores economias da América Latina, incluindo Argentina, Chile, México e Peru.