Exame Logo

Dólar vai a R$ 5,76; entenda os 4 fatores por trás da disparada da moeda

A cotação é a maior desde maio, quando a moeda americana chegou a ser negociada próxima dos 6 reais

(Jorge Araujo/Fotos Públicas)
PB

Paula Barra

Publicado em 28 de outubro de 2020 às 17h13.

Última atualização em 28 de outubro de 2020 às 18h16.

O dólar seguiu em trajetória de alta nesta quarta-feira, 28, tendo tocado a máxima de 5,789 reais ainda nos primeiros negócios do dia. No fechamento, o dólar comercial registrou valorização de 1,43%, a 5,763 reais na venda. A cotação é a maior desde maio, quando a moeda americana chegou a ser negociada próxima dos 6 reais. A alta do dólar ocorre em linha com a valorização da moeda americana no mundo. Entre as moedas emergentes, o rublo russo é a que mais desvaloriza, perdendo mais de 2% de valor frente ao dólar. O euro também apresenta depreciação, refletindo a segunda onda no continente. O mundo está mais complexo, mas dá para começar com o básico. Veja como, no Manual do Investidor.

Ainda pela manhã, o Banco Central chegou a fazer leilão à vista de 1,04 bilhão de dólares para tentar arrefecer a valorização da moeda americana. Embora a injeção de liquidez tenha levado o dólar para a casa dos 5,703 reais, não inverteu a direção da moeda, que segue em alta. "É complicado ficar fazendo leilão em um cenário desses. É nadar contra a corrente", afirma André Machado, sócio-fundador do Projeto Os 10%.

Veja também

No radar, quatro fatores podem explicar o nervosismo do mercado hoje: 1) o aumento de casos de coronavírus nos Estados Unidos e as medidas de restrições mais duras impostas pelos europeus; 2) a proximidade da eleição americana, marcada para o dia 3 de novembro; 3) paralisia no Congresso; e 4) investidores já colocando na conta o desmonte do overhedge —proteção cambial adicional adotada por bancos e cuja eficiência foi colocada em xeque diante de mudanças, anunciadas neste ano, em regras tributárias.

Segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton, a apreensão do mercado cresce com o aumento de casos de coronavírus nos Estados Unidos e medidas de restrição mais firmes na Europa, mas aponta que também tem de lembrar que estamos às vésperas da eleição americana, no dia 3 de novembro, o que ajuda a trazer mais volatilidade ao cenário.

“Apesar da vantagem do candidato democrata Joe Biden, o presidente Donald Trump se mostra reticente se esse processo será tranquilo”, comenta. Na visão do mercado, o pior cenário para o pleito será uma vitória apertada de Biden, que pode provocar reação negativa de Trump, como pedido de contagem de votos.

Olhando para o Brasil, a paralisia do Congresso também não ajuda, com provavelmente nada sendo votado antes das eleições municipais por aqui, lembrando que depois ainda teremos três semanas de recesso de Natal. "Omais provável é que o Congresso trabalhe em janeiro e somente daqui a 90 dias poderemos ter questões resolvidas", comentaJosé Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos.

Segundo ele, a não solução fiscal coloca em risco a recuperação da economia brasileira. “A alta do câmbio reflete, assim como os juros, a incapacidade do Brasil fazer ajustes sem antes flertar com o abismo”, disse.

Para Perfeito, com o país em stand by até o fim do ano, o Copom devendo manter hoje a Selic a 2% ao ano, e sem projeção de mexer nos juros neste ano, o dólar deverá subir para 5,90 a 6,00 reais até o fim de 2020, por causa da taxa de juro ajustada pelo risco (Selic/CDS), que está negativa, mostra certo desconforto do mercado. Segundo suas projeções, um aumento da Selic só deverá vir no primeiro trimestre do ano que vem, com os juros chegando a 4% ao fim de 2021.

O economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, diz que é o mesmo movimento que tem se repetido, com o real mostrando desempenho inferior aos seus pares. Olhando para o mercado doméstico, atrapalha tanto a indefinição fiscal, com a agenda de votações ficando para depois das eleições municipais, e ainda a indefinição sobre como acomodar o Renda Brasil, enquanto crescem especulações se o teto dos gastos será furado ou não, comenta.

Ele lembra também que no fim do ano terá as compras relacionadas ao overhedge de pouco mais de 15 bilhões de dólares, o que também vai entrando no radar dos investidores, uma vez que trará pressão adicional sobre o câmbio, além disso, hoje tem decisão do Comitê de Política Monetária, embora a expectativa seja por manutenção dos juros em 2,0% ao ano.

A bolsa caiu, é hora de correr para as montanhas? Vá do básico ao avançado com o curso Manual do Investidor

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCâmbioCDSCopomDólarEstados Unidos (EUA)Selic

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mercados

Mais na Exame