Com forte demanda, operadoras de saúde têm estreias bilionárias na Bolsa
Depois de ver a sua participação minguar nos últimos anos, o segmento voltou a ganhar reforço, com alta demanda por papéis
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de abril de 2018 às 08h45.
Última atualização em 26 de abril de 2018 às 10h40.
Em operações bilionárias e valorização dos papéis acima dos 20%, a estreia das operadoras de saúde Hapvida e NotreDame Intermédica na bolsa de valores essa semana colocou de novo em destaque o setor de saúde suplementar no mercado brasileiro.
Depois de ver a sua participação minguar nos últimos anos, com a saída de Medial e Amil, o segmento voltou a ganhar reforço, com alta demanda por papéis, tanto de investidores brasileiros quanto estrangeiros.
Após levantar R$ 3,4 bilhões na sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), o papel da Hapvida estreou nessa quarta-feira, 25, na B3, bolsa paulista, com alta de 22,77%, cotado a R$ 28,85. O apetite pelas ações superou sete vezes a oferta.
De acordo com o presidente da companhia, Jorge Pinheiro, foi a maior oferta da saúde suplementar no Brasil.
Com forte presença no Nordeste, líder na região e também no Norte do País, a companhia planeja expandir seus negócios também para a região Sudeste. "Aquisições podem ser uma estratégia, já que o setor é ainda muito pulverizado", afirmou o executivo.
O plano, segundo Pinheiro, é manter o perfil verticalizado do negócio, formado por rede de hospitais próprios, que atraiu os investidores ao longo do roadshow (rodadas de apresentações a investidores). Grande parte da oferta foi primária, ou seja, com os recursos indo direto para o caixa da empresa.
Tendência
Controlada pelo fundo Bain Capital, a NotreDame Intermédica, que chegou à bolsa na segunda-feira, teve performance similar à rival, com demanda superando em cinco vezes o volume de ações ofertadas e disparada de 22,73% no preço de estreia do papel, com a ação cotada a R$ 20,25. Nessa quarta-feira, no entanto, o papel recuou 3%.
Durante cerimônia de estreia da companhia na B3, que marcou o primeiro IPO da bolsa brasileira neste ano, o presidente do Grupo NotreDame Intermédica, Irlau Machado Filho, lembrou que, desde a chegada do fundo americano Bain Capital, a operadora traçou um "ambicioso" plano de aquisições e "maciço" investimento em rede própria de atendimento. "Isso permitiu triplicarmos de tamanho nos últimos quatro anos", afirmou.
O interesse dos investidores no setor fica também evidente sob o prisma da seletividade do mercado. Neste ano, dois IPOs foram suspensos por falta de demanda, o da Blau Farmacêutica e o da varejista de brinquedos Ri Happy.
Dom da multiplicação
Com elevada demanda dos investidores, os múltiplos da NotreDame passaram de 17 vezes o lucro estimado para a companhia em 2018, enquanto que os da Hapvida chegaram a 20 vezes, sem contar com a valorização dos papéis no primeiro dia de negociação.
Com isso, a operadora do Nordeste vai estrear na bolsa valendo duas vezes a SulAmérica, tradicional no setor, cujas ações na bolsa brasileira estão sendo negociadas a um múltiplo de mais de 11 vezes. Segundo um analista do setor, o patamar das estreantes está bem acima da média dos últimos 5 anos do setor, que ficou abaixo de 9 vezes.
Para justificarem o múltiplo bem mais elevado, porém, Hapvida e NotreDame Intermédica terão o desafio de entregar lucros crescentes. "Certamente controle de custos será uma prioridade ainda maior, com uso intensivo de tecnologia e recursos de inteligência artificial, sobretudo na gestão de sinistros", avalia um especialista do mercado.
Rede própria
Nesse contexto, o modelo verticalizado de atuação dessas operadoras pode servir de vantagem. Isso porque esses players operam com uma rede integrada com hospitais próprios, que permite custos mais acessíveis, blindando-os dos impactos inflacionários do setor de saúde. A NotreDame possui uma rede com 18 hospitais próprios.
No passado, o grupo de empresas com atuação no setor de saúde suplementar era bem maior na bolsa. As operadoras Amil e Medial, a última adquirida pela primeira em 2009, tinham capital aberto. Depois, a empresa foi comprada, em 2012, pela norte-americana UnitedHealth, que a deslistou do mercado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.