Mercados

Dólar sobe a R$1,90; governo sinaliza mais intervenções

Banco Central atuou para diminuir a valorização da moeda americana, mas não conseguiu impedir mais uma alta

Moeda americana acumula alta de 19% em setembro (Karen Bleier/AFP)

Moeda americana acumula alta de 19% em setembro (Karen Bleier/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2011 às 18h13.

São Paulo - O Banco Central (BC) evitou uma disparada maior do dólar nesta quinta-feira com uma intervenção pesada no mercado futuro, voltando a usar contratos de swaps tradicionais pela primeira vez desde junho de 2009.

O contra-ataque do governo à subida do dólar fez alguns investidores repensarem a estratégia no câmbio, avaliando que a moeda pode subir com menos intensidade após ter se valorizado 19 por cento somente neste mês. Outros operadores, no entanto, ainda temem que o medo de uma recessão global e de uma crise mais grave na Europa siga contaminando o mercado brasileiro.

A moeda norte-americana fechou em alta de 2,26 por cento, a 1,9000 real para venda, a maior cotação de fechamento desde setembro de 2009. O dia foi de muita volatilidade: pela manhã, o dólar chegou a 1,95 real, nível visto pela última vez em julho de 2009 e, após a intervenção do BC no mercado futuro, a moeda chegou a apresentar baixa de quase 1 por cento, abaixo de 1,85 real.

O BC vendeu o equivalente a 2,75 bilhões de dólares no mercado futuro para antecipar o vencimento de contratos de swap cambial reverso, que foram usados no começo do ano como parte da estratégia para frear a baixa do dólar. À tarde, a autoridade monetária afirmou em nota que "poderá voltar a atuar, a qualquer momento, de modo a assegurar condições apropriadas de liquidez nos mercados de câmbio."

O BC tem focado sua intervenção no mercado futuro porque avalia que o fluxo de dólares para o país continua, o que elimina a necessidade de queimar reservas internacionais para aumentar a oferta de moeda estrangeira no mercado à vista. A percepção é compartilhada pela maior parte dos investidores.

"O mais importante é que o mercado sentiu que o Banco Central quer botar uma banda (cambial). É como se ele dissesse: 'olha, 1,60 (real) eu não quero, mas a 1,90 eu também não vou deixar'", disse o operador de câmbio da corretora Interbolsa, Moacir Marcos Júnior, em referência também às medidas anteriores do governo para frear a queda do dólar quando o cenário internacional não estava tão turbulento.


'Arsenal' no mecado futuro

De acordo com uma fonte da equipe econômica, o governo pode retirar algumas das medidas que tinham o objetivo de diminuir a baixa do dólar. "Tem muita munição para ser usada ou retirada", disse à Reuters a fonte. Em julho, por exemplo, o governo decidiu cobrar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre as posições vendidas líquidas de câmbio. Na ocasião, o objetivo expresso era evitar mais valorizações do real.

Em Nova York, onde participa de reuniões com líderes mundiais, a presidente Dilma Rousseff disse que o governo brasileiro está preparado para tomar medidas adicionais para reduzir a volatilidade no mercado de câmbio. Na opinião do tesoureiro de um banco dealer de câmbio, que preferiu não ser identificado, o governo provavelmente gastará primeiro o "arsenal" no mercado futuro antes de aliviar as restrições às posições de câmbio.

Ainda há cerca de 6 bilhões de dólares em contratos de swap cambial reverso que podem ser revertidos por meio de leilões de swap tradicional, como ocorreu nesta quinta. "Se o mercado for para cima de 1,90 (real), ele deveria entrar de novo", acrescentou o tesoureiro.

O estrategista de câmbio para América Latina do BNP Paribas, Diego Donadio, já recomenda, no entanto, que os investidores realizem lucros em suas posições vendidas em reais e compradas em moedas latino-americanas, que apostavam numa performance pior do real em relação aos países vizinhos.

"O máximo que dá para se esperar agora é que o real perca valor tão rapidamente que leve o BC a ser ainda mais agressivo. Mas esse não é um cenário a ser trabalhado, especialmente quando se reconhece que o BC tem munição mais do que suficiente para produzir uma estabilidade temporária do dólar."

Disparada global do dólar

A disparada do dólar não era exclusividade do Brasil, embora a perspectiva de juros menores nos próximos meses e o imposto sobre o aumento de posições vendidas em derivativos deem mais combustível para o movimento no país.

Outras moedas associadas a investimentos de maior risco, como dólar australiano, peso mexicano e rand sul-africano também registravam fortes baixas nos últimos dias em meio à preocupação com a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos e com a ameaça de um calote da Grécia em meio à crise da dívida soberana da Europa.

A taxa Ptax, calculada pelo BC e usada como referência para os ajustes de contratos futuros e outros derivativos de câmbio, fechou a 1,9016 real para venda, em alta de 4,03 por cento ante quarta-feira.

Mais de Mercados

TCU aprova acordo entre Oi e Anatel sobre telefonia fixa e prevê R$ 5,8 bi em investimentos

Fed reconhece queda na pressão inflacionária, mas dirigentes querem mais confiança para reduzir juro

Ibovespa tem dia de alívio e fecha em alta; dólar cai a R$ 5,56

Paramount deve se fundir com Skydance, estúdio de 'Top Gun: Maverick', diz NYT

Mais na Exame