Dólar despenca 3% com expectativa de manutenção de juros baixos nos EUA
Mercado segue otimista, após presidente do Federal Reserve anunciar adoção de meta de inflação média
Guilherme Guilherme
Publicado em 28 de agosto de 2020 às 17h00.
Última atualização em 28 de agosto de 2020 às 18h22.
O dólar comercial caiu 3% nesta sexta-feira, 28, e encerrou sendo vendido a 5,416 reais. A desvalorização ocorreu em linha com a desvalorização global da moeda americana, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, anunciar a adoção de meta de inflação média — medida que deve manter as taxas de juro americanas próximas de zero por mais tempo.
No exterior, o dólar também caiu ante as principais moedas emergentes, como o peso mexicano, o rublo russo e a lira turca. Já o índice Dxy, que mede o desempenho do dólar contra pares desenvolvidos tem a maior queda em um mês.
De acordo com analistas da EXAME Reseach, a manutenção da taxa de juro americana próxima de zero nos Estados Unidos tende a manter o dólar desvalorizado e dar espaço para outras economias também deixarem seus juros baixos — o que favorece investimentos em renda variável, como ações.
“Se lembrarmos do que manda a regra de paridade de juros, o juro local precisa pagar pelo menos o juro americano, uma taxa de prêmio de risco e expectativa de desvalorização da moeda”, afirmam em relatório.
“Com os juros baixos nos Estados Unidos, o mercado procura outros lugares para aplicar. Deve continuar saindo dinheiro de lá”, afirma Vanei Nagem, analista de câmbio da Terra Investimentos.
No cenário local, a afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que o auxílio emergencial "não é aposentadoria" foi bem recebida pelo mercado, ainda receoso com o descontrole fiscal. O valor do auxílio, que se tornou um cabo de guerra entre o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes, deve ser apresentado ainda nesta sexta-feira.
O mercado também repercutiu positivamente a transferência de 325 bilhões de reais do Banco Central para o Tesouro Nacional. Os recursos fazem parte dos ganhos da reserva cambial com a valorização do dólar e servirão para o pagamento da dívida pública mobiliária interna.
“Isso adia um problema de curto prazo. Mas é um alívio temporário, que evidencia quão problemática está a situação fiscal no país. O colchão de liquidez do governo praticamente não existe mais”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.