Clube recebe gestor da Legacy: juros não devem produzir recessão nos EUA
Em entrevista ao videocast Clube, da EXAME Invest, Felipe Guerra defendeu que a economia americana deve continuar crescendo, mesmo com juros mais altos, e que recessão não deve ocorrer no curto prazo
Bianca Alvarenga
Publicado em 25 de maio de 2022 às 15h52.
Última atualização em 25 de maio de 2022 às 16h02.
De grão em grão, o Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos ) deve levar os juros do país para o maior nível em mais de uma década. O aperto monetário, motivado pela disparada da inflação, é observado com cautela pelo mercado financeiro, em razão do risco de provocar, como consequência, uma recessão econômica.
Para Felipe Guerra, sócio e fundador da gestora Legacy, o trabalho do Fed ainda está no começo, mas ainda que os juros cheguem aos 3%, como é esperado, o efeito recessivo não será tão significativo como se espera.
"Nossa leitura é que há um exagero nesses cálculos de uma recessão no curto prazo nos EUA. Não vai ser um juro de 3% que vai sufocar a economia, principalmente considerando que o consumo está aquecido e o desemprego continua caindo", defendeu o gestor.
Ele reforça que a economia americana deve, sim, enfrentar uma janela mais contracionista no ano que vem, mas que isso não é suficiente para motivar a venda de ativos na bolsa no curto prazo.
Felipe Guerra foi o convidado do 30º episódio do videocast Clube, produzido pela EXAME Invest. Durante a entrevista, Guerra defendeu, ainda, que a desaceleração da economia dos Estados Unidos deve ser compensada, em partes, pelo crescimento da China.
Na visão do gestor, o país asiático deve retirar gradualmente todas as medidas sanitárias impostas para conter a nova onda de covid-19, e que o investimento em vacinas com taxas de eficácia maiores deve reduzir o número de surtos e quarentenas no futuro.
Essa virada no quadro, associada ao plano de incentivos ao setor de infraestrutura (especialmente o de construção civil) deve impulsionar ainda mais a economia chinesa e, consequentemente, os preços das commodities. A gestora montou uma posição em ações de empresas do setor, principalmente em energia.
Estratégia da Legacy para o Brasil
A menos de cinco meses do primeiro turno das eleições, os investidores da bolsa parecem mais focados, ainda, na discussão sobre juros e inflação. Nas contas da Legacy, a corrida presidencial não está precificada de forma equilibrada, o que tem afetado os preços de empresas estatais na bolsa.
"A Petrobras (PETR3 / PETR4) e o Banco do Brasil (BBAS3) estão negociando com múltiplos de 2015. No caso do BB, era uma época em que o banco tinha uma inadimplência altíssima, e o mercado discutia até se os bonds do banco seriam solventes", lembrou Guerra.
Ele diz que a realidade do BB agora é completamente diferente: o banco trabalha com uma inadimplência menor que a do Itaú e Bradesco, tem um índice de Basileia melhor, e está distribuindo dividendos na casa dos 15%.
Para Guerra, a explicação para o pessimismo é a visão do mercado de que as chances de vitória do candidato do PT, o ex-presidente Lula, são maiores, o que poderia trazer a intervenção do governo de volta às estatais.
Veja abaixo o epidósio completo do Clube Invest desta semana: