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Custo de captação menor abre espaço para empresas de maior risco

Cada vez mais empresas brasileiras têm acesso ao mercado de renda-fixa internacional

Empresas de maior risco ganham espaço no mercado de renda-fixa internacional (Spencer Platt/Getty Images)

Empresas de maior risco ganham espaço no mercado de renda-fixa internacional (Spencer Platt/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2011 às 05h57.

Nova York - O menor custo de captação externa em oito meses está abrindo espaço para uma disparada nas emissões de empresas brasileiras de maior risco que nunca antes acessaram o mercado de renda-fixa internacional.

O prêmio que investidores exigem para comprar títulos corporativos brasileiros em dólar em vez de bônus do Tesouro americano caiu para 252 pontos-base, ou 2,52 pontos percentuais, na semana passada. É o menor spread desde abril, de acordo com o índice CEMBI do JPMorgan Chase & Co. O spread médio para empresas da Rússia era de 307 pontos-base e de 517 pontos-base para companhias da China, também na semana passada.

Para o Itaú Unibanco Holding SA, segundo no ranking de coordenação de emissões de dívida externa brasileira em 2010, o número de empresas que vão emitir títulos internacionais este ano pela primeira vez vai chegar a 15, comparado a oito no ano passado. Empresas brasileiras captaram US$ 36,7 bilhões com emissões internacionais no ano passado, um recorde. Os juros próximo a zero nos Estados Unidos, Japão e Europa aqueceram a demanda por investimentos de retorno maior em países da América Latina.

“Há muito apetite por novas histórias no Brasil e há bem poucos países com essa combinação de um grande apetite vindo de investidores e empresas novas prontas para acessar o mercado”, disse João de Biase, diretor de mercados de capital do Itaú Unibanco, em uma entrevista telefônica em São Paulo.

Diferencial de Juros

Os novos emissores corporativos provavelmente terão classificação de risco abaixo de grau de investimento, ou de alto risco, que equivale a uma nota menor que Baa3 pela Moody’s Investors Service e BBB- pela Standard & Poor’s, de acordo com Biase. A nota média dos títulos corporativos brasileiros denominados em dólares vendidos no ano passado foi BBB-, o mais baixo dentro da categoria grau de investimento.

A cooperativa agrícola Ceagro Agrícola Ltda., que tem classificação B pela S&P, emitiu US$ 100 milhões em títulos com retorno de 11 por cento em outubro, de acordo com dados da Bloomberg. A incorporadora BR Properties SA, com classificação de risco Ba3 pela Moody’s, pagou taxa de 9 por cento nos US$ 200 milhões de notas emitidas em setembro. Títulos corporativos americanos de alto risco rendem 7,68 por cento, de acordo com o índice U.S. High Yield Master II do Bank of America Merrill Lynch.


Investidores estão migrando para dívida corporativa e assumindo maior risco na medida em que o spread em relação às taxas de títulos do governo se estreita, disse Luz Padilla, que ajuda a administrar cerca de US$ 6 bilhões na DoubleLine Capital LP, em Los Angeles. A dívida corporativa brasileira corresponde a cerca de 13 por cento dos recursos que a Padilla administra, disse ela.

‘Se esgotou’

Os títulos corporativos brasileiros rendem 74 pontos-base mais que títulos do governo, uma redução em comparação com os 103 pontos-base em outubro, de acordo com o JPMorgan. Os títulos corporativos tiveram rentabilidade de 11,1 por cento nos 12 meses até ontem, comparado com um ganho de 10,8 por cento para papéis do governo, de acordo com dados da Bloomberg.

“As pessoas estão olhando para a dívida corporativa e vendo que há algum retorno adicional sem um risco significativamente maior,” disse Padilla em uma entrevista por telefone. “A atratividade dos spreads de juros da dívida soberana se esgotou.”

O retorno adicional que investidores exigem para adquirirem títulos do governo brasileiro em vez de títulos do governo americano era de 168 pontos-base ontem, uma queda em relação aos 250 exigidos em julho, mostram dados do JPMorgan.

Notas mais baixas

Biase disse que o banco está trabalhando com pelo menos cinco empresas que tentam emitir títulos no exterior pela primeira vez este ano. Uma delas é uma empresa de agricultura com classificação de risco B, disse ele, sem dar mais detalhes.

Houve seis ofertas de empresas brasileiras estreantes no mercado de renda fixa desde 30 de setembro, de acordo com dados da Bloomberg. Em 2099, houve apenas uma estreante.


As empresas brasileiras com notas de crédito baixas estão aproveitando o aumento na demanda mundial por ativos com retornos mais elevados num cenário em que bancos centrais de países desenvolvidos mantém as taxas de juros baixas para estimular o crescimento econômico, de acordo com o RBC Capital Markets.

‘Muita liquidez´

“Há muita liquidez por aí porque os bancos centrais em grande parte do mundo desenvolvido estão usando uma política monetária muito frouxa,” disse Eduardo Suarez, estrategista para mercados emergentes no RBC, em Toronto. “Para conseguir retornos mais elevados as pessoas começaram buscar notas de crédito mais baixas, mas esses retornos se reduziram então agora estão procurando os títulos de alto risco.”

O custo de proteção de títulos brasileiros contra não pagamento durante cinco anos caiu três pontos-base para 109, de acordo com preços da CMA. Os contratos de derivativos credit- default swaps, ou CDS, pagam ao comprador o valor de face em troca do ativo de referência ou o valor financeiro equivalente se um governo ou empresa não honrar os acordos de dívida.

O real se fortaleceu 0,3 por cento para 1.6837 por dólar americano.

O aumento nos retornos das notas do Tesouro dos Estados Unidos, a referência para emissores nos mercados emergentes, pode limitar a venda de títulos corporativos brasileiros em 2011, de acordo com a corretora MF Global Holdings Ltd, baseada em Nova York. O rendimento das notas do governo americano de dez anos vai subir em 3,86 por cento até o primeiro trimestre de 2012, partindo de 3,34 porcento ontem, de acordo com a mediana das previsões numa pesquisa da Bloomberg com 50 economistas.

‘Mais desafiador´

“Será um bom ano, mas mais desafiador para elevar o volume de 2010 por causa do aumento das taxas”, disse Michael Roche, estrategista para mercados emergentes da MF Global, em uma entrevista por telefone. “As empresas vão tentar concentrar as emissões na primeira metade do ano e depois o ritmo da demanda vai diminuir por causa da alta das taxas.”

As emissões de empresas brasileiras de grau especulativo que estreiam no mercado de renda fixa representarão uma parcela maior das captações nos próximos anos, disse Biase.

“Não acho que seja um evento isolado este ano”, disse ele. “Continuaremos a ver isso nos próximos dois anos. É uma tendência.”

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