De R$ 3,90 a R$ 4,20: analistas elevam projeções do dólar para fim do ano
Se em julho era factível imaginar a moeda abaixo de R$ 3,80, agora a maior parte dos analistas revisa seus cálculos para cima
Tais Laporta
Publicado em 23 de setembro de 2019 às 07h30.
Última atualização em 23 de setembro de 2019 às 07h30.
Não espere um dólar abaixo de R$ 4 até o final de 2019. Se em julho era factível imaginar a moeda americana abaixo de R$ 3,80, agora a maior parte dos analistas revisa seus cálculos para cima. No cenário mais pessimista, a equipe do BTG Pactual vê a moeda em R$ 4,20 – acima do último recorde nominal, que foi de R$ 4,1957 em 13 de setembro de 2018.De julho a setembro, a cotação chegou a variar entre R$ 3,72 e R$ R$ 4,18.
As projeções variam bastante, visto que o câmbio é um dos componentes mais difíceis de prever em condições normais -- imagine num cenário de guerra comercial e revisões de crescimento do PIB como o atual. A consultoria Tendências passou a projetar a moeda a R$ 4, ante uma estimativa de R$ 3,75 em agosto. A corretora Necton passou dos R$ 4,05 para R$ 4,15 esta semana.De cinco casas consultadas, a Mirae Asset é a única que mantém a previsão anterior de R$ 3,90 para o final do ano.
Do otimismo à cautela
Em questão de semanas, tensões no cenário internacional desviaram o foco positivo da Previdência e adicionaram riscos que não estavam na conta. Em agosto, o embate interminável entre EUA e China levantou temores de uma nova recessão global, pressionando a moeda americana contra seus pares internacionais. O agravamento da crise na Argentina também ajudou a enfraquecer o real, eataques a refinarias na Arábia Saudita aumentaram a insegurança de uma nova tensão geopolítica.
A aversão ao risco marcou o comportamento dos mercados em agosto e levou a uma corrida por moedas mais seguras em detrimento às emergentes, destacou o BTG em relatório mais recente sobre o câmbio. “Não à toa, o real só ganhou valor frente ao peso argentino”, escreveram os analistas.
Diferencial de juros
Esta semana, outro fator elevou as apostas de um dólar ainda mais alto: a queda no diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos (conhecido como carry trade). Na prática, ele consiste em tomar dinheiro em um país a taxas mais baixas e investir em outro com taxas maiores. Como no passado era maior a distância entre o juro brasileiro, sempre mais alto, e o americano, os estrangeiros viam o Brasil como atrativo para este tipo de operação.
Mas tudo mudou desde que o BC do Brasil passou a cortar os juros básicos a uma velocidade maior que o Federal Reserve nos Estados Unidos. No último corte, o segundo do tipo, o Copom reduziu a Selic em 50 pontos-base, para 5,5% ao ano, enquanto o BC dos EUA promoveu um corte de 25 pontos-base, entre 1,75% e 2% ao ano.
Foi assim que a distância entre as duas taxas ficou ainda menor. Caiu de uma média de 5,1% ao ano para 2,1% agora –, o que incentiva a fuga de recursos estrangeiros. Logo após a decisão do Copom na quarta-feira, o dólar escalou de R$ 4,07 para R$ 4,16 em duas sessões.
“Nos EUA, o tom foi mais cauteloso na condução da política monetária e isto fará o real perder mais contra o dólar, uma vez que teremos ao fim deste ano uma Selic de 4,5% com uma moeda que tem volatilidade de 15%”, afirmou em nota o economista-chefe da Necton, André Perfeito.
A julgar pela mensagem de Fed e do Copom, este ritmo de cortes tende a continuar nas próximas decisões, reduzindo ainda mais o spread (diferença de juros) entre os dois países. Por enquanto, os analistas preferem manter uma visão mais conservadora.
Veja abaixo projeções para o dólar no final de 2019:
Tendências
- Antes: R$ 3,75
- Agora: R$ 4,00
BTG Pactual
- Melhor cenário: R$ 3,55
- Cenário neutro: R$ 3,80
- Pior cenário: R$ 4,20
Necton
- Antes: R$ 4,00
- Depois: R$ 4,15
Mirae Asset
- Antes: R$ 3,90
- Depois: R$ 3,90
Coinvalores
- Antes: R$ 3,90 a R$ 3,95
- Depois: R$ 4,00 a R$ 4,05
Bradesco
- Última projeção: R$ 4