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Da bolha da Nasdaq à bolha dos imóveis

Não é a primeira vez - e provavelmente não será a última - que o mundo acompanha o estouro de uma bolha especulativa. À primeira vista, todas as bolhas parecem iguais, provocando perdas no mercado financeiro e causando desespero nos investidores. Um olhar um pouco mais atento, no entanto, mostrará que há sensíveis diferenças entre […]

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Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2011 às 14h34.

Não é a primeira vez - e provavelmente não será a última - que o mundo acompanha o estouro de uma bolha especulativa. À primeira vista, todas as bolhas parecem iguais, provocando perdas no mercado financeiro e causando desespero nos investidores. Um olhar um pouco mais atento, no entanto, mostrará que há sensíveis diferenças entre elas.

A consultoria de investimentos GaveKal, de Hong Kong, divide as bolhas de acordo com o tipo de ativo usado e a forma de financiamento da especulação (veja na tabela abaixo). De acordo com essa classificação, o melhor (ou menos pior) tipo de bolha é aquele que envolve ativos produtivos e é financiada pelo mercado de capitais, como foi a de tecnologia nos Estados Unidos, no final da década de 90.

Na ocasião, passado o pânico, o que sobrou foram grandes investimentos em tecnologia e telecomunicações, que puderam ser utilizados para aumentar a produtividade da economia e permitiram a rápida retomada americana (e mundial) nos anos seguintes. E o fato do financiamento ter sido feito via mercado de capitais fez com que o final da onda não gerasse quebras de bancos com suas graves conseqüências para a economia.

Diferentemente do que aconteceu no Japão, na década de 80. O fim da mania especulativa em imóveis trouxe graves conseqüências para a economia do país, já que os imóveis não são importantes para aumentar a produtividade. Os bancos que financiaram a bolha acabaram em grandes dificuldades e isso se refletiu na economia japonesa durante muitos anos.   

Apesar de tantas diferenças, um ponto parece ser comum a todas as bolhas: o comportamento dos investidores durante uma onda especulativa. Num primeiro momento, reina o ceticismo. Em seguida, vem a confiança e, por fim, a certeza. Para ilustrar isso, nada melhor do que os comentários do então presidente do Banco Central norte-americano, Alan Greesnpan, feitos à medida que a bolha da Nasdaq evoluía no final da década passada (veja abaixo).

Ao término dessa fase, os investidores americanos ficaram desiludidos com o mercado acionário e o mercado imobiliário passou a ser alternativa de investimento atraente. O aumento de preços das casas foi alimentado por uma série de fatores, dentre eles:

- a forte redução dos juros efetuada pelo banco central americano para evitar o risco de recessão em 2001/2002;

- a rápida retomada econômica observada após 2003;

- a criação de novos e criativos produtos financeiros no mercado de hipotecas: produtos com taxas variáveis, taxas menores por alguns anos e até hipotecas com amortização negativa nos primeiros anos, ou seja, não era necessário pagar nem todos os juros devidos que eram transferidos para o final do empréstimo;

- os excessos especulativos típicos de qualquer bolha: limites de crédito muito generosos, ganância de empresas, corretores e clientes frente ao ganho fácil e para completar fraude pura e simples, como por exemplo, documentação falsa na hora de obter um empréstimo residencial.

Bem antes da atual crise no mercado subprime, alguns fatores davam o sinal de alerta em relação ao mercado imobiliário. Se a queda dos juros foi o início da bolha, a alta das taxas, a partir do segundo semestre de 2004, foi a primeira agulhada. Ao mesmo tempo em que o custo dos empréstimos aumentou, a economia americana desacelerou levemente. Em condições normais, isso não seria um grande problema mas, no caso de um mercado altamente alavancado, mesmo pequenas variações contrárias foram suficientes para precipitar o estouro da bolha.

A especulação nos Estados Unidos se deu em imóveis residenciais. Se usarmos as regras descritas acima, casas não são um ativo produtivo. Por outro lado, o financiamento dessa especulação foi feito através do mercado de capitais, pois as hipotecas serviram de lastro para títulos de renda fixa vendidos ao redor do mundo, característica que reduz o impacto ruim do estouro da bolha. Como ainda estamos no meio da história, é cedo para dizer quais serão as conseqüências dessa crise para a economia americana. Só o tempo dirá se os excessos foram suficientes para derrubar a economia americana ou se a perda maior ficará contida nos especuladores mais alavancados, ou seja, aqueles que chegaram tarde demais à festa.

* André Delben Silva é sócio da Advisor Asset Management.

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