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Educação: a cartada da Kroton

Até onde vai a Kroton, o maior grupo de educação do mundo? Nesta quinta-feira, a revista EXAME revelou que a empresa está começando negociações para comprar sua maior concorrente, a Estácio. Foi um rebuliço na bolsa. As ações da Estácio subiram 22%, e as da Kroton, 13,5%. O ânimo com o preço é porque a […]

GALINDO, DA KROTON: companhia tem ano de incertezas com Fies e /
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Letícia Toledo

Publicado em 2 de junho de 2016 às 19h18.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h49.

Até onde vai a Kroton, o maior grupo de educação do mundo? Nesta quinta-feira, a revista EXAME revelou que a empresa está começando negociações para comprar sua maior concorrente, a Estácio. Foi um rebuliço na bolsa. As ações da Estácio subiram 22%, e as da Kroton, 13,5%. O ânimo com o preço é porque a fusão criaria uma empresa de quase 1,6 milhão de alunos, com um valor de mercado de 21 bilhões de reais e um lucro operacional de 3 bilhões de reais. Juntos, teriam 18% do mercado de graduação privada no Brasil.

A Estácio vale, depois do fechamento desta quinta, 4,2 bilhões de reais. A Kroton tem 574,4 milhões de reais em caixa e não teria grandes dificuldades para levantar o restante. Mas o plano da empresa é não utilizar dinheiro na compra, e sim ações. A relação de troca avaliada internamente pela companhia seria de 0,977 ação da Kroton para cada 1 ação da Estácio.

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A Estácio não tem controlador – seu maior acionista é o bilionário do setor de educação Chaim Zaher. Qualquer decisão, portanto, teria que passar pelo conselho de administração, que pretende se reunir ainda nesta semana para discutir a oferta de compra. Segundo uma fonte revelou à agência Reuters, o valor oferecido não reflete “o valor intrínseco e justo das ações da Estácio”. Mas, conforme divulgou EXAME, se o conselho barrar a proposta o presidente executivo da Kroton, Rodrigo Galindo, pode fazer uma oferta hostil pelo controle diretamente aos acionistas.

A pergunta que se impõe: o negócio seria aprovado? A Kroton tem operações de ensino presencial mais concentradas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, enquanto a Estácio tem campi em todos os estados do Nordeste e em alguns da região Norte. No ensino presencial, responsável por 80% da receita das companhias, portanto, haveria poucos problemas em aprovar o negócios no Cade, o conselho de defesa econômica. No ensino à distância, a coisa muda de figura. A nova empresa teria 55% de participação no mercado brasileiro de ensino à distância, segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira pelo banco Credit Suisse. Seriam mais de 1.100 pólos.

A compra da Estácio seria a mais ambiciosa aquisição de um histórico pra lá de agressivo da Kroton. Criada em 1966, a empresa já fez dezenas aquisições em sua história. Três delas mudaram a cara da companhia, e do setor. A primeira foi a compra da mato-grossense Iuni, em 2010, que deu à Kroton seu atual presidente, Rodrigo Galindo, um dos mais conceituados e ambiciosos executivos do setor. A segunda foi a compra da paraense Unopar, em 2011, que deu à Kroton a liderança no mercado de ensino à distância. Por fim, a fusão com a Anhanguera, anunciada em 2013 e aprovada em 2014, que consolidou a companhia na liderança do mercado brasileiro.

Desde então, o setor é dividido entre a Kroton, com mais de 1 milhão de alunos, a Estácio, que tenta ser a Kroton, e um pequeno grupo de empresas que tenta chegar perto da Estácio. Juntas, Kroton e Estácio acabariam com qualquer possibilidade de um nova briga pela liderança num futuro próximo. “Fica difícil concorrer com uma empresa desse tamanho”, diz o fundador de uma rede concorrente.

Juntas, as seis maiores concorrentes de Kroton e Estácio teriam perto de 1 milhão de alunos. A união é improvável porque esse grupo reúne empresas muito diferentes entre si: estão ali companhias abertas, como Ser e Anima, companhias familiares, como Uninove e Unip, e grupos internacionais, como Devry e Laureate. De qualquer forma, executivos do setor já admitem que uma união de Kroton e Estácio deve precipitar outros negócios no mercado. “Ficaríamos com muito pouco poder de fogo para competir. Precisaríamos de uma solução”, diz um concorrente.

Para o aluno, essa concentração crescente do mercado é uma boa notícia? Na teoria, uma empresa com 3 bilhões de reais de geração de caixa tem uma capacidade única de investir em tecnologia e em pagar ótimos salários para recrutar os melhores professores do mercado. A dúvida, claro, é se isso será feito. A Kroton costuma ser criticada por juntar alunos de diferentes disciplinas na mesma sala de aula – uma aula de finanças, por exemplo, pode ter alunos de administração, contabilidade, engenharia, e por aí vai. A estratégia ajuda a reduzir os custos e, segundo a empresa, não prejudica o ensino.

Atualmente, 98% dos cursos da Kroton são avaliados com nota igual ou maior a 3 no Ministério da Educação (MEC), o que representa um conceito pelo menos satisfatório. Segundo executivos do setor, mesmo que aprovada, a fusão levaria meses para ser avaliada pelo Cade, e até quatro anos até toda a integração ser concluída. É negócio para continuar impactando a bolsa até 2020.

(Letícia Toledo)

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