Exame Logo

Depois de vender Aesop, Natura &Co traça plano para voltar a lucrar

"O problema mais agudo da companhia está resolvido", diz CEO do grupo de beleza; no primeiro trimestre, prejuízo foi de R$ 652 milhões, mas margens brutas melhoraram

De enxugamento de despesas administrativas à combinação da força de vendas, a Natura quer volta aos trilhos (Natura/Divulgação)
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 9 de maio de 2023 às 20h32.

Última atualização em 10 de maio de 2023 às 08h56.

Depois do sonho grande, a Natura &Co (NTCO3) mudou o foco do crescimento para a geração de caixa. É a jornada da companhia para tentar reverter as perdas e voltar a lucrar, algo que já começou a aparecer nos números do primeiro trimestre de 2023 e animou o mercado – a ação liderou as altas nesta terça-feira, 9. Mas essa missão está longe de ser fácil.

Se antes os US$ 2,52 bilhões da venda da Aesop pareciam sem destinação definida, agora a indicação é de que um plano está mais bem traçado. Vai ser esse montante que vai impulsionar a retomada das operações deficitárias do grupo, The Body Shop e Avon, e reforçar o momento mais forte de Natura.

Veja também

"É óbvio que tínhamos que fazer uma reestruturação financeira. Depois da venda da Aesop, as ações caíram. Mas eu tive certeza de que fiz a coisa certa. Alguém falou: 'mas vendeu o que tem crescimento?' E queria que eu vendesse o que? Tinha que vender a operação que tinha impacto no nosso número. Hoje, fazendo projeção de caixa, a gente fica extremamente confortável", diz o CEO da Natura & Co, Fabio Barbosa. O problema, que era o mais "agudo", segundo ele, está resolvido.

O executivo falou em coletiva com jornalistas na tarde desta terça-feira, sem deixar claro se novos desinvestimentos devem acontecer. Mas, ao contrário do que parte do mercado aventava, Barbosa diz que a venda da The Body Shop "não está no radar".

O reforço de caixa, argumenta o executivo, dá condições para a Natura &Co fazer investimentos que trarão retorno. "Mas com disciplina", reforça Barbosa. No primeiro trimestre, a dívida líquida da companhia aumentou em R$ 2 bilhões, para pouco mais de R$ 9 bilhões, o que deve ser endereçado com a conclusão da venda da Aesop prevista para ocorrer até o terceiro trimestre. O prejuízo líquido do período foi de R$ 652 milhões, estável em relação ao primeiro trimestre de 2022.

No primeiro trimestre, as margens brutas melhoraram em todos os negócios, com precificação mais intensa, mas esse avanço também tende a ser mais diluído ao longo do ano. De acordo com o CFO da Natura &Co, Guilherme Castellan, o carrego de preço foi maior no primeiro trimestre, já que a Natura &Co antecipou alguns aumentos de preço. "Margem bruta vai continuar forte nos próximos trimestres mas não vai ser na mesma magnitude. Em algumas marcas e categorias conseguimos antecipar aumento de preços para ter efeito no ano inteiro, considerando, sim, inflação futura ao longo desse ano."

E, ainda que a melhora das margens tenha sido uma supresa positiva para os analistas de mercado, o tamanho do desafio do grupo de beleza ainda deixa uma sensação de preocupação no ar. "Embora acreditemos que a proposta de venda da Aesop dá à empresa a flexibilidade financeira necessária para conduzir mudanças estruturais nas marcas remanescentes, a recuperação também traz riscos. Cortar representantes e mercados deficitários é, em última análise, necessário para melhorar a lucratividade, mas também vemos desafios na redução do negócio", escreve a equipe do Goldman Sachs.

The Body Shop, o desafio da Natura

Um dos maiores desafios da Natura &Co nesse momento é recuperar a The Body Shop. Comprada em 2017, a marca tem na origem propósitos parecidos ao da Natura, com ingredientes naturais, por exemplo. No primeiro trimestre, a receita da TBS caiu 9,4% e, apesar de melhora de 0,5 ponto percentual na margem bruta, a margem Ebitda ainda ficou 0,3 ponto percentual menor, a 6,1%.

Em abril, aempresa informou a saída de David Philip Boynton do comando da The Body Shop. Boynton liderou a marca e a transformação do negócio após a aquisição da The Body Shop em 2017. A marca britânica pertencia à L'Oréal. No seu lugar, Ian Martin Bickley foi nomeado como CEO interino.

"Avaliamos que a empresa precisava de uma nova energia. O David fez um bom trabalho, mas precisava de gente nova. É como trocar o técnico do time", compara Barbosa. O objetivo nessa nova fase é reduzir custos, melhorar posicionamento da marca e rejuvenescê-la. "O Ian é extremamente experiente na questão digital e precisávamos focar nisso", acrescenta o executivo, destacando que a marca está reduzindo número de SKUs e reformulando as lojas, além de sair da política de descontos.

Por fim, também vai intensificar a redução de despesas administrativas, que passaram a pesar mais enquanto as vendas caem, especialmente impactadas pelo momento inflacionário do Reino Unido."O que queremos é que The Body Shop volte a crescer. Ela tem um potencial muito grande", diz Barbosa.

Na Natura e na Avon, a Onda 2 de integração

Atualmente a melhor operação do grupo está na Natura &Co Latam, comandanda por João Paulo Ferreira. A divisão é especialmente puxada pelas vendas de Natura, que cresceram 25% na América Latina. No entanto, a tentativa de integração com a Avon ainda pressiona. As vendas da marca na região caíram 9,8%, refletindo as medidas da empresa para fazer a marca americana a voltar para os trilhos de rentabilidade.

Na chamada Onda 2 da integração dos negócios, o foco das sinergias está nas receitas, explica JP, como o CEO da Natura &Co Latam é comumente chamado. Para isso, o objetivo é que a base de revendedoras de Natura e Avon seja totalmente integrada, numa combinação da força de vendas.

Hoje, diz ele, a sobreposição de revendedoras Avon e Natura é de apenas 30% na média da América Latina (esse percentual é maior no Brasil, segundo ele, que não quis abrir o número). "É uma grande fonte potencial de crescimento. É a oportunidade de mostrar ao consumidor um portfólio ampliado", argumenta.

Essa meta da Natura &Co não é à toa. As consultoras Natura têm rentabilidade maior do que a revendedoras Avon. O primeiro foi o Peru. "Resultados foram bastante encorajadores e nos deram confiança para seguir a diante com a Colômbia e, ao menos que tenhamos alguma mudança inesperada, seguir no Brasil ainda este ano."

Acompanhe tudo sobre:Natura

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Invest

Mais na Exame