Mercados

Depois de leilão a termo, mercado vê mais intervenção

Fortes ingressos de recursos trouxeram o Banco Central de volta ao mercado

A autoridade monetária retoma as compras de dólares conforme a moeda ameaça o "piso" informal de R$ 1,70 (Valter Campanato/ABr)

A autoridade monetária retoma as compras de dólares conforme a moeda ameaça o "piso" informal de R$ 1,70 (Valter Campanato/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 19h24.

São Paulo - A queda continuada do dólar em meio a fortes ingressos de recursos trouxe o Banco Central de volta ao mercado nesta sexta-feira, com a autoridade monetária retomando as compras de dólares conforme a moeda ameaça o "piso" informal de 1,70 real.

Para alguns profissionais do mercado, no entanto, o BC pode precisar ser mais incisivo se quer mesmo manter a taxa de câmbio acima daquele patamar. As perspectivas de novas entradas de recursos estrangeiros diante da recuperação do apetite por risco internacional favorecem um dólar mais enfraquecido.

Nesta manhã, a autoridade monetária anunciou o leilão de compra de dólares a termo, semelhante à compra de moeda no mercado à vista. A diferença se dá na data de liquidação: as compras a termo têm liquidação futura, definida no momento do anúncio, enquanto as aquisições à vista são fechadas em dois dias úteis.

A liquidação da operação desta sexta-feira ocorrerá em 20 de março de 2012 e o BC definiu como taxa de corte de 1,7383 real.

Foi a primeira intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio neste ano e a primeira operação desse tipo desde 26 de julho de 2011. Naquele momento, o BC atuava de forma pesada do mercado -também via leilões de compra no mercado à vista e no futuro (swap reverso)- para tentar segurar a cotação, que em torno de 1,55 real rondava as mínimas em 12 anos.

Em 27 de julho, um dia depois de o BC realizar seu última leilão a termo do ano passado, o governo anunciou uma taxação sobre as exposições em derivativos cambiais, feitas tanto por instituições financeiras quanto pessoas físicas, em um esforço para reduzir as apostas contra o dólar e conter a valorização do real.

Ação esperada

A atuação do BC nesta sexta-feira confirmou expectativas que já circulavam há dias entre os agentes econômicos, depois que o dólar caiu na maior parte do mês de janeiro e atingiu as mínimas em três meses frente ao real. No ano, até a véspera, o dólar acumulava baixa de 7,85 por cento frente ao real.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, considerou que uma intervenção do BC já era esperada, e que a autoridade monetária pode atuar de forma mais agressiva caso considere necessário".

"O BC vai querer defender a linha de 1,70 (real), e acho que se esse leilão não surtir o efeito desejado, (o BC) vai fazer um (swap) reverso ou comprar dólar à vista", afirmou.

Galhardo ponderou, contudo, que o BC terá de ser um "comprador ousado", uma vez que a tendência do dólar ainda é de queda, refletindo perspectivas de mais ingressos de recursos externos ao país e a melhora no quadro internacional.


O fluxo cambial ao país está positivo em 6,501 bilhões de dólares nas quatro primeiras semanas de janeiro, sustentado praticamente pelo fluxo financeiro.

Operadores já vinham notando importantes ingressos de recursos ao longo de janeiro, oriundos principalmente de uma série de captações externas anunciadas por empresas brasileiras, iniciadas após o próprio governo fazer uma emissão internacional no início do mês passado.

A última grande captação corporativa foi anunciada pela Petrobras, que lançou 7 bilhões de dólares em bônus no exterior nesta quarta-feira.

Para o estrategista-chefe do banco WestlB do Brasil, Luciano Rostagno, a estratégia do BC reflete a postura do governo para defender exportadores, que têm suas receitas afetadas pelo câmbio desvalorizado.

"Os resultados da balança no mês passado foram ruins, e ao que tudo indica o governo quer atuar em várias frentes para impedir outro mês ruim. E o câmbio é uma das principais", afirmou.

Em janeiro, a balança comercial registrou déficit de 1,291 bilhão de dólares, recorde para o mês e o primeiro saldo negativo em dois anos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou recentemente que o governo agiria para proteger o setor exportador.

O anúncio da compra de dólares levou a moeda norte-americana a reverter a queda e passar a operar em alta por algum tempo, batendo na máxima de 1,7291 real e, na mínima, 1,7169 real. Mas, logo em seguida, vieram dados positivos sobre a economia norte-americana, que deixaram o mercado um pouco volátil.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCâmbioDólarMercado financeiroMoedas

Mais de Mercados

Goldman Sachs vê cenário favorável para emergentes, mas deixa Brasil de fora de recomendações

Empresa responsável por pane global de tecnologia perde R$ 65 bi e CEO pede "profundas desculpas"

Bolsa brasileira comunica que não foi afetada por apagão global de tecnologia

Ibovespa fecha perto da estabilidade após corte de gastos e apagão global

Mais na Exame