CVM questiona JBS por operações nos mercados futuros
Questionamento da CVM veio à público ontem, depois que a empresa divulgou nota sobre a reunião do Conselho Fiscal que analisou os ofícios
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2013 às 16h37.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionou formalmente o frigorífico JBS ( JBSS3 ) sobre o uso de instrumentos derivativos, nos quais se incluem mercados futuros. Em dois ofícios, a Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários da CVM afirmou que “não tem conhecimento de nenhuma companhia aberta brasileira não financeira que utilize esses instrumentos derivativos com tamanho volume, volume esse associado com mudanças constantes de exposição ao risco de direcionamento (de comprado para vendido e vice-versa)".
O questionamento da CVM veio à público ontem, depois que a empresa divulgou nota sobre a reunião do Conselho Fiscal que analisou os ofícios. Na nota, a empresa diz que o responsável pela diretoria de controle de riscos da JBS, Rafael Harada, informou que todas as operações feitas de 2011 para cá foram “celebradas com o intuito exclusivo de proteção patrimonial (hedge)”.
Os conselheiros endossaram a visão do diretor, mas recomendaram que os auditores independentes da empresa sejam informados sobre o ofício da CVM “e que seja desenvolvido trabalho específico por especialistas (auditores independentes), cujo escopo deverá aprovado pelo Conselho Fiscal, visando avaliar a adequação dos controles internos, política, procedimentos e documentações da área”.
Diferença entre hedge e especulação
Em geral, as empresas usam os mercados futuros e outros derivativos para proteger seus ativos e suas operações. Empresas que trabalham com produtos agropecuários podem travar, aqui ou no exterior, o preço futuro de seus artigos ou dos insumos que vão precisar comprar. Há ainda aquelas importadoras ou exportadoras que tentam se proteger da oscilação das moedas ou das taxas de juros, no mercado futuro de DI ou de dólar ou ainda por meio de contratos de swap ou de opções.
Nesse caso, o que a empresa perde no mercado futuro é compensado no mercado à vista, quando ela for comprar ou vender a mercadoria que precisa. Não há assim um grande risco, até o contrário, a empresa consegue garantir um determinado lucro em suas operações usando os mercados futuros.
Mas se a empresa faz os contratos de derivativos não para se proteger, mas para ganhar com a oscilação dos preços dos mercados, ela passa a ser uma especuladora, o que implica em riscos maiores para ela e para seus investidores. Por isso, desde a crise de 2008, quando Aracruz e Sadia quebraram por conta de derivativos mal administrados, a CVM acompanha a atuação das empresas não financeiras nesses mercados.
Movimentos estranhos em abril
A atuação da CVM vem pouco depois de o mercado chamar a atenção para a forte oscilação em contratos futuros de juros na BM&FBovespa por parte de empresas. Em 12 de abril, numa sexta-feira antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), uma empresa não financeira provocou alvoroço no mercado ao reverter uma elevada posição comprada em contratos de DI para janeiro de 2014 (apostando na baixa dos juros) para vendida (apostando na alta da Selic) de uma só vez e pouco antes de declarações de autoridades indicarem que as taxas poderiam subir mais que o projetado.
Na época, um operador de uma instituição financeira, que pediu anonimato, confirmou que houve uma movimentação estranha no dia 12 de abril, com um grande volume de negócios que chamou a atenção. “Não é qualquer dia que alguém entra comprando 200 mil contratos de DI futuro em 2 minutos, especialmente para um vencimento só, 2014, quando o mercado está tranquilo”, disse. “Também não é todo dia que acontece uma mudança tão drástica na composição dos contratos futuros em aberto por tipo de participante, no caso, pessoa jurídica não financeira”, acrescentou.
Esse operador disse que fez questão de analisar as posições dos investidores pessoa jurídica não financeira no dia e observou que ela havia mudado drasticamente, de uma aposta na manutenção dos juros de 250 mil contratos futuros de DI para 200 mil contratos apostando na alta, de sexta-feira para segunda-feira.
A decisão do Copom na semana seguinte, surpreendendo novamente o mercado ao subir os juros em apenas 0,25 ponto e dividido entre manter ou elevar a Selic fez o assunto ser deixado de lado, já que o ganho da empresa não teria sido tão grande.
Na semana passada, porém, um operador que também pediu para não ser identificado, chamou a atenção para o fato que, em meio à forte alta das taxas, o volume de posições vendidas em DI futuro de empresas não financeiras, de cerca de 300 mil contratos, foi praticamente zerado. “A empresa saiu do mercado”, disse o operador, que imagina quem ela seja, mas não pode garantir o nome da companhia por ser esse um dado sigiloso, disponível apenas para a BM&FBovespa. E, claro, para o órgão regulador, no caso, a CVM.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionou formalmente o frigorífico JBS ( JBSS3 ) sobre o uso de instrumentos derivativos, nos quais se incluem mercados futuros. Em dois ofícios, a Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários da CVM afirmou que “não tem conhecimento de nenhuma companhia aberta brasileira não financeira que utilize esses instrumentos derivativos com tamanho volume, volume esse associado com mudanças constantes de exposição ao risco de direcionamento (de comprado para vendido e vice-versa)".
O questionamento da CVM veio à público ontem, depois que a empresa divulgou nota sobre a reunião do Conselho Fiscal que analisou os ofícios. Na nota, a empresa diz que o responsável pela diretoria de controle de riscos da JBS, Rafael Harada, informou que todas as operações feitas de 2011 para cá foram “celebradas com o intuito exclusivo de proteção patrimonial (hedge)”.
Os conselheiros endossaram a visão do diretor, mas recomendaram que os auditores independentes da empresa sejam informados sobre o ofício da CVM “e que seja desenvolvido trabalho específico por especialistas (auditores independentes), cujo escopo deverá aprovado pelo Conselho Fiscal, visando avaliar a adequação dos controles internos, política, procedimentos e documentações da área”.
Diferença entre hedge e especulação
Em geral, as empresas usam os mercados futuros e outros derivativos para proteger seus ativos e suas operações. Empresas que trabalham com produtos agropecuários podem travar, aqui ou no exterior, o preço futuro de seus artigos ou dos insumos que vão precisar comprar. Há ainda aquelas importadoras ou exportadoras que tentam se proteger da oscilação das moedas ou das taxas de juros, no mercado futuro de DI ou de dólar ou ainda por meio de contratos de swap ou de opções.
Nesse caso, o que a empresa perde no mercado futuro é compensado no mercado à vista, quando ela for comprar ou vender a mercadoria que precisa. Não há assim um grande risco, até o contrário, a empresa consegue garantir um determinado lucro em suas operações usando os mercados futuros.
Mas se a empresa faz os contratos de derivativos não para se proteger, mas para ganhar com a oscilação dos preços dos mercados, ela passa a ser uma especuladora, o que implica em riscos maiores para ela e para seus investidores. Por isso, desde a crise de 2008, quando Aracruz e Sadia quebraram por conta de derivativos mal administrados, a CVM acompanha a atuação das empresas não financeiras nesses mercados.
Movimentos estranhos em abril
A atuação da CVM vem pouco depois de o mercado chamar a atenção para a forte oscilação em contratos futuros de juros na BM&FBovespa por parte de empresas. Em 12 de abril, numa sexta-feira antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), uma empresa não financeira provocou alvoroço no mercado ao reverter uma elevada posição comprada em contratos de DI para janeiro de 2014 (apostando na baixa dos juros) para vendida (apostando na alta da Selic) de uma só vez e pouco antes de declarações de autoridades indicarem que as taxas poderiam subir mais que o projetado.
Na época, um operador de uma instituição financeira, que pediu anonimato, confirmou que houve uma movimentação estranha no dia 12 de abril, com um grande volume de negócios que chamou a atenção. “Não é qualquer dia que alguém entra comprando 200 mil contratos de DI futuro em 2 minutos, especialmente para um vencimento só, 2014, quando o mercado está tranquilo”, disse. “Também não é todo dia que acontece uma mudança tão drástica na composição dos contratos futuros em aberto por tipo de participante, no caso, pessoa jurídica não financeira”, acrescentou.
Esse operador disse que fez questão de analisar as posições dos investidores pessoa jurídica não financeira no dia e observou que ela havia mudado drasticamente, de uma aposta na manutenção dos juros de 250 mil contratos futuros de DI para 200 mil contratos apostando na alta, de sexta-feira para segunda-feira.
A decisão do Copom na semana seguinte, surpreendendo novamente o mercado ao subir os juros em apenas 0,25 ponto e dividido entre manter ou elevar a Selic fez o assunto ser deixado de lado, já que o ganho da empresa não teria sido tão grande.
Na semana passada, porém, um operador que também pediu para não ser identificado, chamou a atenção para o fato que, em meio à forte alta das taxas, o volume de posições vendidas em DI futuro de empresas não financeiras, de cerca de 300 mil contratos, foi praticamente zerado. “A empresa saiu do mercado”, disse o operador, que imagina quem ela seja, mas não pode garantir o nome da companhia por ser esse um dado sigiloso, disponível apenas para a BM&FBovespa. E, claro, para o órgão regulador, no caso, a CVM.