Crescimento é mais importante para o fiscal que o resultado primário, diz Alfredo Menezes
CEO da Armor Capital avalia que país está em "uma corda bamba em que nada pode dar errado"; mercado projeta crescimento de dívida/PIB
Repórter
Publicado em 29 de abril de 2024 às 14h14.
Alfredo Menezes, CEO e fundador da Armor Capital, avalia que o crescimento se tornou mais importante para a saúde fiscal do Brasil do que o resultado primário das contas públicas. "Precisamos ter um crescimento mais robusto para a sustentabilidade da dívida. Quanto mais o PIB cresce, melhor a relação dívida/PIB: esse é o ponto principal", afirmou Menezes em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest.
"É um governo que quer crescer de todo jeito. Isso é melhor para a popularidade do presidente, do governo como um todo, aumenta a arrecadação e melhora a relação dívida/PIB", disse Menezes.
Dados mais recentes apontam que a dívida bruta do país encerrou fevereiro em R$8,301trilhões, equivalente a 75,5% do PIB. Já a relação dívida líquida/PIB foi de60,9% em fevereiro. O consenso é de que essa relação termine o ano em 63,85%.
"Temos um problema fiscal importante para frente, pois estamos muito dependentes da arrecadação e crescimento do Brasil. Se o crescimento patinar, teremos números ruins. Estamos em uma corda bamba em que nada pode dar errado", disse Menezes.
Embora reconheça a importância do PIB em relação ao primário, Menezes ressaltou que a recente mudança das metas fiscais amplificou os efeitos da recente alta do dólar no Brasil. "Cerca de 30% [da recente valorização do dólar no país] foi local. Talvez fosse melhor descumprir a meta do que mudar".
Pelo novo plano, a meta passa ser de zerar o déficit primário em 2025 ante a projeção de um superávit de 0,5% do PIB. Para os 2026, 2027 e 2028, a projeção é de superávits de 0,25%, 0,5% e 1% contra o plano anterior de gerar superávits de 1% a partir de 2026.
Os riscos fiscais e o pessimismo com a demanda da China estão entre os fatores que explicam a baixa exposição da Armor Capital ao mercado brasileiro. "Estamos praticamente sem nada de alocação no Brasil. É a menor posição em muito tempo."
As apostas da Armor
Uma das únicas posições compradas são em NTN-B, que recentemente superaram o rendimento de IPCA + 6% ao ano. "Eu acho um ativo muito bom. Possivelmente terá momento melhor, mas já dá para comprar aos poucos, pois é um preço muito atraente. Se perder dinheiro com juro real de 6% por 30 anos é melhor não ter investimento no Brasil, por que o país não consegue ser solvente pagando juro real de 6% no longo prazo."
A Armor também está pessimista com os movimentos de curto prazo do mercado brasileiro. Vendido no Ibovespa, Menezes acredita que a bolsa cai ou, no mínimo, não baterá o CDI. Para o dólar, a projeção do gestor é de que a moeda termine o ano próxima de R$ 5,40, acima do patamar atual de 5,11.
"O fluxo de moedas fortes para o Brasil sempre foi mais forte no primeiro trimestre. Mas o fluxo do primeiro trimestre foi bem mais fraco do que nos anos anteriores. No fim do ano, essa relação costuma ser muito ruim para o Brasil, com amortizações e remessas de dividendos" disse.