Dólar dispara de olho em Bolsonaro e Petrobras apesar da atuação do BC
Câmbio foi afetado por mudança de comando na presidência da petroleira anunciado pelo presidente
Beatriz Quesada
Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 12h22.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2021 às 12h26.
(Reuters) O dólar disparava nesta segunda-feira, 22, com o real na posição de pior desempenho global no dia -- mesmo depois de o Banco Central vender 1 bilhão de dólares em contratos de swap cambial.
O dia era marcado por forte pressão nos ativos brasileiros, depois de o presidente Jair Bolsonaro indicar o general Joaquim Silva e Luna para assumir os cargos de conselheiro e presidente da Petrobras, o que reforçou temores de interferência na estatal.
Às 12h22, o dólar avançava 1,77%, a 5,4791 reais na venda. Na máxima, batida pouco depois das 11h, a cotação foi a 5,535 reais, alta de 2,79%. Na sequência, o BC anunciou oferta líquida de até 1 bilhão de dólares em swaps cambiais tradicionais, com venda integral do lote.
A colocação de contratos de swap tradicional equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. O BC ainda fez nesta segunda leilões de rolagem de swaps cambiais e de linhas de dólar com compromisso de recompra.
Na B3, o dólar futuro valorizava-se 2,34%, a 5,5105 reais, depois de alcançar 5,5350 reais, máxima desde 6 de novembro do ano passado.
O real apresentava o pior desempenho contra o dólar entre uma cesta de mais de 30 pares da moeda norte-americana neste início de semana, em um dia já negativo para várias divisas emergentes.
Interferência de Bolsonaro
Bolsonaro anunciou na sexta-feira que o governo decidiu indicar Silva e Luna para assumir os cargos após o encerramento do mandato do atual CEO da companhia, Roberto Castello Branco. O anúncio marca o ápice de uma crise entre Castello Branco e o presidente da República, após o executivo da Petrobras ter batido de frente em temas relacionados a preços de combustíveis e caminhoneiros.
Colaborando para a cautela entre investidores, Bolsonaro ainda disse no sábado que vai "meter o dedo na energia elétrica" e que, "se a imprensa está preocupada com a troca de ontem, na semana que vem teremos mais".
"O movimento do presidente levanta dúvidas quanto à possibilidade de interferência política em outras estatais e setores", disseram analistas da Genial Investimentos em nota a clientes. "Acende sinal vermelho no cenário político doméstico."
O Citi avaliou que o presidente já havia adotado práticas semelhantes no passado. "A reversão desses tipos de práticas por Bolsonaro no início de sua administração foi um fator positivo para a nota de crédito dos 'quase soberanos'. Uma reversão desta política é um claro (evento) negativo para crédito."
Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, explicou à Reuters que muitos investidores enxergam a Petrobras como um dos principais ativos de renda variável do Brasil. "Quando tem algum movimento muito forte em cima dela, acaba puxando o índice inteiro".
Às 12h11, o Ibovespa despencava 4,73%, para 112.823 pontos, enquanto a Petrobras tinha quedas de quase 20%.
Ainda assim, Cruz ressaltou que a RB ainda não enxerga uma mudança no cenário-base e que os mercados devem acompanhar as próximas declarações de Bolsonaro.
Auxílio emergencial na lista de preocupações
Os desdobramentos envolvendo a Petrobras vêm num momento de elevadas incertezas fiscais, com investidores continuando a acompanhar discussões em torno de mais auxílio emergencial para vulneráveis afetados pela crise da Covid-19.
Com a dívida pública em patamares recordes, a maioria dos analistas concorda que qualquer renovação de ajuda financeira à população deve vir acompanhada de medidas concretas de corte de gastos, sob o risco de desrespeito ao teto fiscal do governo em 2021.
Moedas emergentes X dólar
Enquanto isso, no exterior, outras moedas de países emergentes operavam com quedas acentuadas frente ao dólar nesta manhã, embora a taxas de desvalorização inferiores à do real.
Peso mexicano, lira turca e rand sul-africano, alguns dos principais pares da moeda brasileira, trabalhavam em queda de pelo menos 1%.
"Mesmo se não houvesse nada de relevante no cenário interno, o dólar provavelmente ainda estaria subindo bastante (contra o real), com os investidores preocupados com os rendimentos dos Treasuries e expectativas de aceleração da inflação nos Estados Unidos", disse Gustavo Cruz.
Na última sessão, na sexta-feira, a moeda norte-americana à vista registrou queda de 1,04%, a 5,3846 reais na venda.